Pintar Com O Dragão. Olga KryuchkovaЧитать онлайн книгу.
cujo nome significa "pessoas da arte" e as suas aprendizas as maiko. Ao contrário das cortesãs, as geishas estavam proibidas de enveredar pela prostituição. Assim sendo, elas simplesmente entretinham os seus visitantes com danças, canções, cerimónias de chá e conversavam. Contráriamente às cortesãs, que apertavam o obi (sash) com um simples nó à frente, a geisha apertava o nó atrás. E a geisha apenas podia apertar ou desapertar o nó do obi com a ajuda de uma criada.
E é óbvio que, em Yoshiwara, junto com os clientes habituais havia visitas de vários artistas para desenharem os retratos das beldades, bijin-ga.
Um desses artistas foi Tokitarō, mais conhecido pelo seu pseudónimo Katsushika Hokusai.8. Muitas pessoas o tratavam assim.
Hokusai nasceu há trinta e oito anos, num subúrbio pobre chamado Katsushika, na família de um artesão. A sua mãe era uma concubina do seu pai, desta forma, o rapaz nunca poderia ser herdeiro. Quando ainda era muito jovem foi entregue a um homem que fabricava espelhos para os shogun.
Hokusai começou a desenhar muito cedo, pois o trabalho do seu mentor incluía a pintura dos mesmos.
Aos dez anos, com o nome de Tetsuko, o rapaz tornou-se vendedor de livros. Ele deixou o seu mentor anterior pois queria encontrar o seu próprio caminho criativo. Até certo ponto, trabalhar numa livraria ajudou-o — aí aprendeu a ler e a escrever, e aprendeu mandarim.
Contudo, as suas pesquisas criativas não terminaram ali, mas pode dizer-se que foi ali que começaram. A partir dos treze anos, o futuro Hokusai começou a trabalhar no atelier do gravurista. E nas gravuras, enquanto fazia várias experiências de iniciante.
Mas o trabalho de gravurista também parecia bastante limitante para o futuro Hokusai. Estas também eram limitativas das suas próprias visões artísticas. Continuando, aos dezoito anos Hokusai tornou-se aprendiz no estúdio de Katsukawa Shunshō9, o mestre de ukiyo-e — o mundo pairando.
Hokusai provou ser um aprendiz bastante capaz, um trabalho notável segundo o seu professor. Para Shunsyo ele era o seu preferido e distinguia-o do resto dos seus pupilos. Hokusai podia até mesmo assinar os seus trabalhos com o pseudónimo Shunrō, criado pelo próprio professor.
A partir dos vinte e cinco anos, Hokusai obteve autorização para publicar os seus próprios trabalhos. E esta foi a sua primeira experiência pessoal com várias formas gravura teatral. O jovem artista desprezava os retratos dos atores famosos dessa época, a sua popularidade foi comparável à do seu mestre, Shunshō. E assim Hokusai começou o seu próprio estilo de trabalho.
Para além dos retratos de atores de teatro, ele também ilustrava livros. As pluralidades de géneros exigiam que o artista retratasse várias cenas: ambas da vida quotidiana ou da história. Mais precisamente as segundas, pois eram necessárias para retratar a história do Japão.
Shunshō faleceu quando Hokusai fez trinta e dois anos. A escola foi liderada por um antigo aprendiz do artista falecido, Katsukawa Shun'ei. Foi na mesma altura que Hokusai saiu da escola. Sentia um pesar devido aos seus deveres de aprendiz; faltava-lhe liberdade criativa.
Paralelamente, sair da escola foi difícil para Hokusai. Durante os dois anos seguinte (1793-1794), o artista viveu em pobreza e fez alguns negócios dúbios por falta de dinheiro. Contudo, foi estudando outras escolas e estilos artísticos, desenvolvendo um estilo completamente novo. Até certo ponto estes dois anos tornaram-se um ponto de viragem na sua carreira.
E devido a isso a vida de Hokusai ficou mais ou menos estável. Ele criou várias pinturas, desenhou ilustrações para livros. Três anos mais tarde o artista começou a assinar com o seu próprio pseudónimo, Katsushika Hokusai.
Apesar das suas buscas criativas o artista não pôs de parte a hipótese de se casar, por duas vezes. A primeira mulher de Hokusai morreu cedo, deixando-o com duas crianças. A segunda mulher até à data está viva e bem de saúde. Ao todo Hokusai teve cinco crianças: três filhos e duas filhas.
