Castrado. Paulo NunesЧитать онлайн книгу.
Vou tomar banho. Ajuda-me a me vestir? — perguntei, depois de ter apagado o cigarro, entrando no quarto, caminhando para o banheiro, retirando o roupão e jogando-o sobre a cama.
— Ajudo, sim. Só estou com uma dúvida — respondeu.
Virei-me para ela e balancei a cabeça, esperando-a falar.
— Separei uma cueca para você vestir, e não uma calcinha. Devo mudar? — e olhou para minhas pernas.
Nisso, percebi que dormi com uma das calcinhas exclusivas que havia comprado na Victoria’s Secret a pedido de Aidan. Alyce me olhava com cara de luxúria, imaginando o que aquele minúsculo tecido havia testemunhado na noite anterior. Tentando não rir, continuou:
— E precisava ser tão minúscula?
Aproximei-me dela e sussurrei em seu ouvido:
— Ele pediu que eu comprasse a menor que encontrasse, e tinha que ser pink — e fiz cara de que a noite anterior havia sido maravilhosa.
Dei as costas para ela e caminhei ao banheiro, faceiramente, quando a ouvi dizer:
— Precisa me contar essa história, Gaius — elevando a voz para que eu a ouvisse.
— Só depois que me contar a história da garota do Senhor Daan. Alyce, você esqueceu meu drink — gritei de dentro do banheiro, depois de rirmos da situação.
Ela apareceu na porta, fez cara de luxúria e respondeu, sensualmente:
— Não esqueci. George estava em dúvida se iria querer Margarita ou Kir royal. Enquanto você toma banho, vou dizer a ele que quer tomar um Kir com o seu café da manhã — e saiu do banheiro, rindo, criando motivo para ver mais uma vez o bartender gostoso que ela mesma contratou para preparar meus drinks e flertar com ele também.
Pouco mais de um ano antes daquele dia, em que recebi a notícia da morte do Senhor Daan, voltei a viver em Nova Iorque com um objetivo claro e definido. Regressei, determinado a conseguir o que queria e, mesmo que em alguns momentos tenha desistido, nunca consegui me livrar por completo do que imaginei fazer, embora os tormentos mentais que sofri tenham sido avassaladores. Tudo precisava acontecer da forma como arquitetei, e a minha parte consistia em controlar minha fúria, escondê-la de todos e oferecer as doses de veneno no momento certo. Este foi meu maior desafio: administrar meu ódio e escondê-lo de todos. À época, para que as coisas ocorressem como era preciso, tive que revelar parte do meu segredo para Alyce, que, naquele momento, rejeitou veementemente me ajudar. Insistente, fiz com que considerasse minha proposta sob a motivação de que não conseguiria confiar em mais ninguém além dela, e, também, prometi ajudar sua mãe com o tratamento de Alzheimer. Mesmo assim, ela negou meu pedido. Uma semana depois da nossa primeira conversa, em uma manhã de sábado, convidei Alyce para almoçar em um restaurante na Stone Street. Depois de algumas cervejas, uma deliciosa salsicha alemã e algumas risadas, retirei do bolso um chaveiro e dispus, humildemente, próximo ao prato dela.
— O que é isso? — perguntou, segurando as chaves, curiosa.
— Seu apartamento, que fica a uma quadra do Central Park.
Vi seus olhos arregalarem e sua boca carnuda abrir, vagarosamente, enquanto seu rosto assumia o semblante de espanto.
— Do que está falando, Gaius?
— Comprei para você. É seu — e dei um gole demorado na cerveja alemã.
Alyce me olhava assustada e desconcertada, enquanto procurava palavras em sua mente para aceitar minha proposta. Eu, percebendo que ela iria falar, interrompi-a:
— Sua mãe terá todas as despesas médicas pagas pelo tempo que precisar em uma instituição apropriada para cuidar dela. Peça a seu irmão para interná-la e enviar as despesas para Alexander. Ofereço a você um salário cinco vezes maior do que está ganhando atualmente na House’s Barrys. O apartamento é seu, e pode se mudar para lá hoje mesmo, se quiser. Caso desista de me ajudar no meio do caminho, você perde o salário, o apartamento e a ajuda financeira para sua mãe. Vai assinar um contrato de confidencialidade, e eu prometo que não se envolverá diretamente em nada que seja ilegal. E, ainda, que não derramarei sangue de ninguém — disse, à queima-roupa, quase deixando-a sem saída.
