Castrado. Paulo NunesЧитать онлайн книгу.
até ela e respondi:
— Desculpe se não a deixei dormir.
— Não tem problema. O sofá é igualmente confortável. Que horas são? — e levantou-se, dando um gole no café.
— Não sei. Deve passar das 15h.
Ela esbugalhou os olhos.
— Meu Deus! Preciso ir embora. Minha filha tem compromisso à tarde com os estudos. Tenho muita coisa para fazer...
— Calma, Rachel. Tome o seu café com calma. Sua filha sabe que está trabalhando — comentei, interrompendo-a, tentando tranquilizá-la.
— Não podia ter dormido aqui. Estou atrasada — e, logo, soltou a xícara de café na mesa e tomou seu casaco para vestir.
Fiquei alguns instantes observando seu nervosismo e pressa. Depois, comentei:
— Pensei que podíamos passar o dia juntos hoje. O que acha?
Ela parou, moveu o pescoço em desconfiança, tentando descobrir por que queria passar o dia com ela. E, em uma frase quase grosseira, questionou:
— O que você quer comigo, garoto? Pagou-me dois mil por uma noite. No momento em que ia embora, pediu-me para ficar. E, agora, quer passar o dia inteiro comigo? A gente nem transou, cara. O que está rolando aqui? Está se apaixonando por mim, é? — e pôs as mãos na cintura, esperando minha resposta.
— Calma. Não sei porque ficou nervosa. Foi só uma ideia. Pensei em sairmos, visitar algumas lojas, comprar algumas coisas, almoçarmos em um bom restaurante, conversarmos... Essas coisas, entende? Imaginei que pudesse gostar — e mordisquei um morango, encarando-a, esperando sua resposta.
Seu semblante, antes de indagação e dúvida, transfigurou-se em alegria e prazer. Suas feições demonstravam isso.
— Fazer compras? — perguntou com o tom de voz baixo e suave, sugerindo que eu continuasse falando.
— Sim. Comprar roupas. Sabe que tenho sentido muito interesse em joias essas últimas semanas. Anéis, colares, brincos, pulseiras, tiaras... Quem sabe, não encontro algo que me agrade? Ou que fique bem em você também? — dei uma última mordiscada no morango e um gole no café, percebendo seus olhos brilharem ao me ouvir falar de roupas e joias.
Rachel permaneceu em silêncio, pensando e me encarando. Depois de desviar seus olhos dos meus, algumas vezes, caçando palavras para aceitar, falou:
— Quinhentos a mais. E já vou avisando que não posso dormir com você hoje à noite...
— Rachel, não precisamos ficar falando de dinheiro a todo instante. Isso é tão chato. Por que não fazemos assim? Todas as vezes que você estiver comigo, pago-te dois mil euros, seja para um turno ou para o dia inteiro? Fica bom assim para você? Se nos virmos todos os dias, poderá passar mais tempo com a sua filha e não terá de ir para a vitrine à noite, pois sei que você não ganha esse valor trabalhando a noite inteira, não é? O que acha? — explanei, suavemente, induzindo-a a aceitar a me fazer companhia durante o passeio.
Depois de mais alguns instantes em silêncio, Rachel perguntou:
— Tem algum telefone aqui para eu ligar para minha filha? — e abriu um sorriso para mim, confirmando que passearia comigo.
— Tem, sim. Ligue e tome seu café. Vou tomar meu drink e me arrumar — e sorri para ela, saindo com minha taça na mão.
Caminhava para o outro cômodo, quando a ouvi perguntar, ansiosa:
— O que é isso? Por que tem tanta comida aqui? Onde vamos comprar as joias?
— Passo o dia beliscando um pouco de cada coisa. Por isso, peço um café completo. Tome seu champanhe e coma o que quiser. Alimente-se bem, pois hoje iremos às compras e não sabemos a que horas voltaremos. Vamos começar com a Tiffany. E, depois, sabe-se lá Deus o que mais — respondi, já dentro do banheiro, tirando a roupa, depois de ligar o chuveiro, aumentando o volume da voz a cada frase.
