Cian. Charley BrindleyЧитать онлайн книгу.
alguns momentos, ou horas, mas o miado suave de seu filhote a acordou de um sono profundo. Enquanto ela se esforçava para levantar a cabeça e olhar em volta na escuridão, ela viu seu filhote por perto. E adivinhem onde ele estava?
– Onde, onde? – as duas garotas exclamaram juntas.
– O filhote dela estava nos braços de uma garota humana, sentada de pernas cruzadas, assim como você, a apenas alguns metros de distância.
– Caramba! – Rachel gritou.
– Sim, caramba mesmo. – disse Cian —Quando Miki-Leya viu seu bebê nas mãos de uma humana, ela encontrou aquela reserva escondida de força e ficou de pé. Ela odiava todos os humanos, e se algum deles tentasse levar seu gatinho… bem, seria o fim dessa pessoa, seja criança ou não. Ela estava preparada para rasgar a garota em pedaços mesmo que fosse apenas para tocar uma última vez em sua cria. Quando ela rosnou e deu um passo à frente, a garota gritou de terror e puxou o gatinho para perto do peito. Ao som do grito da menina, os urubus voaram para longe sobre as águas escuras.
Miki-Leya levantou lentamente a pata da frente, com as garras afiadas estendidas, pronta para arrancar o coração da garota. A menina recuou, tentando evitar o alcance da mãe felina furiosa.
– Não, não – Rachel e Magnalana choraram quando suas mãos se agarravam.
– Mas, quando Miki-Leya estava prestes a atacar a garota, o grande gato caiu na grama, ofegante. Ela não conseguiu mais se mexer, apenas seus olhos se mexeram quando ela olhou com ódio cruel para a pequena menina.
– Qual é o nome da garota? – perguntou Magnalana.
– Bem… – Cian hesitou, sua mão com a tesoura pousando no meu ombro – Eu acho … – Ela começou de novo.
Eu olhei para ela e vi em seu rosto um conflito de sentimentos.
Que estranho, pensei e não traduzi nenhum de seus falsos inícios.
Cian raramente era incomodada por emoções, só a vi por três vezes perturbada. A primeira foi depois que ela encontrou os ossos de sua mãe na rede podre da vila, e a segunda vez foi quando eu a encontrei, sozinha em nossa cabine no navio, soluçando e esfregando o toco de sua perna direita.
Ela estava no meu beliche, onde preferia dormir quando era meu turno. Trouxe-a para os meus braços, mas não falei nada. Cada vibração e tremor do corpo de Cian era tão familiar para mim quanto os meus; ela queria conforto, não conversa. Depois de alguns minutos, ela limpou as bochechas e me beijou. Ela se sentou e eu a ajudei com o suporte de couro que ela havia formado para a perna. Foi projetado para amortecer a extremidade de seu membro de madeira depois de ter sido preso pelas tiras que envolviam seu joelho e a parte inferior da coxa.
– Dói frequentemente? – eu perguntei.
– Sim. – Ela afastou os cabelos do rosto enquanto terminava com as tiras de couro – Especialmente quando o tempo está mudando.
Esse era o máximo da extensão de qualquer reclamação que eu alguma vez ouvira dela.
– O barco salva-vidas está vazio?
Ela pegou minha mão e a pressionou contra o peito.
Em resposta, eu apenas sorri e a conduzi porta afora, depois seguimos à popa de estibordo, onde um barco salva-vidas de seis metros estava preso ao convés, com a lona solta em uma extremidade.
Uma criança impaciente nos levou de volta ao telhado da casa do leme e à história de Cian. Tão rapidamente quanto seu rosto pesara, ela afastou as lembranças com um aceno do pente e voltou a cortar.
– Vamos chamar a garota de Ravana.
– Esse é o nome verdadeiro dela? – perguntou Magnalana.
– Eu acho que o nome dela é Kate – disse Rachel.
– Não, Kate não. – disse Magnalana – Você acha que é sua mãe, Kaitlin?
