Duelo De Corações. Barbara CartlandЧитать онлайн книгу.
e amedrontada, Caroline reconheceu sua culpa. Mal conhecera sir Montagu Reversby fora avisada de que ele não era pessoa confiável. Obstinada como era, decidira aceitar sua companhia e agora, premeditadamente, ele a trouxera àquele lugar.
Lady Caroline Faye estava sendo apresentada à sociedade pela madrinha, a Condessa de Bullingham, porque sua mãe, Marquesa de Vulcan, não se sentia bem. A honorável lady Edgmont aceitara ser a chaperon da prima debutante.
A magnífica mansão Vulcan, na Grosvenor Square, fora aberta para a temporada. Muito zelosa, a Condessa mantinha severa vigilância sobre Caroline.
Certa noite, ao voltar com a afilhada e lady Edgmont de um baile realizado na Devonshire House, dissera:
—Detesto sir Montagu Reversby e acho que você deve evitá-lo, Caroline.
—Sir Montagu é muito persistente— Caroline respondera, sorrindo—, ele já me propôs casamento três vezes, imagine!
—Propôs-lhe em casamento? Não me diga?— a voz da Condessa soara alta e aguda—, que ousadia! Imagine se ele merece uma esposa como você, a debutante mais bela da temporada e a maior herdeira do momento.
—Ele me diverte. Sir Montagu não é homem de desistir facilmente.
—Um homem como ele jamais será recebido em minha casa— replicara a Condessa— propôs-lhe casamento! Nem quero pensar no que seu pai irá dizer quando souber disso, minha querida.
Caroline achara graça. Podia imaginar a gélida indiferença do Marquês ao afastar do seu caminho o atrevido pretendente à mão da filha. Na verdade, ela não levava sir Montagu a sério e sua insistência a divertia. Também se admirava ao vê-lo em todos os bailes e festas da temporada.
De um modo ou de outro, sir Montagu obtinha convites e era recebido nas casas mais aristocráticas de Londres.
A falta de tato da madrinha em criticar sir Montagu e, ao mesmo tempo, em enaltecer o Conde de Glosford irritavam Caroline que considerava este último aborrecido ao extremo. O Conde, herdeiro do Duque de Melchester, sem dúvida um partido e tanto do ponto de vista matrimonial, também já lhe propusera casamento. Mas ela não suportava sua afetação e seus modos afeminados.
Dias atrás o Conde de Glosford a deixara irritada ao fazer críticas, a sir Montagu.
—Esse indivíduo insignificante não está à sua altura, Caroline— ele dissera—, Você devia ignorá-lo.
—Obrigada, milorde, mas sei julgar as pessoas bem melhor do que Vossa Senhoria julga cavalos— Caroline retrucara.
A resposta atingira o Conde em cheio. Nas últimas semanas toda a sociedade zombava de Glosford por ter pago quinhentos guinéus por um cavalo que fora dopado para a venda. Talvez para provocar a madrinha e o Conde, Caroline acabara concordando com a corrida de carruagem proposta por sir Montagu. Ele havia dito:
—Rohan se vangloria de possuir os cavalos mais velozes e assegura que sua esposa conduz uma carruagem melhor do ninguém. Fizemos então uma aposta nos seguinte termos, lady Rohan conduzirá sua carruagem puxada por uma parelha de cavalos cinzentos e a lady que eu escolher conduzirá meu faetonte puxado por meus alazães. A corrida será de Londres até a casa de minha irmã, em Sevenoaks. Caberá à vencedora o prêmio de mil guinéus.
—Você está sugerindo que eu conduza seu faetonte?— Caroline indagara com os olhos brilhando de entusiasmo.
Conhecia os incomparáveis alazães de sir Montagu e nada lhe agradaria mais do que derrotar lady Rohan, uma senhora insuportável que se vangloriava de tudo o que fazia e julgava-se perfeita.
—Não conheço outra pessoa capaz de vencer lady Rohan— sir Montagu dissera, lisonjeiro.
Por um instante Caroline ficara refletindo. Sabia que não era de bom tom uma jovem lady aceitar uma corrida por dinheiro. Muito menos lady Caroline Faye, filha do importante Marquês de Vulcan. Também não poderia sair de carruagem com um cavalheiro sem uma dama de companhia, mas a tentação era grande.
