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Uma Canção Para Órfãs . Морган РайсЧитать онлайн книгу.

Uma Canção Para Órfãs  - Морган Райс


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a tomar o pequeno-almoço, deslizando silenciosamente através das multidões da cidade enquanto a filha do comerciante caminhava com amigos pelos mercados madrugadores da manhã.

      Savis Illiard mantinha cães e guardas para proteger a sua propriedade e a sua filha, mas os guardas estavam nos seus postos há demasiado tempo e confiavam nos cães, enquanto estes eram fáceis de silenciar com um piscar de poder.

      Kate observava a mulher que ela deveria matar, e a verdade era que ela já o poderia ter feito uma dúzia de vezes até agora. Ela poderia ter corrido pela multidão e deslizado uma faca entre as suas costelas. Ela poderia ter disparado um dardo da besta ou até mesmo atirado uma pedra com força letal. Ela poderia até ter aproveitado o ambiente da cidade, assustando um cavalo no momento errado ou cortando a corda que segurava um barril quando o seu alvo passou por baixo.

      Kate não fez nenhuma dessas coisas. Em vez disso, ela observava Gertrude Illiard.

      Teria sido mais fácil se ela tivesse sido uma pessoa obviamente diabólica. Se ela tivesse atacado os criados do seu pai por despeito, ou tivesse tratado as pessoas da cidade como escória, Kate poderia ter conseguido vê-la apenas a um passo de distância das freiras que a tinham atormentado ou as pessoas que a haviam desprezado na rua. Mas, em vez disso, ela era gentil, nas pequenas coisas que as pessoas conseguiam ser quando não pensavam demasiado nisso. Ela deu dinheiro a um mendigo quando ela passou por ele. Ela perguntou pelos filhos de um comerciante que ela mal conhecia.

      Ela parecia uma pessoa bondosa e gentil, e Kate não conseguia acreditar que mesmo Siobhan quisesse alguém assim morto.

      "É um teste" Kate disse a si mesma novamente. "Tem de ser."

      Ela tentou dizer a si mesma que a bondade tinha de ser uma fachada a mascarar um lado mais profundo e mais sombrio. Talvez esta jovem mulher mostrasse um rosto amável ao mundo para esconder assassinatos, chantagens, crueldade ou embuste. No entanto, enquanto outra pessoa qualquer poderia dizer isso a si mesma, Kate conseguia ver os pensamentos de Gertrude Illiard, e nenhum deles apontava para uma predadora que se escondia sob a superfície. Ela era uma jovem bastante normal para o seu lugar no mundo, rica por causa dos negócios do seu pai, talvez um pouco despreocupada com isso, mas genuinamente inocente em todos os aspetos que Kate conseguia ver.

      Era difícil não sentir repulsa com o que Siobhan havia ordenado que ela fizesse então, e com o que Kate se tinha tornado sob a tutela dela. Como é que Siobhan poderia querer a morte dela? Como é que ela poderia exigir que Kate o fizesse? Estaria Siobhan realmente a pedir-lhe para o fazer apenas para ver se ela tinha dentro de si matar se a mandassem fazê-lo? Kate odiava esse pensamento. Ela não conseguiria fazer tal coisa, ela não faria tal coisa.

      Mas ela não tinha escolha, e ela odiava isso ainda mais.

      Porém, ela tinha de ter a certeza. Então, ela dirigiu-se para a casa do comerciante antes da sua presa, saltando sobre o muro num momento em que sentiu que os guardas não estavam a ver e correu para a sombra do muro. Ela esperou mais alguns batimentos cardíacos, certificando-se de que tudo estava calmo, e, depois, subiu até à varanda do quarto de Gertrude Illiard. Havia um trinco na varanda, mas era uma coisa fácil de levantar usando uma faca delgada, deixando-a entrar.

      O quarto estava vazio, e Kate não pressentiu ninguém por perto, pelo que ela rapidamente o pesquisou. Ela não sabia o que estava à espera de encontrar. Um frasco de veneno guardado para um rival, talvez. Um diário detalhando todas as torturas que ela planeava infligir a alguém. Havia um diário, mas mesmo até só de relance, Kate pôde ver que ele simplesmente detalhava sonhos da jovem mulher e desejos para o futuro, os seus encontros com amigos, os seus breves sentimentos para com um jovem ator que ela havia conhecido no mercado.

      A verdade era que Kate não conseguiu encontrar uma única razão pela qual Gertrude Illiard merecesse morrer, e apesar de já ter matado antes, Kate achava a ideia de assassinar alguém sem razão abominável. Ela ficava angustiada só de pensar em fazê-lo.

