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foi? – inquiriu ela, olhando-o fixamente. – E por que é que tive a sensação, no último momento, de que algo do que disse o fez parar para pensar?
Damien olhou para o seu copo pensativamente e franziu a sobrancelha.
– A mim também me pareceu, mas… – interrompeu, encolhendo os ombros. – Talvez nunca saibamos quem foi.
– E, agora, o que fazemos?
– Só podemos fazer uma coisa: passar o caso para a polícia.
– Disse-lhe que já o tentei.
– Sim, mas agora sabemos que a pessoa que fez o contrato utilizou um nome falso. Isso poderia ajudar.
Lee não respondeu.
– Se quiseres eu faço isso – ofereceu-se Damien.
Ela olhou para ele e sorriu. Ao mesmo tempo, um dos últimos raios de sol entrava pela janela e formava uma aureola de luz à volta da sua cabeça. Ainda estava pálida, reparou Damien, por isso a mágoa notava-se mais.
Lee cruzou os braços e inspirou profundamente.
– Obrigado. Mas a verdade é que não posso continuar a pagar os seus honorários, por isso faço-o eu mesma, senhor Moore.
– Chama-me Damien – contestou ele. – Não te preocupes, não te vou cobrar.
– Não quero caridade. Mas obrigado de qualquer forma.
– Não podes fazer nada para me impedir.
Ela olhou para ele fixamente.
– O que queres dizer? – perguntou Lee com cautela.
– Os cidadãos têm a obrigação de denunciar delitos graves. E é isso que farei – contestou ele e encolheu os ombros. Além disso, algo no olhar disse a Lee que não aceitaria um «não» como resposta. – Assim, não precisas sentir que me deves algo, Lee.
Ela abriu a boca para discutir, mas ele sorriu de forma tão sincera que sentiu perder todas as suas forças e não conseguiu pensar em mais nada.
– Solucionado – disse Damien e olhou para o relógio. – Se te sentes melhor, levo-te até ao carro. Ainda não está tudo perdido, Lee. – acrescentou depois de olhar fixamente para ela, por um momento.
– Estás a fazer isto tudo porque Cyril te pediu que cuidasses de mim? – perguntou ela. – E por que é que disse isso?
Damien arqueou uma sobrancelha.
– Quem sabe? Eu diria que admirava a tua valentia e sentiu pena das dificuldades dos teus avós. – acrescentou depois de hesitar por um instante.
Damien levantou-se e Lee fez o mesmo. Parecia aturdida.
Enquanto passava uma mão à volta do braço de Lee e saíam dali, Damien Moore analisou aquele momento de dúvida e apercebeu-se de que não tinha a certeza de que o que acabara de dizer, fosse toda a verdade.
Pareceu-lhe que depois das afirmações de Cyril, enquanto se iam embora, havia algo mais. Pareceu-lhe que tomava uma decisão em relação a Lee e a ele próprio, mas não imaginava do que se tratava.
A não ser que… Cyril se tivesse apercebido do ligeiro sentimento de protecção que ele, Damien, tinha começado a sentir pela sua cliente.
Uma vez na rua, Damien parou e observou Lee à luz do dia. Obviamente tinha recobrado a compostura e, apesar de continuar pálida, interrogou-se quanto tempo mais permaneceria tão calada. Não teve que esperar muito.
– Muito obrigado por tudo, senhor Moore – começou a dizer Lee. – Eu…
– Chama-me Damien.
Um fugaz reflexo de exasperação nublou o olhar de Lee.
– Agradeço a tua ajuda – continuou, – mas…
– Entra no carro, já estou atrasado – disse ele abrindo a porta do Porsche.
– Mas é que…
– Não tens que dizer nada. Volta para as tuas flores e deixa que me encarregue disto – afirmou Damien, acariciando-lhe a cabeça.
Lee mordeu o lábio. Sentia-se exasperada e confusa. Cinco minutos mais tarde, estava metida no seu próprio carro e quase a partir.
– Estaremos em contacto – disse Damien e foi-se embora, deixando-a cheia de sentimentos desencontrados.
Damien manteve a sua palavra.
Ao longo das semanas seguintes, telefonou várias vezes e, numa ocasião, convidou-a para tomar o pequeno-almoço no seu apartamento para a deixar ao corrente dos progressos que estava a fazer.
Também a convidou para jantar e explicou-lhe que seria um processo longo, porque quem quer que tenha utilizado o nome de Cyril Delaney, tinha tido o cuidado de não deixar pistas.
Durante aqueles encontros, Lee conseguiu ocultar os distintos sentimentos que Damien lhe inspirava. Inclusive, pareceu-lhe que tinha conseguido voltar ao seu papel de ruiva perspicaz e deixado para trás a rapariga triste e confusa da reunião com Cyril. A mulher que se tinha sentido exasperada pela prepotência de Damien e, ao mesmo tempo, tinha imaginado o maravilhoso que seria que Damien cuidasse dela…
Um mês mais tarde, Lee leu que Cyril Delaney tinha morrido após doença prolongada, sentiu-se triste. Mas três dias depois, quando Damien telefonou para comunicar que os dois figuravam no testamento de Cyril, não soube definir os seus sentimentos.
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