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Malícia de Mulher. Barbara CartlandЧитать онлайн книгу.

Malícia de Mulher - Barbara Cartland


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que levava a Dower House.

      Dower House tinha sido construída durante o reinado de Carlos II e, embora não fosse tão imponente como Merlyncourt, era também uma bonita mansão. No alto dos portões estavam gravados leões heráldicos e, na parede da casa, podia-se ver o mesmo brasão de Merlyn.

      As reformas e melhorias que o pai de Lucretia tinha feito dobraram o tamanho da casa e a tomaram muito confortável e excecionalmente luxuosa.

      A moça desceu do coche em frente da porta principal e deu as rédeas para um dos criados.

      —Obrigada, Gerrie.

      —Vai montar a cavalo esta tarde, senhorita?

      —Acho que sim. Traga os cavalos por volta das duas horas.

      —Muito bem.

      O criado fez uma pequena reverência e outro apareceu para ajudar Lucretia a subir os degraus. Entrou no hall onde uma magnífica escada de carvalho contrastava com uma lareira em mármore.

      —Sir Joshua está na biblioteca, senhorita— disse o mordomo.

      Lucretia encontrou o pai sentado à escrivaninha.

      Levantou assim que a viu entrar e Lucretia deu-lhe um beijo carinhoso.

      —Comprou o cavalo que queria?— perguntou ela.

      —Comprei três. Acho que você vai gostar. Um deles é um campeão.

      —Se você ganhar mais corridas, o Jockey Club vai acabar convidando-o a se retirar do turfe. Você tem tanto sucesso, papai!

      —Costumo dizer que o sucesso que obtenho em tudo que faço é unicamente fruto do cuidado com que planejo e organizo as coisas.

      Enquanto falava, foi para junto da janela. Era um homem muito atraente e cheio de personalidade. O cabelo que começava a ficar grisalho dava-lhe um ar distinto que nunca teve na juventude. Vestia-se muito bem, e tudo nele transpirava sucesso e prosperidade, embora não fizesse alarde disso e só tentasse mostrar seu bom gosto.

      —Quero falar com você, Lucretia.

      —Aconteceu alguma coisa? O que foi?

      Era tão ligada ao pai desde a morte da mãe, que conhecia a menor entoação de sua voz e todas as expressões de seu rosto.

      Tirou o casaco e colocou-o cuidadosamente em cima de uma cadeira, soltou as fitas de seda que seguravam o pequeno chapéu e foi para junto do pai.

      —Você é muito bonita, Lucretia, e, como sabe muito bem, sempre quis para você tudo que há de melhor.

      —Você sempre me deu tudo.

      —Pelo menos, tentei. E agora, acredito que algo que planejei para você há muito tempo está prestes a se concretizar.

      —Planejou para mim? O que é?

      —Seu casamento!

      Lucretia ficou quieta, olhando para ele. Depois repetiu, incrédula:

      —Disse... meu casamento?

      —Sim, disse. Sente, Lucretia, quero lhe falar sobre isso.

      Ela obedeceu, automaticamente, e ficou olhando para o pai, intrigada. Seus olhos estavam muito abertos e surpresos, como se ele tivesse acabado de pronunciar as últimas palavras que esperava ouvir.

      Sir Joshua pareceu hesitar um pouco.

      —Lembra que, quando comprei esta casa, há quatro anos, você e sua mãe ficaram muito admiradas por eu ter escolhido um pequeno lugar como este no campo, quando podia muito bem comprar alguma coisa bem maior e mais imponente?

      —Sim, lembro de mamãe ter comentado esse assunto. Lembro também que você disse que gostaria muito de morar aqui, mas nunca nos disse por quê.

      —Escolhi esta casa porque ela pertencia a Merlyncourt.

      —E o antigo Marquês gostava muito de você, papai?

      —Ele gostava muito daquilo que eu podia lhe dar. Era um jogador, Lucretia, e todos os jogadores precisam de amigos ricos.

      —Quer dizer que você lhe dava dinheiro?

      —Emprestava— corrigiu Sir Joshua.

      —Então, foi assim que o convenceu a vender esta casa e a terra que durante tantas gerações pertenceu à família dele?

      —Sim, foi assim que consegui. Também incluí no trato, dois cavalos meus que o Marquês queria muito. Um deles, você deve lembrar, ganhou o Derby e o outro teve ótimo desempenho em Newmarket. Teriam feito ainda mais, se o dono não os tivesse vendido.

      —Mas por que fez tudo isso, papai?

      —Porque, minha querida, eu queria que você se tornasse a Marquesa de Merlyn.

      —Quer que eu case com o atual Marquês?

      —É um jovem muito agradável. Tem muita classe e posição que eu queria para a minha filha. Além disso, todos gostam dele, o que também é muito importante.

      Lucretia desviou o olhar para o jardim.

      —Não posso acreditar, papai, que você planejou tudo isso quando eu tinha apenas catorze anos.

      —Catorze anos, sim, mas sempre a minha única filha. A pessoa que, depois de sua mãe, eu mais amo neste mundo.

      —Mas como é possível que se escolha um marido para alguém, pelo muito que se ame essa pessoa? Primeiro, eu posso não gostar do Marquês, que nunca sequer vi; depois, estou convencida, papai, de que ele não tem a menor vontade de casar comigo.

      —É aí que se engana. Tenho sido esperto, muito esperto, Lucretia!

      Falou com uma satisfação infantil que ela conhecia muito bem. Uma das coisas que mais a enterneciam no pai era que não conseguia resistir a se gabar um pouco daquilo que conseguia. Ficava ansioso pela aprovação da filha, sempre que fechava um bom negócio, descobria uma antiguidade para a casa ou que um dos planos que arquitetava meticulosamente dava certo!

      Lucretia não conseguiu deixar de sorrir, ao dizer:

      —O que foi que você andou fazendo, papai?

      —Quando resolvi que você devia casar com o Marquês, sabia muito bem que seria difícil. Ele tem reputação de conquistador e frequenta a sofisticada sociedade que gravita em torno de Carlton House. Uma sociedade que não receberia de bom grado uma garotinha de sua idade!

      —Já me disseram isso— murmurou Lucretia, lembrando da conversa que acabava de ter com Elizabeth.

      —Sabia muito bem que, se quisesse que o Marquês andasse atrás de você, teria que jogar as cartas com muito cuidado.

      —Que cartas?

      —Eu tinha dois trunfos— respondeu Sir Joshua, com um olhar maroto—, o primeiro era dinheiro e o segundo era Jeremy Rooke!

      —Jeremy Rooke? O que ele tem a ver com tudo isso?

      Sir Joshua riu. Foi uma risada de garoto travesso.

      —Fiz com que a sociedade e o próprio Marquês acreditassem que você está prestes a anunciar seu noivado com ele.

      —Elizabeth me disse, esta manhã, que as pessoas estão falando sobre nós! Papai, como pôde fazer uma coisa tão inacreditável? Sabe que eu preferiria morrer, a casar com Jeremy Rooke!

      —E eu preferiria vê-la dentro de um caixão do que casada com aquele porco!

      Lucretia olhava para o pai, completamente desconcertada. Ele continuou:

      —Mas o que você e eu sentimos a respeito de Rooke não é nada, comparado com o que sente a própria família dele. Sei que o Marquês já pagou as dívidas do primo dúzias de vezes! E sei também que a Condessa de Brora não quer nem ouvir falar o nome dele! Nenhum parente tem uma palavra agradável a seu respeito.


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