Era fim de tarde e Rachel e eu estávamos animados. Como estava quente e abafado, optamos por ir andando do hotel até a loja, e, durante todo o caminho, tive que me controlar para não parecer chato, pois ela não parou de falar por um instante sobre como aquele era um dos dias mais importantes em sua vida. O ímpeto dela era visível, e sua ansiedade era enorme. Sorria algumas vezes para ela, tentando compartilhar aquele momento único em sua vida, mas confesso que meus pensamentos eram bem diferentes do que meus lábios transmitiam. Nada agrada mais uma puta que um homem que gaste dinheiro com ela. Pensava, todas as vezes que a ouvia comentar, animadamente, que iria visitar uma das grifes de joias mais caras do mundo, e como cliente, o que a deslumbrava mais ainda. Pelo amor de Deus! É só uma loja! Pare de falar sobre isso! Repetia a mim mesmo, esforçando-me para não deixar escapar o que pensava pela minha boca. É ali, finalmente.
Ao entrarmos, um homem magro, careca e de barba aparada, recepcionou-nos com os olhos. Duas atendentes logo sorriram para nós, ao mesmo tempo em que um garçom se afastou, certamente, para buscar aquele champanhe barato que eles costumam servir para persuadirem os clientes a comprar. Rachel estava nervosa e deslumbrada por entrar na Tiffany. Considerando as poucas gafes que cometeu, posso afirmar que ela se saiu bem. Nem parecia aquela prostituta que conheci na noite anterior, vendendo seu corpo em uma vitrine por cinquenta euros. Ela observava o ambiente com os olhos brilhantes, enquanto caminhávamos despretensiosamente pelas ilhas de vidro espalhadas pelo salão da loja. Não demorou e, logo, o homem careca se aproximou de nós. Ele vestia calça, sapatos e camiseta preta, e, sobre seus ombros, repousava um paletó de veludo azul-marinho. Usava óculos quadrados com armação grafite, o que realçava seu tom de pele claro.
— Boa tarde! Sejam bem-vindos! Posso ajudá-los em algo que desejem? — perguntou, parcimoniosamente, explicando bem cada palavra, tentando ser o mais atencioso possível.
Revirei meus olhos em desagrado àquele atendimento falso. Depois de um sorrisinho forçado, dei as costas para ele, continuando observando uma ilha de colares próximo a mim. Sem resposta, o homem abriu a boca para falar novamente. Nisso, interrompi-o:
— Acho que minha amiga quer ver alguns brincos. Por que não os mostra para ela? — sugeri, ainda contemplando aqueles colares singelos, quase pedindo para que me deixassem sozinho.
— É claro. A senhora pode me acompanhar, por favor? — disse ele a Rachel — levando-a consigo.
Graças a Deus que ela saiu de perto de mim! Não suporto pessoas pobres e deslumbradas! Pensei e tentei acalmar minha irritação, observando aqueles colares tão finos e singelos. Espremia meus olhos e inclinava meu rosto a fim de vê-los melhor. A variedade era enorme, de todos os tipos, estruturas e formatos. Um deles chamou a minha atenção. Suas argolas eram minúsculas, quase imperceptíveis a olhos nus, e seu pendente tinha o formato de um ramo de oliveira, com sete folhas, três em cada lado e uma na ponta. O pendente era preso ao colar por suas pontas, o que o evidenciava ao estar sobre a pele. Que lindo! Por um instante, o passado invadiu meu presente e, logo, imaginei como aquela joia cairia bem naquele peito rígido e peludo do meu irmão. Distraído entre lembranças, ouvi uma voz. Era uma das atendentes que se aproximava e perguntava calmamente se poderia me ajudar. Respondi, pedindo para ver o colar com ramo de oliveira. Enquanto ela dava a volta para o outro lado da ilha de vidro, um garçom se aproximou. Ele carregava em sua mão duas taças de champanhe. E, antes que dissesse alguma coisa, irritando-me, antecipei-me e falei:
— Ela quer champanhe. Por favor, traga-me um pouco de água — e apontei para Rachel com os olhos e, logo, vi o garçom dar as costas para mim, indo em direção a ela, que não parava de falar com o homem careca sobre todos os brincos que tinha gostado de experimentar.
Voltei meus olhos para a atendente, e vi-a vestir uma luva preta em uma mão, abrir a vitrine e retirar cuidadosamente o colar. Foi um verdadeiro espetáculo de beleza, vê-lo sair da vitrine sobre aquele tecido, que cobria a mão da atendente. Estonteante! Estendendo-o diante de mim, ela disse:
— Não é lindo? Essa é uma bela