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Legado de paixões - O homem que arriscou tudo. Michelle ReidЧитать онлайн книгу.

Legado de paixões - O homem que arriscou tudo - Michelle Reid


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sua reação. Quando ele deu um passo para a frente, ela ergueu o queixo em atitude desafiante, embora fosse consciente de que fora demasiado longe.

      – Não me toque – deu um passo atrás, mas não conseguiu evitar que Anton a segurasse pelo pulso.

      Só se apercebeu do que ia fazer quando estendeu a outra mão para lhe tirar cuidadosamente a faca que estivera a brandir sem se aperceber e a deixou na bancada.

      O movimento aproximou-o dela, tornando-a ainda mais consciente da sua envergadura e permitindo-lhe inalar a sua fragrância masculina.

      – Está bem, menina Kanellis – murmurou ele. – Visto que não gostamos um do outro, aconselho-lhe que se limite a magoar-me com as suas palavras e não com uma faca. Não gostaria que houvesse um derramamento de sangue.

      Zoe corou.

      – Não tencionava…

      – Referia-me ao seu, Zoe – sussurrou ele, olhando para ela enquanto a mantinha presa por uns segundos antes de a soltar e recuar.

      Zoe sentiu-se perturbada ao vê-lo relaxar e esboçar um sorriso.

      – E agora, aceito o café que me ofereceu antes.

      Atordoada com aquela demonstração de segurança em si próprio, Zoe ficou a olhar para ele enquanto ele se sentava pausadamente numa cadeira, como se quisesse sublinhar o contraste entre as suas maneiras corteses e a brutalidade insolente dela.

      Zoe cerrou os dentes, zangada consigo própria por ter perdido o controlo e concentrando-se para recuperar a calma enquanto fazia dois cafés instantâneos.

      – Leite e açúcar? – perguntou.

      – Não, obrigado.

      – Um bolo? – Zoe sorriu para si, pensando em como a sua mãe estaria contente por, apesar de tudo, se comportar como uma boa anfitriã.

      – Porque não?

      Zoe pôs sobre a mesa as duas chávenas e um prato com bolos e sentou-se à frente dele. O sol que entrava pela janela refletiu-se na pele dourada dos dedos de Anton quando seguravam a chávena.

      Zoe sentia um nó no estômago cuja causa conhecia perfeitamente: ela, que evitava por regra todo o conflito, parecia empenhada em provocar uma discussão com Anton Pallis apesar de, no fundo, saber que ele não era culpado da situação.

      – Bode expiatório – disse Anton. E Zoe levantou a cabeça, surpreendida. Ele olhou para ela fixamente: – Precisa de descarregar a sua raiva em alguém e eu estou à mão. Mas a sua luta não é contra mim, mas contra Theo.

      Zoe olhou para ele com desdém.

      – Diga-me, o que sentiu ao ocupar o lugar do meu pai?

      Anton compreendeu a verdadeira razão por que ela o odiava tão profundamente, um sentimento que intuíra desde que lhe abrira a porta. Para ela, fora por causa dele que o seu avô não fizera nenhum esforço para se reconciliar com o seu pai.

      O pranto de um bebé impôs-se sobre a tensão que eletrizava o ambiente. Zoe levantou-se com um salto e saiu.

      Uma vez a sós, Anton ficou pensativo. Zoe tencionava insultá-lo ao mencionar que substituíra o seu pai e a acusação continha um pouco de verdade. Nunca saberiam o que teria acontecido se ele não estivesse presente para ocupar o vazio que Leander deixara.

      Anton amaldiçoou a teimosia de Theo, que o punha numa situação tão incómoda e em tão má posição para se defender.

      O quarto de Toby era quase tão pequeno como o berço que ocupava o centro, mas era bonito e confortável. Estava decorado em branco e azul, com um toque de vermelho intenso. Zoe tinha tentado convencer os seus pais a instalá-lo no seu quarto, visto que ela estava na universidade durante a maior parte do tempo, mas eles tinham insistido em mantê-lo intacto para ela.

