Historia Antiga. UnknownЧитать онлайн книгу.
d'estas se prende chronologicamente ao começo dos tempos historicos, ou pelo menos ao periodo que precedeu a aurora das mais antigas civilizações do Oriente. Começa n'esse ponto a edade de bronze, ou aquella em que as armas e os diversos utensilios, até então construidos exclusivamente de pedra, começam a ser substituidos por outros fabricados de bronze.
A edade de bronze variou muito em duração nos diversos paizes da Europa, sendo n'alguns povos uma epocha inteiramente historica, e pertencendo, pelo que respeita a outros, á Archeologia Pre-historica. No seu todo deve considerar-se como um periodo de transição entre os tempos pre-historicos e os tempos historicos.
Os povos que figuram na Historia da Antiguidade provêm de uma das tres raças semitica, chamitica e japhetida (mais geralmente denominada aryana ou indo-européa), as quaes por isso se dizem raças historicas. A existencia d'estes tres troncos primitivos é revelada pela tradição biblica e confirmada pelas modernas investigações ethnographicas. Quando, decorrido longo periodo depois da creação do homem, Deus, offendido pelos vicios que haviam lavrado em toda a especia humana, resolveu castigál-a com o diluvio, apenas quiz que escapasse Noé, que era justo, com sua familia. Terminado aquelle cataclismo, só os tres filhos d'elle ficaram incumbidos de povoar o mundo, e cada um d'elles—Sem, Cham e Japhet—indo estabelecer-se em pontos differentes deu origem a uma raça. Sem ficou na Asia e foi o pai da raça semitica; Cham passou á Africa e originou a raça chamitica; e finalmente Japhet, estabelecendo-se no oriente da Europa, deu origem á raça japhetida, ou aryana, ou indo-europêa, assim denominada, porque na sua expansão ulterior se estendeu até ás Indias.
A raça semitica—(ou os semitas)—apparece-nos, no decorrer da Historia Antiga, povoando um vasto territorio cingido de um lado peia alta Mesopotamia e pela parte meridional da Arabia, e do outro pelas costas do Mediterraneo e pelo rio Tigre. Eram d'esta raça os habitantes do imperio da Assyria e de parte da Babylonia, os Hebreus, os Lydios e parte das populações da Syria. Presentemente esta raça está representada pelos Judeus e pelos Arabes. A sua importancia historica deriva principalmente das religiões que n'ella tiveram origem e do desinvolvimento a que estas chegaram. N'ella nasceram a antiga religião moysaica, o christianismo e o mahometanismo. Na Edade-Média um ramo d'esta raça—os Arabes—, invadindo a Europa, trouxeram-lhe grande copia da sciencia grega, contribuindo assim para a civilização d'esta parte do mundo.
A raça chamitica—(ou os chamitas)—povoou na Antiguidade a Ethiopia, o Egypto e a Nubia, e incorporou-se tambem na população de Babylonia e da Arabia meridional. Na actualidade está representada pelos fellahs do Egypto, pelos habitantes da Nubia, pelos abexins e pelos tuaregs.
A raça aryana—os aryas, os indo-europeus—foi representada na Antiguidade pelos Indus, Persas, Romanos e Gregos; e actualmente está-o sendo pelos descendentes d'estes povos e pelos Germanos e Slavos. Os povos indo-europeus são os mais importantes sob o ponto-de-vista historico; extendem hoje o seu habitat desde o norte da Europa até ás margens do Ganges; é no meio d'elles que se passa o grande movimento do progresso social, e a sua expansão colonizadora extende-se até aos confins do Novo Mundo, para onde têem transplantado as maravilhas do progresso e os mais perfeitos methodos de cultura intellectual.
Ha nas tres raças historicas de que temos falado um grande numero de variedades, devidas, não só a cruzamentos, mas tambem a modificações filhas da differente acção dos climas e da diversa influencia do meio.
O estudo d'essas differentes variedades leva a uma classificação differente da que sob o ponto-de-vista historico fizemos, e baseada em caracteres anatomicos que são do dominio da Anthropologia.
Os principaes povos que figuram na Historia da Antiguidade são: os Hebreus, os Egypcios, os Assyrios e Babylonyos, os Phenicios, os Carthaginezes, os Syrios, os Persas, os Indios, os Chins, os Gregos e os Romanos. De cada um d'elles trataremos em capitulo especial.
CAPITULO I
OS HEBREUS
A historia dos Hebreus confunde-se no seu principio com as mais antigas tradições da primitiva edade historica do homem. A mais antiga fonte em que ella se estuda é o Genesis, no qual se acham compendiadas as tradições da creação do homem e da primitiva dispersão das raças historicas, em que primeiro se dividiu a familia humana.
