O conde de castelfino - Paixões mediterrâneas. Christina HollisЧитать онлайн книгу.
do seu pai. Por isso, tinha forjado uma carreira brilhante alheia a Castelfino. Enquanto o seu pai fora vivo, o vinhedo de Gianni tinha ocupado apenas alguns hectares da propriedade, mas isso ia mudar.
Agora que tinha o controlo total, o seu negócio ocuparia toda a propriedade. Apesar do cansaço, Gianni teve de sorrir. Isso evitaria as pressões, pelo menos, por enquanto. Toda a gente sabia que estava obcecado por fazer com que os vinhos de Castelfino obtivessem fama internacional e pensaria que, simplesmente, estava a deixar o assunto do herdeiro para mais tarde.
Agora que tinha herdado as posses do seu pai, não haveria maneira de o parar. Toda a propriedade Castelfino se transformaria num vinhedo. A produção de vinho aumentaria e também a satisfação de Gianni.
Gostava do papel de milionário que subira a pulso, embora a sua imagem de Don Juan tivesse um valor intangível. Era bom ter uma mulher diferente todas as noites, mas isso não passava de um benefício passageiro. Enquanto os jornalistas tentavam descobrir qual das suas belas acompanhantes escolheria como esposa, Gianni mantinha em segredo a sua verdadeira amante: o vinhedo de Castelfino.
No que se referia a filhos, por enquanto não queria saber nada disso. A sua própria infância tinha sido um inferno e jamais lhe ocorreria fazer algo parecido a outra criança.
Alguma coisa chamou a sua atenção então, uma coluna de pó no caminho que levava à villa…
Gianni pestanejou, incomodado. Não lhe apetecia receber ninguém, mas fez um esforço para se levantar. O seu cérebro continuava a trabalhar apesar da falta de sono, mas as suas pernas pareciam agarradas ao chão.
Atravessou a sala para abrir a porta que dava para o terraço, já que tinha a obrigação de receber aqueles que viessem dar-lhe os pêsames pela morte do seu pai.
Lá fora, não se mexia nem uma folha naquela tarde de Verão, mas conseguia ouvir o canto solitário de um pássaro. O outro som era o motor de um carro. Tudo o resto parecia conter a respiração.
Não era um carro de luxo, mas um táxi, mas não teve tempo de se surpreender antes que o taxista saísse para abrir o porta-bagagem.
O homem tirou imensas malas, que deixou no chão, enquanto conversava com o passageiro, o qual ainda não tinha visto. Gianni observava a cena, incrédulo. Enquanto isso, o rádio do táxi estava ligado…
Ninguém na villa Castelfino tinha levantado a voz durante dois dias. Até àquele momento, tinham mantido as persianas fechadas e aquele estrondo inesperado estava a mobilizar o pessoal da casa. Alguém saiu da cozinha, por uma porta lateral, para tentar sossegar o taxista ruidoso, mas outra surpresa esperava o novo conde.
A porta do táxi abriu-se e dele saiu uma mulher muito bonita. Ao sair, a saia que usava deixou ver umas pernas bem torneadas e lindas. O seu cabelo, loiro-escuro, caía-lhe sobre os ombros. Parecia enjoada ou confusa e teve de se apoiar no carro, talvez pela diferença entre o ar condicionado do táxi e o calor sufocante da tarde. Era lógico, pois usava meias.
O seu corpo tinha despertado para a vida, como lhe acontecia sempre que via uma rapariga bonita. Mas como podia o destino pregar-lhe aquela partida num dia como aquele? O seu interesse por mulheres era uma coisa natural, mas reparar naqueles detalhes, dois dias depois da morte do seu pai, era grotesco, de modo que desviou o olhar.
Mas então ouviu uma gargalhada cativante…
– Signor Bellini, que surpresa! Não tinha esperado voltar a vê-lo e muito menos aqui – ao ver a sua expressão, a jovem ficou calada. Num segundo, passou da alegria à surpresa e depois, ao desconcerto. – É o homem que conheci na Feira de Flores de Chelsea, não é?
– Sim, sou Gianni Bellini – disse ele.
