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Uma bala com o meu nome. Susana Rodríguez LezaunЧитать онлайн книгу.

Uma bala com o meu nome - Susana Rodríguez Lezaun


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uma indicação do inspetor para acionar o botão.

      — Juntei as imagens dos últimos minutos de vida do senhor Miller. Examinei as duas horas anteriores ao acontecimento e não vi nada de importância. Como vê — explicou, num tom monótono, ignorando o resto das pessoas que se juntavam à volta dele —, o Miller recebe uma chamada no seu telemóvel particular. Ouve, sorri, diz algo muito breve e desliga. Depois, guarda o telemóvel no bolso das calças e sai do balcão. Nas imagens seguintes, vemo-lo a abandonar o edifício pela porta lateral. Não parece que tenha tentado usar o rádio ou o telemóvel para informar o colega.

      — Tencionava voltar em pouco tempo — murmurou Ferguson. — Onde estava o outro guarda, o senhor García?

      O agente manipulou várias teclas e apontou para um dos pequenos ecrãs. Vimos o segundo vigilante a percorrer muito devagar um dos corredores do terceiro andar do edifício. Quase parecia mais um visitante, a passear com as mãos atrás das costas e a desfrutar dos quadros que enfeitavam a parede.

      — Declarou que o Miller não lhe disse que tencionava sair, que ele fez a ronda com normalidade e que, quando ouviu os tiros e correu até onde estava o colega, já era demasiado tarde.

      Ferguson assentiu e indicou com um gesto que continuasse com a emissão das imagens gravadas. As câmaras seguiram o percurso de Scott até à porta e mostraram-no a avançar com passo decidido através do jardim, em direção às sebes do fundo. Sustivemos a respiração quando se aproximou do lugar onde todos sabíamos que morrera. Scott parou e uma sombra preta e difusa apareceu no ecrã. Estavam demasiado longe do foco da câmara para se conseguir uma imagem nítida, mas parecia que o assassino estava do outro lado das sebes, na calçada da rua. Duas chamas repentinas branquearam o ecrã. Gideon e eu demos um salto. Apesar de carecer de som, as imagens eram horripilantes. Quando a câmara voltou a focar-se e conseguiu oferecer uma gravação nítida, o atacante já desaparecera e Scott era apenas um cadáver na erva.

      Não conseguia desviar o olhar do corpo que jazia no chão. De facto, ainda estava lá, a poucos metros de distância de nós. Ver os factos através de um ecrã pequeno dava-lhes um toque de irrealidade a que a minha mente tentava agarrar-se com todas as suas forças, mas o meu lado consciente e responsável não parava de me repetir que o homem que me observava, envergonhado, há poucas horas, era, agora, um corpo ensanguentado e sem vida e que, se me virasse para a esquerda e atravessasse a porta, poderia vê-lo com os meus próprios olhos.

      — A chama impede-nos de ver para onde o assassino fugiu, se entrou num carro ou fugiu a correr, ainda que, a esta altura, de pouco nos servisse.

      — Certo — concordou Ferguson. — E as câmaras de trânsito?

      — Estão a analisá-las. Além disso, uma patrulha está a percorrer os comércios próximos para o caso de algum contar com um sistema de videovigilância. Não deixámos pedra por remexer, inspetor.

       O aludido deu-lhe uma palmadinha nas costas e fez uma careta que devia ser um sorriso, mas que se assemelhou mais a uma fenda reta alongada e um pouco curvada para cima num dos extremos. Como uma navalha. Mostrou uns dentes grandes e brancos e um dente lascado na diagonal no centro que lhe dava um ar de vândalo que condizia perfeitamente com o seu aspeto geral, áspero e descuidado.

      Nesse momento, apareceu Judy Barton, a assistente de Sanders, o curador da exposição de joias. Gideon fez as apresentações formais e fui testemunha de como o inspetor examinava Judy de cima a baixo, sem deixar um centímetro por avaliar. Devia ter gostado do que viu, porque, quando voltei a olhar para a cara dele, sorria sem dissimulação, mostrando a totalidade dos dentes.

      — Preciso que me diga com exatidão que joias levaram — exigiu Ferguson —, o seu valor, a sua procedência, a quem pertencem e como raios é possível que as tenham levado sem que algum dos alarmes tocasse.