Segundo o Genesis, Deus, depois de ter creado o mundo, separado a terra dos mares, e povoado aquella de plantas e de animaes, creou o primeiro homem, que teve o nome de Adão, e creou-lhe logo depois para companheira a primeira mulher, que se chamou Eva. D'este primeiro par nasceram tres filhos: Caim, Abel e Seth. O primeiro, que se deu á cultura dos campos, matou por ciumes a seu irmão Abel, expatriando-se em seguida e indo fundar a cidade de Henochia, que tomou tal nome do primeiro filho (Henoch) do seu fundador. Abel exercêra o mister de pastor. Seth, o terceiro filho de Adão, teve numerosa descendencia, na qual se tornou notavel Noé, pelas circumstancias que vamos referir.
Em tal devassidão haviam cahido os homens, que Deus, como que arrependido de os haver creado, resolveu exterminál-os; mas, como Noé e sua familia conservavam vida virtuosa, no meio do viver vicioso do resto da humanidade, determinou tambem Deus fazer excepção a respeito d'elles. Mandou por isso a Noé que construisse uma arca, na qual se mettesse com a sua familia e com um certo numero de animaes de todas as especies; e, feito isso, mandou á terra o diluvio, que tudo alagou e em que pereceram todos os homens e animaes, excepto os que se continham na arca, a qual fluctuava na superficie da agua.
Terminado o diluvio, que durou quarenta dias, e tendo baixado as aguas e descoberto de novo a superficie da terra, poisou por fim a arca sobre o monte Ararat, na Armenia. Sahiu d'ella Noé, com sua familia e com os differentes animaes, e começou a cultivar a terra. Foi elle o primeiro que cultivou a vinha, fabricou vinho e com este se embriagou.
Falavam a principio todos os homens a mesma linguagem; mas o seguinte acontecimento deu origem a que entre elles se multiplicassem as linguas. Tendo-se estabelecido e havendo alargado a sua occupação nas planicies de Sennaar, entre o Tigre e o Euphrates, tornaram-se orgulhosos do seu valor e poder, e conceberam o plano de construir uma torre, que chegasse ao céu. Começaram a pôr em practica o seu temerario intento; mas Deus, para castigar tamanha ousadia, confundiu-lhes as linguagens, por fórma que elles, deixando de comprehender-se uns aos outros, tiveram que abandonar a obra e que dispersar-se. A torre ficou, pois, por construir-se e denominou-se Babel, vocabulo que quer dizer: confusão. Foi aquella dispersão que deu origem á separação das tres raças, semitica, chamitica o japhetida, dos nomes dos tres filhos de Noé—Sem, Cham e Japhet.
Pouco a pouco se extinguíra na memoria dos homens a sua historia primitiva e as licções e preceitos que n'essa historia se continham. Resolveu por isso o Senhor escolher entre os descendentes de Sem uma familia, que houvesse de ser a guarda e a depositaria das antigas crenças e tradições. Essa familia foi a de Tharé, originaria de Ur (na Chaldéa), e que, por causa da falta de pastagens para os gados, havia ido estabelecer-se na cidade de Haran (na Mesopotamia). Foi alli que Deus revelou a Abrahão, filho do dito Tharé, a missão divina que lhe destinára e como resolvêra constituil-o chefe da raça predestinada ou do povo escolhido. Por mandado do Senhor fez Abrahão varias peregrinações. O Senhor abençoou-o, prometteu-lhe grande descendencia e disse-lhe que teria de sua mulher Sára, até então esteril, um filho,—o que se realizou com o nascimento de Isaac.
Deus, para experimentar a fé e a obediencia de Abrahão, ordenou-lhe que lhe sacrificasse seu filho Isaac, ao que elle sem repugnancia se promptificou, afastando-se para consummar tal sacrificio. Quando ía a descarregar o golpe, Deus lh'o impediu, detendo-lhe o braço e dando-se por satisfeito com aquella prova de obediencia.
Isaac teve dois filhos, que foram Esaú e Jacob. Este ultimo, comquanto mais novo, foi o que recebeu a benção do pae, que estava cego, e que foi inganado, julgando que abençoava Esaú. Áquella benção, obtida subrepticiamente, por conselhos e industria de sua mãe, Rebecca, e á qual estava annexo o cumprimento das promessas que Deus fizera a Abrahão, deveu Jacob o herdar o patriarchado do povo hebreu. Temendo, porêm, a vingança de Esaú, ausentou-se para a Mesopotamia, onde, depois de servir por muitos annos a seu tio Labão, casou com as duas filhas d'este, Lia e