Acabava de a reconhecer, era a rapariga da banca de orquídeas. Gianni nunca esquecia uma cara bonita ou um corpo com umas curvas como aquele, mas não lhe tinha ocorrido que pudessem voltar a ver-se.
– Está mudado… Todas essas namoradas estão a deixá-lo de rastos, signor Bellini.
– O que faz aqui? – perguntou-lhe ele, com tom seco.
A jovem franziu o sobrolho.
– Trabalho para o conde de Castelfino e tínhamos combinado que hoje me instalaria na propriedade. Normalmente, alguém vai buscar-me ao aeroporto, mas, por alguma razão, o motorista não apareceu.
– Porque o meu pai morreu. Agora, eu sou o conde de Castelfino – anunciou Gianni, com formalidade fria.
O sorriso da jovem desapareceu imediatamente.
– Lamento imenso… – nervosa, olhou para o táxi. – E lamento ter chegado assim. Eu não sabia de nada… Posso perguntar o que aconteceu?
– Sofreu um enfarte há alguns dias, em Paris. Morreu ontem… – abanando a cabeça, Gianni passou uma mão pela cara.
– Lamento imenso – repetiu a jovem.
– Não tinha como saber e eu não sabia que a esperava aqui, foi por isso que ninguém foi buscá-la ao aeroporto. Eu cheguei à propriedade há uma hora, mas receio que tenha feito a viagem em vão, menina – distraído, Gianni olhou para o táxi, enquanto tirava a carteira do bolso. – De qualquer forma, como é que os seguranças a deixaram entrar?
– Estavam à minha espera. O meu nome está na lista de visitantes – respondeu ela. – Mas não posso voltar… As plantas da estufa precisam de cuidados e o conde, o seu pai, queria que cuidasse delas.
Gianni abanou a cabeça.
– Agora, eu sou o conde de Castelfino e tenho outros planos para a propriedade. É o início de uma nova direcção e aqui não há lugar para nada que não dê lucro. Eu sou muito mais prático do que o meu pai.
Enquanto falava, viu que os olhos da jovem ficavam húmidos. Quase parecia que se encolhera e, quando falou, a sua voz era apenas um murmúrio.
– Não pode dizê-lo a sério…
– É claro que sim! O vinhedo de Castelfino é a única coisa que me importa. Estou interessado em coisas práticas, não em passatempos absurdos.
Mas, como os velhos hábitos eram difíceis de esquecer, Gianni passou-lhe um braço pelos ombros para a levar até ao táxi.
– Não se preocupe, signorina. Eu pagarei o táxi de volta ao aeroporto e, quando chegar lá, o meu secretário já se terá encarregado de que tenha um bilhete de volta à sua espera. De onde vem, já agora?
– De Heathrow, mas…
Quando chegaram à porta do táxi, Gianni pôs algumas notas na mão do taxista.
– Lamento imenso que tenha vindo até aqui para nada, signorina. Adeus, tenho de ir!
Mas teve de fazer um esforço para não pensar naqueles lábios generosos, naqueles olhos tão azuis. Deveria estar a concentrar-se nos seus planos para os vinhedos de Castelfino, não a distrair-se com uma jovem bonita.
– Não, obrigada, signor Bellini.
Gianni parou, franzindo o sobrolho. Aquilo não deveria acontecer. Se a rapariga tivesse alguma coisa a dizer, deveria ser «obrigada». Era assim que funcionavam as coisas no seu mundo. As pessoas faziam o que lhes pedia, sem discussões.
Mas, enquanto se perguntava como era possível que aquela rapariga tivesse interpretado mal as suas instruções, ouviu uma porta a fechar-se e depois o som de passos, o que o fez virar a cabeça.
E o que viu deixou-o perplexo. A rapariga dirigia-se para ele.
Gianni Bellini, conde de Castelfino, pensou em todos os empregados que estariam a observar a cena. Ele podia ser um Don Juan, mas sabia o que devia fazer e devia reforçar a sua autoridade. Quando aquela rapariga tentasse protestar histericamente, silenciá-la-ia, decidiu.
No entanto, não teve de o fazer.
– Com todo o respeito, signor Bellini, acho que devo ficar. Pelo menos,