Os seus filhos já eram crescidos e tinham as suas próprias vidas. Mas as suas filhas ainda não eram adultas. A filha mais velha chamava-se Tatsujo, e tinha feito dez anos há pouco tempo. E o nome da sua filha mais nova era Ōi10,e tinha feito sete anos há pouco tempo.
As irmãs não se davam muito bem, brigavam e discutiam com frequência. E naquela manhã de primavera a família Katsushika, numa casa antiga, mas um lar bem apresentável, acordou com uma discussão. No espaço que estava decorado pelo tatami e decoração simplista, ouviam-se os gritos agudos de raparigas. Embora a sala fosse espaçosa, talvez a sala não tivesse espaço para mais nada naquele momento. Nem móveis requintados, nem tão pouco decorações requintadas. A sala era tão comum quanto qualquer outra sala típica nas casas dos cidadãos de Edo. Mas havia duas notáveis pinturas com paisagens nas paredes: uma com macieiras em flor e outra com o mar. Claro que foi Hokusai quem as desenhou.
"Ōi, tu não sabes apertar um obi! já tens sete anos, mas continuas a pedir ajuda à mãe!" Dizia a Tatsujo num tom condescendente. Ela era uma rapariga com a altura certa para a sua idade com longos cabelos negros, elegantemente apanhados, e vestia um quimono rosa-claro. E lançando um olhar presunçoso a Ōi disse: "Mas como tu sabes, se uma mulher não sabe como apertar um obi, é como se não soubesse nada!"
Indignada a irmã mais nova disse: "Eu sei apertar o obi!" Parecia demasiado nova para a sua idade e era mais alta do que a Tatsujo. Ela vestia um quimono amarelo e trazia o cabelo apanhado num rabo-de-cavalo. "Até mesmo com um simples nó eu consigo!"
"Não consigo perceber como, não consigo perceber como!" A Tatsujo continuava a sua provocação.
Um grito de guerra foi solto por Ōi, uma batalha estava prestes a começar. Felizmente, Okiko a mãe elas, interviu a tempo. Rigidamente a mulher disse às suas filhas:
"Vocês são raparigas, mas comportam-se como rapazes! E enquanto forem assim indelicadas. Ou continuarem com este comportamento, nenhuma das duas se casará!"
A última frase fez com que Tatsujo voltasse à realidade. A simples ideia de nunca se casar deixava a rapariga estremecida. Por outro lado, a Ōi suspirava com revolta. Era certo que, ela não se queria casar. Em vez disso a rapariga sonhava em tornar-se uma artista, tal como, o seu pai.
A Ōi sempre foi fascinada por pinturas e telas em branco. Ela gostava de ver a forma como o pincel deslizava na tela em branco e criava diversos universos: paisagens, retratos, criaturas míticas, ilustrações para livros fossem quais fossem as imagens. Isto deixava-a hipnotizada.
A Ōi adorava desenhar. Os pais em nada se opunham ao hobbie da filha, embora Tatsujo tentasse pigarrear frequentemente a sua irmã com isso. Ela disse, debatendo um dos seus temas favoritos, a Ōi não sabe fazer nada, incluindo desenhar, e que nunca se iria casar. Tatsujo percebeu que o que realmente ofendeu Ōi, não foi dizerem-lhe que nunca se se iria casar, mas sim que ela não sabia fazer mais nada. Ficou especialmente melindrada relativamente ao desenho! Ōi achou aquele comentário bastante insensato até porque Tatsujo pintava bem pior.
... Depois de uma discussão com a sua irmã, a Ōi decidiu ir dar uma volta. A família Katsushika vivia agora numa zona urbana, calma e bastante decente. Por conseguinte, os seus pais permitiam que as suas filhas andassem sozinhas, desde que não se afastassem muito de casa.
Assim que a Ōi saiu de casa, ouviu logo uma voz ameninada jubilosa:
"Ōi! Vem brincar connosco!"
Quando se virou a menina viu os seus amigos: a filha do mercador, a Satsuki, uma menina bastante bonita que, iria obviamente tornar-se num tipo de beleza rara no futuro. Mas também o filho do artesão Shotaro, um rapaz baixo, forte e com cabelo curto. Os rapazes davam-se muito bem e era comum jogarem juntos, à bola, às escondidas, aos ninjas e muito mais.
Agora foi a vez da Satsuki dizer:
"Ōi, anda estamos a jogar às escondidas!"
"Com todo o gosto! Quem é a contar?" a menina estava contente.
"Shotaro!" exclamou Satsuki.
"O