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Recordações de um amor - Uma amante temporária. Emma DarcyЧитать онлайн книгу.

Recordações de um amor - Uma amante temporária - Emma Darcy


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mas ele também sorriu.

      – Dario.

      – Dario – repetiu Maeve, copiando a sua entoação, como se desse modo o nome pudesse ser-lhe familiar. Mas não foi assim.

      Ele indicou-lhe o carro que os esperava, um Porsche Cayenne Turbo, que Maeve sabia que era muito caro.

      – Vamos para o carro, o vento é infernal.

      Sim, de facto era. O seu cabelo, ou o que restava dele, levantava-se como um campo de trigo e tinha a testa coberta de suor. E, embora o voo não tivesse durado mais do que algumas horas, a angústia do que a esperava deixara-a esgotada.

      Como Dario não parecia muito inclinado a falar, Maeve foi olhando para a paisagem pela janela, rezando para que qualquer coisa despertasse uma lembrança, por mais pequena que fosse.

      À esquerda havia vinhedos protegidos por muros de pedra e grupos de oliveiras que abraçavam a terra como se pudessem evitar que o forte vento os atirasse ao mar.

      À direita, ondas de cor turquesa acariciavam rochas vulcânicas de cor preta. Daí o nome da ilha, sem dúvida.

      Pouco depois passaram por uma vila de pescadores, com casinhas pequenas em forma de cubo, juntas umas às outras com uns telhados estranhos.

      – Para aproveitar a água da chuva – explicou Dario quando lhe perguntou porque é que eram assim. – Pantelleria é uma ilha vulcânica com muitas nascentes, mas o sulfureto que a água contém faz com que não seja potável.

      Essa informação também não lhe despertava lembrança alguma, de modo que Maeve se viu obrigada a continuar a fazer perguntas se quisesse chegar ao seu destino tendo alguma referência.

      – O assistente de bordo disse-me que a ilha era muito pequena.

      – Sim.

      – Então a tua casa não fica muito longe.

      – Nada fica muito longe aqui. Pantelleria só tem catorze quilómetros e meio.

      – Então chegaremos em breve?

      – Sim.

      – Ouvi dizer que eu vivia aqui antes do acidente.

      Maeve viu que ele cerrava os lábios.

      – Sim.

      Era um homem de poucas palavras, certamente.

      – Há quanto tempo estamos casados?

      – Há pouco mais de um ano.

      – E somos felizes?

      Dario ficou visivelmente tenso.

      – Aparentemente, não.

      Surpreendida, Maeve virou a cabeça para olhar para ele.

      – Porquê?

      Ele encolheu os ombros, apertando o volante com mais força. Tinha umas mãos lindas, grandes e elegantes. Mas não usava aliança.

      – A nossa situação não era… a ideal.

      Maeve quis perguntar-lhe o que significava isso, mas havia tal reserva no seu tom de voz que decidiu continuar a olhar pela janela.

      Pouco depois, Dario seguiu por um caminho estreito que levava até um grupo de casas sobre uma colina. Por meio de algum método que não conhecia, um portão de ferro forjado abrira-se quando o carro se aproximara e voltara a fechar-se depois, silenciosamente.

      Um caminho ladeado de palmeiras levava até uma residência que, embora seguindo o que parecia o estilo arquitectónico da ilha, era muito maior do que as restantes e tinha um inegável ar de opulência. De um só andar, estendia-se numa série de terraços, com um telhado sobre a zona central.

      Dario parou em frente de uma enorme porta de madeira e desligou o carro.

      – É aqui?

      – É aqui – disse ele. – Bem-vinda a casa, Maeve.

      O vento espalhara o cheiro dos pinheiros, iluminados agora com a luz malva do entardecer, enchia o ar, misturando-se com o cheiro do mar.

      Fechando os olhos, Maeve respirou profundamente, perguntando-se como podia não se recordar daquele lugar.

      Dario apoiou-se no carro, olhando para ela. A sua silhueta, recortada contra a luz do entardecer, surpreendeu-o tanto como quando a viu descer do avião. Nessa altura desejara envolvê-la nos seus braços, mas ao recordar a advertência de Peruzzi parou. Isso e o medo de lhe partir alguma costela sem querer.

      Maeve sempre tinha sido magra, mas nunca ao ponto de permitir que o vento siroco a atirasse ao mar se se aventurasse a aproximar-se da beira de alguma ravina. Estava tão frágil que parecia quase transparente. O conselho do neurologista era que fosse paciente e o mais lógico naquela situação. A primeira coisa a fazer era devolver-lhe a saúde. O resto, a sua história, o acidente e os eventos que o provocaram, teria de esperar.

      Sem se aperceber, já lhe revelara mais do que queria, mas não voltaria a cometer esse erro. Não tinha chegado ao topo de um império multimilionário sem aprender a ser discreto quando era necessário. E agora era mais necessário do que nunca.

      – Queres ficar aqui fora, por um momento? – perguntou-lhe. – Podes dar um passeio pelo jardim para esticar as pernas.

      Ela passou os dedos pelo cabelo curto.

      – Não, obrigada. Embora seja cedo, estou muito cansada.

      – Então anda. Direi à governanta que te acompanhe ao teu quarto.

      – Eu conheço-a?

      – Não, começou a trabalhar aqui a semana passada. A sua predecessora foi-se embora para Palermo para estar com os netos.

      Dario pegou na mala dela e abriu a porta, dando um passo atrás para a deixar entrar no hall.

      Maeve inspeccionou o enorme lustre de cristal suspenso do tecto, as paredes brancas, o chão de mármore preto…

      – Vives sempre aqui?

      – Não, normalmente venho só aos fins-de-semana para relaxar.

      – Então, a partir de manhã estarei aqui sozinha?

      – Não, Maeve. Ficarei contigo até que te sintas um pouco mais cómoda em casa.

      – E dormiremos no mesmo quarto?

      «É isso que queres?», queria perguntar Dario. Outrora tinham sentido uma insaciável paixão um pelo outro…

      – Não, terás o teu próprio quarto enquanto assim o desejares. Mas eu nunca estarei muito longe, para o caso de precisares – respondeu, felicitando-se a si mesmo por dar uma resposta que não fechava a porta à ideia de retomar a sua relação. Peruzzi ficaria orgulhoso dele.

      – Ah, sim – murmurou Maeve. – Bom, é muito atencioso da tua parte. Obrigada.

      – Prego.

      – As minhas coisas estão aqui?

      – Sim – garantiu ele. – Está tudo exactamente com o deixaste… olha, esta é a Antonia, ela leva-te ao teu quarto. Pede-lhe tudo o que precisares.

      – Obrigada outra vez, por tudo o que fizeste por mim – murmurou Maeve.

      – Não é nada. Dorme bem, vemo-nos amanhã.

      Assim que as duas mulheres, uma tão bem constituída, a outra tão frágil, desapareceram pelo corredor para os quartos, Dario foi para o seu escritório para ligar a Giuliana, a sua irmã, que vivia na casa ao lado.

      – A Maeve chegou?

      – Sim.

      – E como é que ela está? É tão terrível como esperávamos?

      – Está tão frágil… – Dario sentiu uma quebra na voz. – A viagem deixou-a esgotada. Foi para a cama mal assim que chegou.


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