A meio da noite - Segura nos seus braços. Margaret WayЧитать онлайн книгу.
parte para recuperar o fôlego. Doíam-lhe os braços. Perguntou-se como podiam umas quantas camisas enrugadas pesar tanto.
– Pensei que era bastante óbvio, não? Estou a expulsar-te daqui.
A expressão da cara dele era clássica. Se não estivesse disposta a matá-lo, desataria a rir-se.
– Não podes expulsar-me. Eu também vivo aqui.
– Já não. Podes procurar outra pobre desgraçada para enganar. Para mim, acabou-se.
Ao compreender as implicações das suas palavras, perguntou-se se realmente quatro anos de casamento tinham chegado àquele ponto. Olhou para Nick e sentiu-se pior, pois as suas palavras tinham-lhe apagado as covinhas da cara. Devia sentir-se satisfeita por ele finalmente ter compreendido, porém, de repente, sentiu lágrimas nos olhos.
– Lamento muito, Adele. A sério. Devia ter dito à minha mãe… qualquer coisa – abanou a cabeça. – Mas ela ama-te como a uma filha e não quis perturbá-la. Não está muito bem…
Engoliu o resto da frase e ela sentiu o coração apertado ao vê-lo lutar com as palavras.
– Esteve… quer dizer, ia sentir-se muito triste por nós. Não quis dizer-lhe até ter a certeza de que não havia nenhuma esperança.
Nenhuma esperança.
Os seus lábios tremeram e ela apertou-os para o esconder. Nick dedicou-lhe um sorriso triste. O sorriso que realmente a magoava. Era perturbantemente verdadeiro.
As suas defesas começaram a cair. Não acabava de dizer que não sabia como definir a sua relação? Isso significaria que ainda não tomara uma decisão, que afinal de contas, talvez não quisesse o divórcio?
E mesmo que o quisesse, porque devia castigar Maggie pelo abandono do seu filho? Apesar de talvez não haver uma luz para Nick e para ela ao fundo do túnel, não queria causar ressentimentos na sua família.
Respirou fundo e soltou o ar. Família. Durante quatro anos, fizera parte de uma família e isso fora maravilhoso. Telefonemas no dia do seu aniversário. Almoços dominicais repletos de pessoas. O mundo ia parecer horrivelmente vazio quando tudo isso desaparecesse para sempre.
Fechou os olhos. Não. Tinha de ser forte. Não podia ceder naquele momento. Perder a última oportunidade de os ver a todos, de se despedir de todos, era o preço que tinha de pagar para que a sua prudência e o seu coração permanecessem intactos.
Devia concentrar-se no facto de, mais uma vez, ele lhe pedir que deixasse tudo para ir atrás dele. E não havia garantias de que não voltaria a abandoná-la depois de tudo acabar. Não mencionara o seu desejo de voltarem a estar juntos. Só precisava dela para que lhe salvasse a pele.
Era uma pena. Que se salvasse sozinho.
Ele não fazia ideia da tortura pela qual passara quando ele se fora embora. Tinha de recordar aquele lugar negro e todos os motivos pelos quais nunca queria regressar para lá.
Portanto, deixou que essa escuridão alimentasse a sua fúria até que ferveu. E então arrastou a mala pela curta distância que havia até à porta e atirou-a para o caminho do jardim. Quando Nick soltou um estrangulado «eh!» e foi atrás dela, fechou a porta à chave.
Não parava de carregar nos botões do telecomando da televisão e, pela enésima vez, perguntou-se porque não havia nada bom para ver. Tinha mais de cinquenta canais entre os quais escolher. Devia haver algo levemente interessante em alguma parte. Até um filme demasiado sentimental seria melhor do que nada.
Eram quase três da manhã.
Bocejou. Normalmente, já estaria há horas na cama, porém, nessa noite não conseguia acalmar-se o suficiente para se convencer de que, se se deitasse, acabaria por adormecer.
Mona diria que estava envolvida no seu próprio desgosto. Possivelmente, teria razão.
No entanto, era permitido que uma mulher se perdesse na autocompaixão depois de expulsar o homem que amava para sempre da sua vida.