      Os seus pais tinham tentado ter aquele filho durante vinte anos e, quando se tinham dado por vencidos, aquele anjo fora concebido. E Zoe amava-o com todo o seu coração.

      Quando lhe pegou ao colo, estava molhado e inquieto, mas tranquilizou-se assim que reconheceu a voz do Zoe.

      – Ninguém nos vai separar, querido – sussurrou ela.

      Depois de lhe mudar a fralda, desceu com ele. Ao chegar ao andar de baixo apercebeu-se de que aumentara o volume do ruído procedente do exterior e perguntou-se o que teria causado o rebuliço.

      A razão, apercebeu-se, estava na cozinha, a olhar pela janela. Devia ter-se espalhado a notícia de que Anton Pallis estava ali. Só faltava que um helicóptero aterrasse no jardim e dele saísse Theo Kanellis para que os sonhos dos jornalistas se tornassem realidade.

      Encontro de milionários gregos numa casa modesta de Islington!, pensou Zoe, ao mesmo tempo que tirava um biberão do frigorífico.

      O milionário que estava na sua cozinha falava naquele momento ao telefone e, mais uma vez, ela sentiu um formigueiro no estômago ao olhar para ele, que se recusava a aceitar como atração embora não lhe custasse admitir que era um homem muito atraente.

      Desviando o olhar, ouviu-o a falar em grego. Parecia zangado e, quando se virou para a ouvir, o seu rosto contraiu-se numa expressão de impaciência. Depois de acabar a conversa bruscamente, apoiou as costas no lava-loiça e marcou outro número.

      Em vez de prestar atenção à conversa, Zoe sentou-se no sofá, pôs os pés ao alto e concentrou-se em dar o biberão a Toby.

      Só conhecia aquele homem há meia hora e, no entanto, aquela cena pareceu-lhe de uma naturalidade inaudita: ela a alimentar o bebé enquanto ele dava instruções com firmeza no que parecia russo.

      «Uma cena doméstica terna», disse-se, sorrindo para si com sarcasmo enquanto pegava na mãozinha de Toby e a beijava.

      Anton acabou de falar e houve um silêncio em que se ouviu o ponteiro dos segundos do relógio da parede e o motor do frigorífico. Havia uma tensão no ar que Zoe atribuiu às suas últimas palavras, de que se arrependera imediatamente. Não tinha o direito de acusar aquele homem de ser o filho substituto de Theo Kanellis. Não era preciso ser um génio para calcular que devia ser um menino quando o seu pai fugira. E o seu pai sempre dissera que se fora embora por vontade própria e que não tinha o menor desejo de voltar.

      Anton não recordava ter-se sentido tão incomodado como na casa de Leander Kanellis. O comentário de Zoe tinha-o afetado profundamente.

      – A menina e o seu irmão podiam ter tudo o que quiserem – ouviu-se dizer, deixando que o negociador que havia nele tomasse as rédeas.

      Zoe olhou para ele por cima das costas do sofá.

      – A que preço? – perguntou, por pura curiosidade.

      Anton aproximou-se da poltrona que havia junto do sofá e, depois de pedir permissão com o olhar, que ela concedeu encolhendo os ombros, sentou-se. Mas antes de falar, Zoe adiantou-se:

      – Lamento o que disse antes. Fui muito injusta.

      – Não se desculpe. Tem o direito de dizer o que sente. Além disso, sabe porque estou aqui.

      – Talvez devesse dizer-mo claramente para que não haja mal-entendidos.

      Embora não se tratasse de um cessar de hostilidades, Anton viu-o como uma via aberta para a negociação, um terreno onde se sentia muito mais confortável.

      – Estou aqui para negociar os termos em que acederia a entregar o bebé a Theo. Pode acompanhá-lo ou, se o preferir, continuar com os seus estudos.

      – Diga-lhe que agradeço, mas que Toby e eu não vamos a lado nenhum.

      – E se Theo decidisse ir a julgamento para conseguir a custódia do menino?

      – Sou a sua tutora legal e duvido que Theo queira a má imprensa que ganharia se me enfrentasse.

      – Tem a certeza? – perguntou Anton, olhando para ela fixamente.


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