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A Lista Dos Perfis Psicológicos. Juan Moisés De La SernaЧитать онлайн книгу.

A Lista Dos Perfis Psicológicos - Juan Moisés De La Serna


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Bom, parabéns, continuem assim. ― Eu disse, tentando acabar com aquela situação desconfortável, pois era a primeira vez que ia a uma dessas representações alternativas, ou lá como se chamava.

      Raramente ia a lugares artísticos, mas quando o fazia, procurava sempre que fossem obras de companhias internacionais.

      ― Espere! ― Disse a jovem, segurando-me pelo braço do casaco. ― O que é isto?

      ― O quê? ― Perguntei surpreso.

      ― Este anel e este bilhete? O que quer isto dizer? ― Perguntou desconfiada enquanto o retirava da caixa.

      ― Não faço a mínima ideia, veio com a caixa ― afirmei sem saber o motivo da sua desconfiança.

      ― Deixámos a caixa no parque para que quem quisesse nos pudesse vir ver e assim ficarmos a saber a sua opinião, mas não colocamos isto lá ― referiu o primeiro ator.

      ― Pois posso garantir-lhes que isso já estava aí dentro quando recebi a caixa ― insisti.

      ― Tome! ― Disse a rapariga, entregando-me ambos os objetos.

      ― E o que quer que faça com isto? ― Perguntei contrariado ao ver que não lhes pertencia.

      ― Não sei, mas não é daqui. Agradecemos a sua visita e a sua opinião acerca da nossa representação ― afirmou a rapariga enquanto me indicava o palco com um gesto de mão.

      ― Acompanhe-me à saída ― falou o terceiro bailarino, enquanto caminhava diante de mim.

      Segui-o até à saída, atravessando o caminho estreito e após cruzar a porta, voltei-me e a única coisa que recebi daquele homem foi:

      ― Mais diálogo? O que é que você sabe de balé?

      Após dizer isto fechou a porta e deixei-me ficar ali por uns segundos a observá-la antes de me voltar e olhar à minha volta.

      A rua estava quase toda às escuras, à exceção de alguns estabelecimentos de bebidas e de jogos, desses que ficam abertos vinte e quatro horas.

      Olhei para ambos os lados e não vi um único carro. Olhei para o relógio e fiquei admirado ao ver que já tinha passado mais de uma hora desde que saíra do meu escritório.

      “E onde é que encontro um táxi a estas horas?” Disse para mim próprio enquanto começava a caminhar rua acima, à espera de que passasse algum.

      Como o ar começava a ficar mais fresco, subi a gola do casaco e meti as mãos nos bolsos, quando me apercebi de que trazia aquele anel. Retirei-o, e com dificuldade, reparei que tinha algo gravado. Algo de que não me tinha apercebido antes, mas que também não conseguia ver bem com aquela luz fraca.

      Voltei a guardá-lo no bolso e com a mão, toquei no bilhete e apercebi-me de que continha um certo relevo numa das suas pontas. Retirei-o e pus-me a observá-lo, mas não vi nada.

      “Pode ser que dê para ver melhor debaixo da luz”, disse para mim, enquanto o levantava na direção de um candeeiro, que a vários metros de altura, fazia os possíveis por manter a rua iluminada.

      ― Nada, assim também não dá para ver. ― Afirmei após tentar observá-lo de vários ângulos.

      Estava entretido naquilo quando a rua se começou a iluminar e reparei que um carro se aproximava. Guardei depressa o pedaço de papel e fui tentar pará-lo.

      ― Táxi! Táxi!… ― Gritei, enquanto abanava as mãos no ar para que me visse.

      ― Precisa de um táxi, senhor? ― Perguntou o condutor, parando do meu lado.

      ― Sim, obrigado ― afirmei aliviado enquanto entrava para a parte traseira do carro.

      ― Para onde quer ir?

      ― Para o Hotel Plaza.

