Historia Antiga. UnknownЧитать онлайн книгу.
teve o mesmo Jacob. Esses patriarchas foram:—o 1.º, Ruben; o 2.º, Simeão; o 3.º, Levi (cujos descendentes foram destinados ao sacerdocio e a serem ministros do templo de Deus); o 4.º, Judá; o 5.º, Dan; o 6.º, Nephtali; o 7.º Gad; o 8.º, Azer; o 9.º, Isachar; o 10.º, Zabulon; o 11.º José; o 12.º, Benjamin.
Os mais velhos de entre elles começaram a ter inveja a José, por verem que era o mais estimado de Jacob, e porfim intentaram matál-o, lançando-o n'uma cisterna; mas, mudando de resolução, venderam-n'o como escravo a uns madianitas, que o levaram para o Egypto, onde foi comprado por Putiphar, creado de Pharaó, rei d'aquella nação. Serviu José a Putiphar com tanta fidelidade, que não se prestou a um crime para que o provocava a esposa do mesmo Putiphar. Esta, para d'elle se vingar, accusou-o aleivosamente de falso crime e por esse motivo foi elle mettido n'um carcere. Alli Deus revelou-lhe a significação mysteriosa de uns sonhos que haviam tido dois dos seus companheiros de captiveiro. Um d'estes, como Pharaó tivesse um sonho em que viu septe vaccas magras e septe espigas delgadas, que devoravam septe vaccas gordas e septe espigas fartas, indicou-o ao rei, como capaz de lhe interpretar o sonho. José explicou com effeito ao rei o sentido d'aquella visão. Surprehendido e maravilhado Pharaó com a sabedoria d'elle, elegeu-o para seu ministro, e deu-lhe grandes honras e distinções. José casou com a filha de um sacerdote de Heliopolis, da qual lhe nasceram seus dois filhos Manassés e Ephraim. Como ministro, e gozando toda a confiança do rei, organizou a arrecadação dos cereaes, de modo que, quando chegaram os septe annos de fome, symbolizados nas septe vaccas magras e nas septe espigas delgadas do sonho, o Egypto estava provido contra a escassez e ainda poude efficazmente soccorrer as povoações proximas, nas quaes se não tinham adoptado eguaes providencias.
A escassez de alimentos, que tambem se sentiu em Chanaan, terra onde com sua familia habitava Jacob, obrigou este a mandar ao Egypto seus filhos, a comprar trigo. Soube da chegada d'elles José e, sem se lhes revelar como seu irmão, obrigou-os a declarar quem eram e a deixarem em poder d'elle, em refem, a Simeão, emquanto iam a Chanaan a buscar-lhe Benjamin, o irmão mais novo.
Obrigados a voltarem ao Egypto, por causa da fome que continuava, conseguiram que Jacob, apesar da sua repugnancia, deixasse ir Benjamin; e então José, dando-se a conhecer aos irmãos, entre lagrimas de alegria, mandou-lhes que voltassem a Chanaan, a buscar Jacob e toda a familia. Assim aconteceu, indo toda a familia de Jacob estabelecer-se no Egypto. Alli viveu ainda Jacob 17 annos, vindo a finar-se na edade de 147, depois de abençoar seus filhos, com bençãos mysteriosas e propheticas, vaticinando que na descendencia de seu filho Judá estaria o imperio e o governo do povo, até vir ao mundo o Messias, que havia de remir o peccado de Adão. Fallecido Jacob, ficaram residindo no Egypto seus filhos, nas terras que, em attenção a José, lhes havia dado o Pharaó, e nas quaes tiveram numerosa descendencia.
Permaneceram os Israelitas ou Hebreus no Egypto por espaço de 217 annos. No decurso d'estes, os Egypcios, desconfiando d'elles, opprimiam-n'os cruelmente, obrigando-os a trabalhos duros, e o rei mandava matar-lhes todos os filhos recem-nascidos do sexo masculino, os quaes eram lançados ao Nilo. Nascendo Moysés, filho de Amrão e de Jocabed, esta conseguiu occultál-o por espaço de tres mezes; mas, não o podendo conservar escondido por mais tempo, lançou-o áquelle rio, dentro de um cesto. Estando a filha do rei a banhar-se no rio, viu a creança, salvou-a e deu-lhe o nome de Moysés, que quer dizer: «salvo das aguas». Depois levou-o para a côrte, onde foi creado e passou a mocidade.