      Ela sentiu o cintilar de uma mente a aproximar-se e escondeu-se rapidamente sob a cama, tentando pensar, tentando decidir o que fazer. Não era que essa jovem mulher a lembrasse de si mesma, porque Kate não conseguia imaginar a filha desse comerciante a saber realmente o que era o sofrimento, ou a querer erguer uma espada. Ela nem sequer era como Sophia, porque a irmã de Kate tinha algo de enganador quando precisava, e o tipo de pragmatismo intenso que vinha de ter de viver com nada. Esta miúda nunca teria passado semanas a fingir ser algo que não era, e nunca teria seduzido um príncipe.

      Enquanto uma serva percorreu o quarto, arrumando-o em preparação para o retorno da sua senhora, Kate colocou a mão no medalhão ao seu pescoço, pensando na foto de uma mulher lá dentro. Talvez fosse isso. Talvez Gertrude Illiard se enquadrasse na inocência de uma família nobre que Kate tinha quando se tratava dos seus pais. No entanto, o que é que isso significava? Significava que ela não a conseguiria matar? Ela tocou no anel que estava ao lado do medalhão, destinado a Sophia. Ela sabia o que a sua irmã diria, mas essa não era uma escolha que Sophia estivesse em posição de fazer.

      Então Gertrude entrou no quarto, e Kate sabia que ela precisaria de fazer a sua escolha rapidamente. Siobhan estava à espera, e Kate duvidava que a paciência da sua professora durasse para sempre.

      "Obrigado, Milly" disse Gertrude. "O meu pai está em casa?"

      "Ele não é deve chegar em menos de duas horas, menina."

      "Nesse caso, acho que vou dormir uma sesta. Acordei demasiado cedo hoje."

      "Claro, menina. Não vou deixar que te incomodem."

      A serva saiu, fechando a porta do quarto com um clique. Kate viu botas bordadas a serem tiradas e colocadas ao lado do seu esconderijo, e sentiu o movimento da cama acima quando Gertrude Illiard se sentou sobre ela. As madeiras rangeram quando ela se deitou. Kate ainda continuava à espera.

      Ela tinha de o fazer. Ela tinha visto o que aconteceria com ela se ela não o fizesse. Siobhan tinha deixado claro: Kate era dela agora, para fazer o que ela quisesse. Kate estava tão fortemente ligada a ela quanto estaria se a sua dívida tivesse sido vendida a outro. Mais fortemente ligada, porque agora não era apenas a lei da terra a dar poder a Siobhan sobre Kate, mas a magia da sua fonte.

      Se ela falhasse a Siobhan nisso, na melhor das hipóteses, ela daria por si a ser enviada para algum inferno vivo, forçada a suportar coisas que fariam com que a Casa dos Não Reclamados parecesse um palácio. Na pior das hipóteses... Kate tinha visto os fantasmas daqueles que haviam traído Siobhan. Ela tinha visto o que eles sofriam. Kate não se iria juntar a eles, independentemente do que fosse preciso.

      Ela só tinha de continuar a lembrar-se a si própria de que isto era um teste.

      Ela observava os pensamentos de Gertrude enquanto ela adormecia, reparando que o ritmo destes mudavam à medida que ela deslizava para o sono. O quarto estava agora silencioso, enquanto as servas se mantinham afastadas para deixar a sua senhora descansar. Era o momento perfeito. Kate sabia que tinha de agir agora, ou não agir de todo.

      Ela saiu debaixo da cama sem fazer um único barulho, levantando-se de novo e olhando para Gertrude Illiard. A dormir ela parecia ainda mais inocente, com a boca ligeiramente aberta e com a cabeça deitada num dos dois travesseiros de penas de ganso.

      É um teste, Kate disse a si mesma, apenas um teste. Siobhan vai parar isto antes de eu a matar.

      Era a única coisa que fazia sentido. A mulher da fonte não tinha motivos para querer aquela miúda morta, e Kate não podia acreditar que nem mesmo ela pudesse ser tão caprichosa. No entanto, como é que ela passava no teste? A única maneira que ela conseguia ver era realmente tentar matar esta miúda.

      Kate ficou ali a contemplar as suas opções. Ela não tinha nenhum veneno, e não saberia qual a melhor maneira de o administrar se o tivesse, pelo que então isso estava de fora. Não havia nenhuma maneira de engendrar um acidente aqui, da mesma maneira que ela poderia ter na rua. Ela poderia sacar de uma adaga e cortar a garganta de Gertrude, mas tal daria alguma oportunidade para que Siobhan pudesse intervir? E se ela esfaqueasse ou cortasse tão depressa que não houvesse salvação do alvo desse teste?


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