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por sorte, o motorista virou em Piccadilly e depressa chegaram ao hotel. O porteiro abriu a porta do carro e Diana despediu-se.
– Boa-noite, senhor Tramontes. Obrigada pelo convite e por me trazer ao hotel.
Saiu do carro e desapareceu no vestíbulo sem lhe dar tempo para responder. Nikos observou-a do interior do carro. Era um hotel de renome que os provincianos ricos usavam quando iam a Londres e, sem dúvida, várias gerações de St. Clair tê-lo-iam usado.
O motorista levou-o ao seu hotel, mais luxuoso do que o de Diana. Teria rejeitado o seu convite por causa de Nadya? Ouvira Louise Melmott a mencionar o nome dela. Se era assim, alegrava-se. Isso demonstrava que Diana era exigente com os homens.
Não gostara da sua tolerância aparente à trama de Don Carlos, mas não parecia ser assim na vida real. E era essencial que não fosse assim.
«A minha esposa não consentiria um adultério. Mesmo que seja da alta sociedade, não se parecerá com a minha mãe.»
Esposa? Estava mesmo a ver Diana St. Clair como a sua esposa? E, se era assim, como conseguiria convencê-la a aceitar? O que conseguiria desfazer essa reserva gelada dela?
O que a tornaria recetiva aos seus cuidados?
Fosse o que fosse, encontrá-lo-ia e usá-lo-ia.
Greymont estava tão bonita como sempre, especialmente ao sol, que ajudava a disfarçar as zonas em que a madeira estava destruída por causa da humidade. A parte do telhado que devia ser substituída era invisível por trás do parapeito e…
Diana experimentou uma onda de emoção. Greymont significava mais para ela do que qualquer outra coisa no mundo. Os St. Clair tinham vivido lá durante trezentos anos. Era o seu lar. Cada geração passara-a à seguinte, pensou, com os olhos cheios de lágrimas. O pai dera-lha, deixando de lado as suas esperanças e a sua própria felicidade para que ela a herdasse. Perdera a mãe e ele encarregara-se de que não perdia o seu lar.
Renunciar a Greymont, entregá-la a estranhos, seria uma traição imperdoável ao pai. Não, não podia vendê-la e faria o que fosse necessário para a manter.
Entrou no vestíbulo amplo e olhou para a escada de mármore, para as molduras nas paredes, para os tetos delicadamente pintados e para a lareira de mármore branco, fragmentada em algumas zonas. Tudo precisava de reformas. Nas paredes, restavam alguns retratos familiares de artistas pouco conhecidos, mas era tudo tão familiar para ela como o seu próprio corpo.
No andar de cima, no seu quarto, dirigiu-se para a janela para olhar para os jardins e para o parque. Tinha tudo um ar de abandono, mas os jardins, com a fonte ornamental de pedra que não funcionava, os caminhos e as pérgulas que separavam o jardim do parque eram tão bonitos como sempre tinham sido. Tão amados e preciosos para ela.
Diana experimentou um sentimento feroz de proteção enquanto inalava o cheiro fresco do campo, mas custou-lhe abrir a janela porque a madeira estava deformada pela humidade e a tinta começava a cair.
Enquanto o pai estava doente, nem sequer tinham feito os trabalhos rotineiros de manutenção porque o barulho e o pó o teriam perturbado demasiado. Mas a peritagem que pedira quando morrera revelara que os problemas eram mais graves do que receava.
Precisava de um telhado novo, de substituir dúzias de janelas, de mudar as madeiras podres do chão, de arranjar as lareiras e reparar os danos causados pela humidade, de uma instalação elétrica nova, de canalização, de tinta, de aquecimento…
A lista dos trabalhos mais importantes era interminável. Tal como a lista de melhorias na decoração, desde reparar as tapeçarias a mudar as cortinas e arranjar os móveis.
E, depois, havia as reformas necessárias nos estábulos e barracões. Tinta velha, telhados deteriorados e chão partido.
E não queria nem pensar nos trabalhos de jardinagem.