–Não, eu não. Só gosto de Kate.
– Bem – disse Magnalana – Acho que Sierra é um bom nome para uma garota nativa.
– Desculpem, por favor. – Foi a primeira vez que Billy falou e isso nos pegou de surpresa – Eu acho que o nome dela é Cian.
Assim que olhamos para o garoto e sua estranha declaração sobre o nome da garota na história, tivemos que nos voltar para Cian e ver se ela refutaria uma ideia tão ridícula como a que o garoto sugerira.
Cian nos ignorou categoricamente, ela apenas colocou as mãos nas minhas têmporas, gentilmente virando minha cabeça para frente e continuou cortando meus cabelos. Ela ficou em silêncio por um momento antes de retomar sua história, deixando-me, e talvez às crianças também, para pensar se essa história era realmente ficcional. Cian era uma contadora de histórias talentosa, e eu suspeitava que ela estivesse tecendo um pouco de melodrama apenas para adicionar emoção à sua contação.
–Ravana viu, imediatamente, que a onça-pintada estava perto da morte, e ela sabia que se a mãe morresse o gatinho também morreria.
– Qual era a idade de Ravana? – perguntou Rachel.
– Ah, ela deveria ter onze temporadas, talvez doze —respondeu Cian —A selva fornece muitas coisas para comer, mas a única coisa que não pode dar é o leite materno. O bebê ainda não tinha idade para comer carne e, sem a mãe para alimentá-lo, ele certamente morreria.
– Onde estava a mãe de Ravana? – perguntou Magnalana – Talvez ela possa ajudar.
– Kasan, esse era o nome de sua mãe, havia deixado a vila naquela manhã. Ela foi às colinas de Calva para colher raízes de amora. Como você vê, Kasan era uma curandeira e precisava das raízes para fazer um preparado para as articulações duras e doloridas do velho chefe. As amoras crescem apenas no lado da tarde das colinas de Calva, então seria noite antes mesmo que ela voltasse. Na sua ausência, ela dissera à filha que ela, a menina, deveria entrar na floresta e reabastecer o suprimento de folhas, castanhas e raízes medicinais. A garota pegou sua bolsa de remédios e, quando sua mãe saiu pela trilha norte que levava às colinas de Calva, Ravana caminhou pela trilha sul que levava às margens do rio Mãe.
– O que é esse Rio Mãe, afinal? – perguntou Magnalana.
– Esse é o significado de Amazonas, sua bobinha – disse Rachel – Eu acho que você sabe qual é.
– Ah.
– Ravana juntou folhas a manhã toda e, ao meio-dia, acendeu o fogo e espalhou as folhas para secar nas pedras planas que havia arrumado ao redor da fogueira. Então ela espetou os quartos traseiros de uma anta que ela havia flechado mais cedo e inclinou a carne perto das chamas para assar enquanto ia a um riacho próximo pegar água. Após a refeição, ela examinou as folhas e descobriu que precisavam de mais tempo no fogo. Então, ela colocou o restante da anta em sua mochila de caça e pegou sua bolsa de remédios, pois sabia que nunca deveria deixar a valiosa bolsa muito longe de seu alcance. Ela então passou o arco por cima do ombro e deixou as folhas secando enquanto seguia descendo o Rio Mãe. Parava ocasionalmente para cavar raízes de urucum e, no final da tarde, alcançara a pequena clareira de grama marrom e quebradiça nas margens do rio.
Nesse ponto, Cian tirou alguns cabelos da minha bochecha e, com um floreio de mágico, tirou o pano dos meus ombros.
– Prontinho, acabamos.
– Não, não! – as três crianças choramingaram.
– E Tribi-Leya?
– Temos que ouvir o resto!
– Mas não há mais cabelo para cortar e em breve será a hora da janta.
– Corte o meu, corte o meu – disse Magnalana enquanto me puxava do banquinho e tomava meu lugar —Nós não