      ― Teve sorte de eu passar por aqui, não é uma zona muito recomendável.

      ― Pois, estou a ver que não ― eu disse, vendo que se tratava de um bairro negligente.

      ― Está cá de visita? ― Perguntou o taxista.

      ― O quê? ― Devolvi, enquanto observava o bairro que atravessávamos.

      ― É a sua primeira vez cá na cidade? ― Insistiu.

      ― Não, eu moro cá.

      ― Onde? No hotel? ― Perguntou o taxista num tom de brincadeira.

      ― Sim, isso mesmo. ― Afirmei decisivo.

      ― Desculpe, mas não estou a perceber ― disse o homem surpreendido.

      ― Há anos que vivo lá, e dessa forma posso concentrar-me no meu trabalho sem a necessidade de me distrair com coisas desnecessárias como as lidas domésticas.

      ― Que trabalho pode ser assim tão absorvente? ― Perguntou o taxista curioso.

      ― Sou psiquiatra ― respondi, enquanto baixava a gola do casaco.

      ― Psi… quê? Dos loucos? ― Perguntou, soltando uma gargalhada.

      ― Aquele que trata da saúde mental dos cidadãos desta cidade ― salientei sem me deixar afetar por aquele comentário jocoso, que nem sequer era dos mais ofensivos que já tinha suportado.

      ― Bem, não interessa, e isso dá-lhe para viver num hotel? Você deve ganhar bem ― ele disse, enquanto fazia um gesto com os dedos indicador e polegar, indicando dinheiro.

      ― Nem por isso, mas como não tenho outros gastos, posso-me dar a esse luxo.

      ― Ah! Sim, estou a ver! ― Afirmou o taxista, mostrando um sorriso brincalhão.

      ― Se você fizesse contas do que gasta com o aluguer ou hipoteca, mais os gastos de luz, água, seguros e comida, provavelmente optaria por uma solução como a minha ― afirmei, fazendo-o ver as vantagens daquilo.

      ― Se dissesse à minha mulher que íamos viver para um hotel, a primeira coisa que ela me perguntaria era se tinha ganhado a lotaria ― o homem brincou.

      ― E a segunda? ― Perguntei, seguindo a sua piada.

      ― O que faria com a minha sogra. ― Respondeu às gargalhadas.

      ― Tem uma família grande? ― Perguntei intrigado.

      ― Grande? Se contar com a minha mulher, a minha sogra, os tios e os primos, sim. Quando nos reunimos todos, somos dez. E vem outro a caminho. E você, não é casado? ― Perguntou divertido.

      ― Não. Quer dizer, já fui, mas ela abandonou-me.

      ― Ah, lamento ― afirmou o taxista, mudando de tom.

      ― Não lamente, ela fugiu com outro enquanto eu estava num congresso.

      ― Está a falar a sério?

      E começamos os dois a rir daquela situação tão absurda. Até que se seguiu um momento de silêncio, quase tão desconfortável como o que senti quando voltei para casa naquele dia e encontrei o bilhete de despedida da minha mulher, a dizer: “Espero que consigas tudo o que queres, eu também vou tentar, por isso vou-me embora”.

      Eu andava sempre com o bilhete na carteira, para todo o lado que ia, mas ainda não tinha chegado a mostrá-lo a ninguém, talvez por vergonha ou por medo de partilhar os meus sentimentos. Era óbvio que ela não era feliz comigo e que queria “explorar novos horizontes”.

      Assim, quando cheguei a casa, e após dar-me conta da situação, peguei na mala que trazia comigo do congresso e fui para o Hotel Plaza, onde me deixei ficar até hoje.

      Não me via a viver naquela casa sem ela. Tanto silêncio, tanta solidão, naquela casa que tínhamos comprado com tanta expectativa. Onde íamos ter os nossos filhos, vê-los crescer, e que seria a nossa morada até os últimos anos das nossas vidas. E com apenas dois anos de casamento, tudo acabou desta


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