—Sei realmente o que a preocupa— sir Montagu interrompera-lhe os pensamentos—, ninguém saberá quem escolhi para desafiar lady Rohan. Sua identidade só será revelada depois da corrida e esta será à noite.
—Impossível. Minha prima, lady Edgmont, é uma chaperon cuidadosa e não me deixará sair de casa à noite, sozinha— Caroline argumentara.
—Pensei nisso e me ocorreu que você pode deixar um bilhete dizendo que saiu para encontrar-se com algumas amigas e estará na companhia de lady Rohan— sir Montagu havia sugerido.
O entusiasmo de Caroline era grande. Não podia desprezar a oportunidade de vencer lady Rohan que se vangloriava de ser imbatível ao conduzir uma carruagem.
Sim, valia a pena correr o risco de deixar a madrinha e a prima zangadas. Por certo teria problemas depois da corrida, mas ela sempre fora destemida. Erguera a cabeça com altivez ao responder:
—Aceito, desde que essa corrida seja mantida em segredo.
—Juro não dizer uma palavra— havia sido a resposta pronta de sir Montagu.
Agora tudo estava claro, Caroline pensou. Não havia corrida nenhuma e provavelmente sir Montagu nem tinha irmã morando em Sevenoáks. Tudo fora um simples ardil para trazê-la àquele lugar, onde passariam a noite como marido e mulher. O preço do silêncio dele seria ambos anunciarem o noivado.
Um calafrio percorreu o corpo de Caroline. Só então passou a considerar que havia algo desagradável e untuoso em sir Montagu. Fora tola demais em dar-lhe atenção e aceitar seus galanteios. Achava divertido provocar os outros cavalheiros que a admiravam, em geral jovens ingênuos, incapazes de competir com um homem mais experiente, espirituoso e lisonjeiro.
Olhando ao redor do quarto com o grande leito, notou a lareira acesa, o vaso de flores sobre o toucador e reconheceu que sir Montagu havia escolhido um lugar atraente e bem decorado para sua infâmia. Só de pensar que ele poderia tentar beijá-la com seus lábios carnudos, querer abraçá-la ou tocá-la com suas mãos grandes, encolheu, cheia de repulsa e nojo. Precisava escapar. Mas como?
Se fizesse uma cena ou se chamasse a proprietária e exigisse que lhe arranjasse uma carruagem de aluguel para levá-la a Londres, provocaria um escândalo. Sir Montagu também podia invalidar seus protestos, dizendo que a reação dela era natural, própria de uma noiva assustada na noite de núpcias.
Chegando à janela, Caroline abriu as duas partes envidraçadas e olhou para o jardim banhado pelo luar. Além do jardim havia um bosque. Se fugisse pela janela poderia esconder-se entre as árvores.
O problema era a altura. A única possibilidade de sair dali seria alcançar o telhado mais baixo que julgou ser o da despensa ou da copa. Bem junto da parede ela viu sobre uma plataforma tosca um barril tampado que deduziu ser um depósito de água.
Sem perda de tempo atravessou o quarto, trancou a porta a chave, correu os trincos e voltou para a janela, decidida a fugir por ali. Olhou para o vestido de veludo de saia rodada e mangas compridas. Mas não seria o traje que a impediria de escapar.
Na verdade, essa não seria a primeira vez que saltaria de uma janela. Na infância costumava ser castigada pela governanta e pelos pais quando, em vez de dormir, pulava a janela do quarto e ia brincar no parque.
Caroline pendurou-se no parapeito e saltou para o telhado vizinho produzindo um barulho surdo. Reteve a respiração por um instante, receando que alguém a tivesse ouvido. Tudo estava em silêncio, exceto pelo distante burburinho de vozes e risos vindo da taberna.
Olhou para baixo. A altura era considerável, mas se conseguisse chegar até o barril, alcançaria o solo facilmente. Deitou-se na beira do telhado e foi escorregando o corpo até apoiar os dois pés no barril. Deste desceu até a plataforma e pulou para o chão, sã e salva,