      Judy estava muito nervosa. Esfregava as mãos e os seus olhos dançavam, frenéticos, entre o polícia e Gideon, talvez em busca de apoio e conselho. O diretor do museu, já recuperado do choque inicial, tomou finalmente as rédeas da situação e parou junto da assistente trémula.

      — Vamos para a sala. Não tens de te preocupar, Judy, ninguém te culpa pelo que aconteceu.

      — O Robert… — balbuciou.

      — O Robert continua doente. A esposa disse-me que estava bastante mal, mas falarei com ele assim que for possível.

      — Não antes de mim — indicou Ferguson. — Vamos?

      — Gideon — disse, agarrando-lhe o braço com suavidade. Já não tremia. — Se não precisares de mim, eu gostaria de ir para casa.

      — Claro, Zoe. Muito obrigado por vires tão depressa. Ajudaste-me muito.

      — Por favor, liga-me se precisares de mim. Não acho que consiga dormir muito esta noite.

      — Também deves estar disponível para mim, Zoe.

      O sorriso que desenhou na sua cara causou-me um novo calafrio.

      — Senhora Bennett — corrigi.

      Ele levou a mão à cabeça e fingiu tirar um chapéu imaginário. Imediatamente, virou-se e encaminhou-se com Judy e Gideon para a sala que albergava a exposição de joias.

      Saí do museu com passo rápido e firme e dirigi-me para o meu carro. À medida que me afastava do edifício, das luzes, das sirenes e do barulho, invadia-me uma sensação de irrealidade e distância que nunca experimentara, como se o acontecido fosse apenas uma brincadeira do meu cérebro ou como se, na verdade, saísse de ver um filme mau e acabassem de acender as luzes.

      Sentei-me ao volante e esforcei-me para respirar fundo e recuperar a calma. Não queria ligar a Noah, não tínhamos chegado ao ponto em que partilhávamos vivências e confidências, mas prometera-lhe. Além disso, se fosse sincera comigo própria, também não tinha mais ninguém com quem falar. E precisava de desabafar. Portanto, tirei o telemóvel da mala e marquei o seu número. Como prometera, devia estar à espera da minha chamada, porque atendeu ao primeiro toque.

      — Como estás? — perguntou.

      — Não sei. É estranho. A minha mente recusa-se a aceitar o que aconteceu, mas vi o corpo do Scott na erva. Bom, não o vi realmente, só as pessoas que o rodeavam. E vi as imagens da sua morte. Foi horrível…

      — As câmaras filmaram-no?

      — Não exatamente. Vê-se um homem entre as sombras, mas é pouco mais do que uma figura difusa, não se distinguem os traços nem nenhuma característica que ajude a identificá-lo.

      — Talvez a polícia possa fazer alguma coisa no seu laboratório para melhorar a imagem — aventurou Noah.

      — É possível, mas não acredito. A gravação tem uma qualidade muito medíocre e, se ampliarem a imagem para se aproximarem do indivíduo, só vão conseguir uma coleção infinita de pixels sem forma.

      — É uma pena.

      — É, sim. — Fiquei em silêncio por uns segundos. — É tudo muito estranho — repeti.

      — Em que sentido? — perguntou-me.

      — O Scott recebeu uma chamada e saiu para a rua sem avisar o colega. É como se esperasse uma visita ou como se conhecesse a pessoa com que se ia encontrar. Depois, deram-lhe dois tiros. Ele nem sequer tentou defender-se ou fugir. Nada de nada. Ficou ali e morreu. E, depois, há o assunto das joias.

      — O que se passa com as joias?

      — Se o assassino e o ladrão forem a mesma pessoa, não faz sentido chamar o guarda e matá-lo imediatamente. Se tencionava roubar, o mais lógico teria sido abater o vigilante no interior. Depois dos tiros, seria impossível entrar. O segundo guarda correu, alertado pelo barulho, e ativou o alarme imediatamente.

      — Bom, talvez o tenham feito então. Com os dois guardas fora do edifício, conseguiu entrar, roubar as joias e escapulir-se em poucos segundos.

      —


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