Ela me observava falar com seus olhos sorridentes, não acreditando que, finalmente, depois de anos morando em Nova Iorque, teria seu próprio apartamento. Atônita, sem saber o que responder, começou a gaguejar, e foi interrompida, por mim, novamente:
— Alyce, o apartamento foi todo reformado, fica a uma quadra do Central Park, tem sessenta metros quadrados, um dormitório, uma suíte, uma vaga para carro e custou um milhão e quatrocentos mil dólares — e dei mais um gole na cerveja, contemplando sua cara de felicidade.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e respondeu:
— Sem nada ilegal e sem derramamento de sangue. Certo? — perguntou ela, aceitando minha proposta.
Touché! Pensei, regozijando em meu interior, controlando-me para não gritar de alegria.
— Prometo a você — e pisquei o olho para ela, enquanto mostrava meu sorriso de felicidade por tê-la como assistente pessoal e cúmplice do meu plano.
Para comemorar, chamei o garçom e pedi mais duas cervejas alemãs. Percebendo que ela olhava para ele com desejo, comentei:
— Ele é bonito, não é? — e rapidamente analisei o estilo descolado das roupas que ele vestia.
— O nome dele é George. Ele trabalha como garçom aqui durante o dia e é bartender em outro restaurante à noite. Venho no Baviera Bierhaus só para olhá-lo — comentou, baixando a voz como se me contasse um segredo.
— Ele é bartender? Então, acho que você já tem uma primeira missão como minha assistente pessoal. Preciso de um stylist, um cozinheiro, um relações públicas e um bartender. Parece que não precisamos mais procurar alguém para fazer meus drinks, não é? — e dei um sorrisinho safado para ela.
— Está brincando comigo, Gaius? Posso contratá-lo? — questionou, ansiosa e eufórica.
— Avise-o que sou exigente com meus drinks. Pode contratá-lo, sim.
Meu ouvido ficou com um zumbido, depois do grito de felicidade que Alyce deu. Tentando acalmá-la, compartilhando de sua alegria e rindo com ela, ordenei:
— Garota, vá pegar o celular do bartender gostoso e vamos sair daqui, pois temos que ir conhecer seu novo apartamento — e bati repetidas vezes na mesa com a palma das mãos, repleto de alegria, rindo para ela.
Mais uma vez, ouvi um grito fino de Alyce em meus ouvidos.
— Pare de gritar. As pessoas estão olhando — ordenei, tentando controlar as gargalhadas que dávamos juntos.
Não pude controlar minhas lágrimas ao ver Alyce emocionada ao entrar em seu apartamento. Depois de me abraçar e agradecer o presente, ela percorreu todos os cômodos, comentando o que faria em cada um deles e como ordenaria os móveis. Sua alegria era contagiante. Por um instante, enquanto acendi um cigarro, olhei para ela e senti inveja de toda aquela alegria e entusiasmo. Naquele momento da minha vida, acabando de retornar a Nova Iorque pela segunda vez, dentro de mim, só havia dor e saudade. Percebi uma lágrima fina escorrer em meu rosto. Disfarcei e voltei a sorrir. Nos próximos anos, depois daquele dia, Alyce foi, para mim, muito mais que uma amiga e cúmplice. Foi um anjo em minha vida. Sem ela, jamais teria conseguido fazer o que fiz. Só lamento que a promessa que fiz a ela de não derramar sangue, não pude cumprir.
Quando saímos do apartamento dela, levei-a para o hotel, onde, à época, estava hospedado. Chegando à suíte do The Plaza, Alyce e eu fomos recepcionados por Rosa e Juanita. Mãe e filha estavam tendo aulas de inglês, com James, professor particular. Saudou-nos, também, Alexander, advogado da House’s Barrys, que montou uma equipe de profissionais especialistas em finanças e abriu uma