Poder e sedução. Michelle SmartЧитать онлайн книгу.
e passou-o a Eva. Bebeu-o de um gole sem hesitar e sem se importar que os lábios dele tivessem estado no mesmo sítio há apenas um instante.
– Se aceitares casar-te comigo, este dinheiro irá diretamente para a tua organização humanitária. No dia do nosso casamento, farei uma transferência de outros dois milhões para a conta deles e doarei três milhões por cada ano de casamento. Vou dar-te uma pensão de um quarto de milhão de dólares por mês para que faças o que quiseres, também vou dar-te um cartão de crédito ilimitado para que viajes ou te vistas enquanto estivermos casados.
A cabeça dava voltas. Estava numa espécie de redemoinho que distorcia a realidade?
– Posso beber um pouco mais de uísque? – sussurrou.
Ele bebeu um gole e deu-lhe o copo.
– Queres pagar-me para ser a tua esposa?
– Sim.
– Porque haverias de querer casar-te comigo?
– Não quero, mas preciso de uma esposa.
– Já o disseste, mas porque haverias de me escolher quando há centenas de mulheres que o fariam sem teres de as subornar? Porque haverias de te casar com alguém que nem sequer gosta de ti?
– Esse é, precisamente, o motivo por que quero que aceites esse papel.
– Perdi-me.
– Não quero casar-me com alguém que vá apaixonar-se por mim.
Capítulo 3
Estava louco, tinha de estar. Nenhuma pessoa no seu juízo perfeito proporia uma coisa dessas.
Então, observou-o e pensou que sabia muito bem o que estava a fazer. A sua expressão, em vez de a tranquilizar, aterrou-a e não era uma mulher que se assustasse facilmente. Aprendera a disfarçar e disfarçou nesse momento.
– Isso é inimaginável – replicou.
Ele encolheu os ombros, pegou no copo e serviu uma dose generosa.
– Perfeito. Não quero uma esposa que tenha ilusões românticas. Não vou casar-me por amor, vou casar-me para herdar o património da família. O meu irmão morreu sem filhos. Sou o filho que resta, mas só posso herdar se estiver casado.
– Para que queres esse património? Já tens uma fortuna.
– Para o manter na família. O dever chama-me, finalmente.
– Precisas de uma esposa para herdar?
– Sim. O património está… Está ligado a um fideicomisso muito antigo que só pode ser herdado por um homem casado.
– Isso é legal?
– Demoraria anos a desmontar esse fideicomisso e a adaptá-lo aos tempos modernos. Não tenho anos, tenho de agir já.
– Então, procura outra.
– Não quero outra. As outras são demasiado dependentes e tu és dura.
– Nem sequer me conheces – replicou ela. – Há vinte minutos, achavas que era inglesa.
Era dura porque tivera de ser. Criara uma carapaça para virar as costas à família quando lhe tinham rasgado o coração e quando perdera Johann e descobrira que o coração se rasgava outra vez. Fora um processo natural, não fora conscientemente, não percebera que tinha essa carapaça até há quatro anos, quando estava a viver e a trabalhar em Haia e um colega bêbado a acusara de ser uma cadela insensível. Então, voltara ao pequeno apartamento que partilhara com Johann, olhara-se ao espelho e percebera que o colega tinha uma certa razão. Não era uma cadela, sabia que não era, mas insensível… Efetivamente, olhara-se ao espelho e tivera de reconhecer que já não sentia nada, que estava vazia por dentro.
– Sei tudo o que tenho de saber, querida. Não preciso de saber mais nada. Não quero conversar contigo na cama e que me contes os teus sonhos. Será uma sociedade, não uma aventura. Preciso de alguém pragmático e que mantenha a frieza nos momentos complicados.
Achava que ela era essa pessoa? Não sabia se rir ou chorar. Transformara-se numa pessoa tão fria que alguém podia pensar que aceitaria uma proposta tão carente de sentimentos?
Fora uma pessoa calorosa, sentira o sol, tanto no coração como na pele.
No entanto, o que é que essa proposta dizia dele? Como é que alguém podia ser tão cético sobre o casamento?
– O casamento não é uma brincadeira – replicou ela.
Eva olhava para os maços de notas e para os olhos ardentes de Daniele. Esse dinheiro seria crucial para o acampamento. A Blue Train Agency dependia plenamente das doações e nunca eram suficientes para cobrir todos os projetos.
Esses olhos…
Desviou o olhar e fixou-o no mar, não conseguia acreditar que estava a pensar naquela proposta desatinada.
– Não estou a brincar. Casa-te comigo e ganharemos todos. A tua organização humanitária terá doações garantidas que poderá gastar como quiser, tu receberás um valor em dinheiro ilimitado para gastares contigo própria, a minha família saberá que o património familiar estará a salvo durante outra geração e eu receberei a minha herança. És uma pessoa pragmática, Eva, sabes que o que proponho é muito coerente.
Nem sempre fora uma pessoa pragmática. Fora uma sonhadora, tivera muitas esperanças, mas todas tinham acabado destruídas.
– Não sei. Dizes que não é uma brincadeira, mas também dizes que todos ganharemos. O casamento é um compromisso entre duas pessoas que se amam, não entre duas pessoas que nem sequer gostam uma da outra.
– Os antepassados da minha família têm séculos. Os casamentos que correram melhor foram os que tinham motivos práticos, para formar alianças, não por amor. Nunca quis juntar a minha vida com a de uma pessoa em concreto, mas estou disposto a comprometer-me contigo. Não será um casamento baseado no amor, mas posso prometer-te um casamento baseado no respeito.
– Como podes respeitar-me se estás a tentar comprar-me?
– Não vou comprar-te, querida. Considera esse dinheiro como um incentivo.
– Não serei uma propriedade tua.
Não voltaria a ser propriedade de ninguém. Emancipara-se da sua família assim que fizera dezoito anos, no dia em que deixara de pertencer aos pais, para não continuar submetida às suas regras impostas de uma maneira inflexível. Dobrou a mão esquerda e sentiu a dor fantasma do tendão dos dedos. Os dedos tinham sarado há muito tempo, mas a dor continuava como um espetro do passado, como uma lembrança do que deixara para trás.
– Se quisesse ser dono de uma mulher, não te escolheria.
O mordomo apareceu para levar a sopa antes de ela conseguir responder. Ficou surpreendida ao ver a tigela vazia, pois não se lembrava de ter comido. Esperou que servissem o lombo Wellington para fazer a pergunta seguinte.
– Se aceitar, o que vai impedir-me de ficar com o dinheiro e fugir com ele?
– Não receberás dinheiro para o teu uso próprio até estarmos casados. Segundo a lei italiana, só poderás divorciar-te depois de três anos, mas isso não te impediria de me deixar. Tenho de confiar que não me deixarás sem falar comigo primeiro.
Ele tinha de confiar nela, mas a questão era se ela podia confiar nele.
– Se não queres um casamento tradicional, que casamento queres para nós? – perguntou ela.
Também não conseguia imaginar um casamento tradicional, nem com Daniele nem com ninguém, mas, para sua surpresa, percebeu que conseguia imaginar um casamento por conveniência onde a organização humanitária, que tanto amava, recebia quantias enormes de dinheiro.
Daniele Pellegrini era incrivelmente bonito e o