Tempo de esperança. Daphne ClairЧитать онлайн книгу.
ou apenas o fizeste para o deixares nervoso?
– Não sejas ridículo.
Ele afastou-se da janela, com um brilho feroz nos olhos.
– Ridículo?
– Ridículo, sim!
Talvez fosse a segurança no seu tom de voz, talvez o brilho dos seus olhos verdes, mas Zito deteve-se. Roxane nunca se tinha atrevido a repreendê-lo dessa forma.
– Quem é a noiva? Tu? Se és tu, esqueceste-te de um pequeno detalhe.
Ela ficou tão surpreendida que soltou uma gargalhada.
E, novamente, reparou que o tinha deixado nervoso.
Nunca tinha visto Zito a perder a calma no espaço de… dez minutos?
Era uma sensação muito peculiar.
– Quem telefonou foi o meu chefe. Dedicamo-nos a organizar eventos, sobretudo para grandes empresas, mas pediu-me que organizasse uma festa familiar para o filho de um cliente.
Zito olhou para ela como se estivesse a tentar decidir se devia acreditar ou não. Depois deixou-se cair no sofá, passando uma mão pelo cabelo.
Roxane sentou-se no braço do cadeirão, a seu lado, e cruzou as mãos. Umas mãos sem aliança, sem anel de comprometida.
Quando levantou o olhar, ele estava apoiado nas costas do sofá, com as longas pernas esticadas.
– Comportei-me como um idiota. Como um autêntico idiota.
Surpreendida pela confissão, Roxane ficou a olhar para ele sem dizer nada.
– Deveria ter-me aproximado de ti quando desceste do autocarro.
– Em vez de me pregares um susto de morte?
– Quando soubeste que era eu?
Quando lhe chamou «querida» com a sua inesquecível voz rouca que ela sempre tinha imaginado com o sotaque italiano dos seus antepassados, embora os seus pais tivessem nascido na Austrália.
– Antes de dar-te a bofetada – respondeu.
Ele sorriu suavemente, sem olhar para ela, despertando emoções antigas. Emoções que não devia despertar.
– Já vejo.
– O que fazes na avenida Ponsonby? Na realidade, o que fazes em Auckland?
– Estamos a pensar em abrir uma cadeia de restaurantes na Nova Zelândia. E estava a jantar no GPK.
– Vigiando a competência?
O avô de Zito tinha chegado à Austrália sem um cêntimo e lavou pratos até que abriu o seu próprio restaurante e depois outro e outro. O negócio familiar converteu-se numa instituição australiana que valia milhões de dólares.
E estavam a pensar em expandir-se na Nova Zelândia…
– Estava a misturar os negócios com o prazer – disse Zito.
– Ah, estavas com uma mulher – murmurou Roxane.
Claro que não tinha jantado sozinho. E, claro que a sua acompanhante teria sido uma mulher.
– Uma mulher que não penso ver mais.
– Não me surpreende… se a deixaste sozinha a meio da refeição – replicou ela, sentindo uns ciúmes que não tinha o direito de sentir. – Que desculpa lhe deste?
– Desculpei-me, paguei o jantar e disse-lhe que telefonaria amanhã.
Roxane quase que soltou uma gargalhada.
– Terás sorte se voltar a dirigir-te a palavra.
– Envio-lhe um ramo de flores.
– Ah, claro, e então fica tudo esquecido. Irá logo comer na tua mão.
– Já te disse que não penso voltar a vê-la. É apenas uma conhecida… nada mais.
Que seguramente esperava ser muito mais, Roxane não tinha dúvidas. Essa mulher não sabia que tinha escapado por um fio.
Mas estava a ser injusta. Uma mulher mais velha, mais sofisticada, mais segura de si própria poderia ter sido muito feliz com Zito… e poderia tê-lo feito muito feliz.
– No que pensas, Roxane?
– Em nada. Não comi nada desde o almoço. Tenho fome.
Essa resposta, que devia ter saído do seu subconsciente, por alguma razão, pareceu deixá-lo zangado.
– Quando vais aprender a cuidar de ti própria?
– Já o faço – replicou ela. – Se não me tivesses atacado estaria agora mesmo a jantar tranquilamente.
– Onde está a cozinha?
– O quê?
– É indiferente – disse Zito, levantando-se. – Eu encontro-a.
– Zito… – murmurou Roxane, seguindo-o pelo corredor. – Espera um momento, não preciso que me faças o jantar.
Ele voltou-se, com um sorriso nos lábios. Gerações de carismáticos italianos tinham produzido aquele sorriso irresistível.
Pegando-lhe no braço, meteu-a na cozinha e sentou-a numa das cadeiras de madeira.
– Eu também tenho fome. Não precisas de cozinhar. Senta-te aí e diz-me onde está tudo.
Zito tirou o casaco e a gravata, que deixou sobre uma cadeira, e arregaçou as mangas da camisa, mostrando uns antebraços morenos e fortes, enquanto lavava as mãos.
Aquilo não podia estar a acontecer. Não podia ser. Devia de ter ficado a dormir no escritório. Era um pesadelo. Zito Riccioni não estava na sua cozinha a abrir os armários para mexer nas caçarolas, perguntando-lhe se tinha tomates, cebolas, alhos…
– No cesto, ao lado do frigorífico – respondeu automaticamente.
Ele pegou num punhado de alhos e levou-os até ao nariz. Faz sempre isso, procurar a frescura dos produtos, como lhe tinha ensinado o seu avô.
Durante o dia livre dos empregados da sua mansão de Melbourne, levava-a à espectacular cozinha para fazerem o jantar juntos.
«Cheira isto», dizia aproximando algo à sua cara: pimenta recém moída, algumas especiarias exóticas ou alguma erva recém encontrada no mercado.
Cortava alguma fruta ou verdura e provava-a antes que ela a provasse.
Às vezes, Roxane mordiscava os seus dedos, convidando-o a que fizesse o mesmo. Mais tarde, ele prometia-lhe um erótico castigo, na cama.
Mas nem sempre esperava pelo fim do jantar e, às vezes, voltavam para a cozinha depois de revolverem os lençóis. Então, a comida ainda sabia melhor.
Fazer a comida tinha sido uma espécie de jogo sexual, uma arte que Zito praticava com a mesma alegria, com a mesma satisfação com que fazia amor.
Uma arte que não desaparecia com os anos, pelos vistos. Apesar da sua casa ser pequena, demonstrava a mesma competência que na sua enorme cozinha com metros e metros de comprimento e vários electrodomésticos..
Um pesadelo? Não, melhor, um bonito sonho, mas insuportavelmente nostálgico.
Uma vez disse-lhe que o seu estilo de cozinhar era como o de um bailarino russo, disciplinado e ocasionalmente extravagante.
«Nem todos são homossexuais?», tinha-lhe perguntado ele.
«Nem todos», protestou ela.
Zito fazia-se passar por ciumento, exigindo saber como sabia e, por fim, levava-a para cama para provar que ele era inegavelmente heterossexual.
Capítulo 3
Inconscientemente,