Diana deixou cair os ombros. Havia tanto para fazer e era tudo muito caro. Suspirou, enquanto começava a tirar as coisas da sua mala. Reduzira o número de empregados ao mínimo, só os Hudson e as empregadas da vila, assim como um jardineiro e o seu ajudante. O pai preferia uma vida tranquila, embora isso tivesse causado descontentamento à esposa, e tornara-se quase um recluso quando ela o abandonara.
Também preferia uma vida simples e adorava ajudá-lo a escrever a história da família St. Clair, corresponder-se com a rede de contactos familiares e partilhar os seus passeios diários pelo parque. Em resumo, ser a senhora de Greymont na ausência da sua mãe.
Só se davam com famílias da zona, sobretudo sir John Bartlett e a esposa, os melhores amigos do pai. Fora mais ativa e visitava velhos amigos da escola ou da universidade, encontrando-se com eles em Londres de vez em quando. Mas não gostava de festas, preferia os jantares ou ir ao teatro e à ópera com amigos cuidadosamente selecionados, os que aceitavam que não tinha nenhum interesse em romances.
Na sua mente, apareceu a imagem do homem que pusera essa doutrina à prova, mas afastou-a, zangada. A sua reação ridícula com Nikos Tramontes era irrelevante. Não voltaria a vê-lo e tinha coisas mais urgentes em que pensar.
Respirando fundo, foi à biblioteca e sentou-se à frente da secretária do pai. O correio acumulara-se durante a sua ausência e, deixando escapar um suspiro de resignação, começou a abrir cartas. Nenhuma boa notícia, é claro. Pelo contrário, havia mais orçamentos de obras que não podia pagar para restaurar Greymont.
De algum modo, tinha de encontrar o dinheiro de que precisava, pensou, com o coração apertado.
Mas não seria casando-se com Toby Masterson. Não, não conseguia passar o resto da sua vida com ele.
Diana sentiu uma pontada de vergonha. Não fora justo pensar nele apenas como uma solução para os seus problemas.
Teria de lhe escrever uma carta a agradecer-lhe pela sua amabilidade e a deixar claro que não podia haver mais nada entre eles.
Contudo, quando começou a escrever a carta, era outra cara que via, muito diferente das feições gordinhas de Toby. Um rosto de feições marcadas e uns olhos escuros que aceleravam o seu coração…
Diana tentou afastar essa imagem da sua mente. Mesmo que Nikos Tramontes não tivesse uma relação com uma supermodelo, um homem como ele só quereria uma aventura para se divertir enquanto estava em Londres.
«E de que me serviria isso?»
De nada. Absolutamente nada.
Nikos conduzia com cuidado, tentando evitar os buracos no caminho ladeado por castanheiros, até que Greymont apareceu à frente dos seus olhos.
Com uma fachada de pedra do século XVIII, um bloco central com duas alas simétricas, estava situada numa colina, com jardins grandes e terras de cultivo. Tudo emoldurado por um bosque ornamental. Era uma propriedade clássica da nobreza britânica.
Uma lembrança atingiu-o, cruel e dolorosamente. A lembrança de outra casa noutro país. Um château no coração da Normandia construído com pedra de Caen, com torres nos cantos ao estilo francês.
Entrara pela porta principal. Fora recebido.
Mas não bem-vindo.
– Tens de ir. O meu marido vai voltar em breve e não deve encontrar-te aqui.
A mulher, elegantemente vestida com um fato de alta-costura, não lhe abrira os braços. Rejeitara-o, recusando-se a olhar para ele nos olhos.
– É só isso que tens para me dizer?
Fora a sua pergunta, a sua exigência.
– Tens de ir – repetira a mãe.
Nikos olhara para a decoração imaculada da sala, para os quadros de valor inestimável, para os móveis ao estilo de Luís XV. Fora o que ela escolhera e era o que valorizava. E o preço que tivera de pagar por isso fora ele, o seu filho ilegítimo. Na verdade, fora Nikos que tivera de pagar.
Experimentou