Atirou o comando sobre o sofá e tentou concentrar-se na repetição de uma comédia.
Não fazia sentido negá-lo. Amava Nick. Se não, não a enlouqueceria em todos os sentidos. Não fazia sentido enganar-se dizendo para si que também estava a expulsá-lo do seu coração, pois ele estava firmemente cravado nele.
No entanto, isso não significava que conseguissem construir uma vida juntos.
Tinham prioridades diferentes. Não, era mais do que isso. Eram tão completamente diferentes que se perguntou como as coisas podiam ter durado quatro anos. Cinco, se contasse com o ano antes de se casarem. E depois havia o ano anterior a esse, quando Nick a perseguira com tanto afinco e em que ela o rejeitara até que acabara por a vencer pelo cansaço e a fizera rir-se.
Fora muito firme com ele. Um encontro… apenas isso.
No entanto, acabara por descobrir que um encontro não era suficiente. Ou pelo menos era o que lhe parecera na época. Talvez tivesse sido melhor se tivesse ouvido os alarmes da sua cabeça cada vez que Nick estava por perto.
Suspirou e olhou para a sala. Era uma tolice sentir-se tão desolada diante da ideia de se despedir de Nick para sempre, já que tomara aquela decisão há meses.
A luz do atendedor de chamadas estava a piscar. Sentiu um aperto no coração. Nick?
Carregou na tecla e esperou pela mensagem.
– Olá, Nick. Sou eu, Debbie – ouviu.
A irmã número dois.
– A mamã pensou que talvez já tivesses voltado. Espero que a mudança de horário não seja muito má. Bom, só queria dizer-te que a mamã superou a sua pior sessão de quimioterapia, portanto há luz verde para a festa. Telefona-me e dar-te-ei conta dos progressos. Diz a Adele que há um bolo de chocolate com o nome dela à espera. Adeus.
Quimioterapia? A mãe de Nick tinha cancro? O chão pareceu tremer debaixo dos seus pés. Maggie não podia morrer. Era demasiado vital. Por que razão Nick não lhe contara?
«Porque nunca lhe deste uma oportunidade», sussurrou-lhe uma voz na cabeça. «Estavas demasiado ocupada a sentir pena de ti mesma. Afastaste-o enquanto sofrias e depois, quando estavas preparada para ouvir, ele já se tinha rendido». E fora demasiado orgulhosa para lhe telefonar e arriscar-se a voltar a perdê-lo se a rejeitasse. Já perdera demasiado. Fora mais fácil culpá-lo.
Se pelo menos pudesse telefonar-lhe naquele momento. Devia sentir-se muito mal. Contudo, expulsara-o sem pestanejar e não fazia ideia de onde podia localizá-lo.
Tinha um amigo que mantivera de forma constante desde os tempos da universidade… Como se chamava? Kelvin? Connor? Não, Callum. Exacto. Porém, vira-o apenas duas vezes e não sabia onde vivia nem tinha o seu número de telefone.
Deixou-se cair no sofá e apagou a televisão. A sala ficou na escuridão, mas permaneceu ali com o olhar cravado no vazio durante o que lhe pareceram horas.
Depois, ouviu um estalo continuado na porta dianteira. Susteve a respiração. Atribuiu-o ao vento. Tentou ouvir mais alguma coisa, mas reinava o silêncio. Além disso, a porta tinha duas fechaduras. Estava prestes a soltar o ar contido quando ouviu o ruído outra vez.
Não era apenas um estalo seguido. Pôde ouvir a fechadura ao virar. Arrepiou-se e sentiu um nó no estômago, mas não conseguiu mexer-se. A única coisa que pôde fazer foi aninhar-se num canto do sofá e tentar conter o ritmo da sua respiração.
Se Nick estivesse ali!
Depois, ouviu o som que receara: a segunda fechadura fez um «clique» e ouviu o som da porta ao abrir-se. Com todo o silêncio que conseguiu, levantou-se do sofá e escondeu-se atrás da poltrona. Os seus tornozelos também rangeram quando se baixou e teve a certeza de que o ruído fora tão sonoro como um disparo.
Havia alguém na casa! Começou a tremer.