Deus, condoido de quanto os Hebreus soffriam entre os Egypcios, resolveu livrál-os da oppressão, fazendo-os sahir do Egypto, por meio de assombrosos milagres. Foram esses prodigios obrados por intermedio de Moysés e de seu irmão Arão, apparecendo primeiro Deus a Moysés no monte Horeb, e mandando-lhe que fosse á presença de Pharaó, a pedir-lhe que deixasse sahir do Egypto o povo de Israel. O rei, bem longe de acceder ao pedido, antes redobrou a perseguição.
Então começaram os milagres. Indo Moysés e Arão á presença de Pharaó, para lhe mostrarem como era vontade de Deus o que lhe pediam, lançou Arão na terra uma vara que levava na mão, e a vara logo se converteu em serpente. Quiseram os magos imitar a transformação, convertendo tambem outras varas em serpentes; mas a serpente em que se tornára a vara de Arão devorou todas as outras. Continuou, apezar de tudo, a obstinação de Pharaó; e Deus, para mais claro aviso e para castigo, mandou ao Egypto as dez pragas, que assolaram todo o paiz.
Essas pragas foram as seguintes: a primeira consistiu em se converter em sangue a agua dos rios e das fontes do Egypto, morrendo todos os peixes; a segunda, n'uma innumeravel multidão de rans que intravam por todas as casas; a terceira, n'uma quantidade enormissima de mosquitos e de outros insectos, que tornavam a vida insupportavel; a quarta, n'uma abundancia de moscas, que perseguiam atrozmente homens e animaes; a quinta foi uma peste que matou um numero enorme de pessoas e fez tambem grande devastação nos animaes; a sexta foi uma epidemia de chagas hediondas e repugnantes, que appareciam nos corpos dos Egypcios e dos animaes; a septima, uma grande chuva de pedra, acompanhada de terrivel trovoada, ficando destruidas por ellas as arvores, plantações, sementeiras e pastos; a oitava foi o apparecimento de uma nuvem de gafanhotos, que tambem produziram incalculavel estrago nos campos; a nona manifestou-se por umas trevas muito espessas, que por tres dias escureceram o Egypto, excepto a terra de Gessen (logar em que habitavam os Hebreus, aos quaes não chegou nenhuma das pragas); a decima consistiu na morte de todos os primogenitos egypcios, desde o filho de Pharaó até ao do escravo mais humilde, e tambem na de todos os primogenitos dos animaes.
Movido finalmente Pharaó pela decima praga, consentiu que os Hebreus sahissem do Egypto. Na noite do dia 14 do mez de Nisan, que corresponde ao de março, sahiram, pois, os descendentes de Jacob da terra dos Pharaós, em tão grande numero, que só homens armados e capazes de pelejar eram mais de 600:000. Guiava-os um anjo por meio de uma columna, que de dia era formada como que de uma nuvem, e de noite era de fogo. Esta columna precedia os Hebreus e indicava-lhes o caminho atravez do deserto. Caminhavam por este, quando Pharaó, de novo indurecido, se arrependeu da concessão que fizera, mandou armar todos os seus carros bellicos e sahiu com um numeroso exercito, a perseguir e captivar outra vez o povo de Israel, que ia já perto do Mar Vermelho. Vendo-se de novo perseguidos pelos Egypcios, os Israelitas começaram a murmurar contra Moysés, por havel-os mettido n'aquelle perigo; mas este exhortou-os a que tivessem Esperança em Deus e, extendendo uma vara, que levava na mão, sobre o Mar Vermelho, as aguas dividiram-se para um e outro lado, deixando no meio um caminho enxuto, pelo qual passaram a salvo os Israelitas. Chegando os Egypcios e vendo as aguas divididas, intraram no mesmo caminho para os perseguirem; mas, estando já todos n'elle, Moysés levantou outra vez a vara sobre o mar e as aguas voltaram á sua posição natural, ficando submerso todo o exercito de Pharaó.
Em memoria da sahida do Egypto, mandou Deus aos Hebreus que celebrassem perpetuamente a Paschoa, matando todos os annos e comendo com certas ceremonias um cordeiro.
Passado o Mar Vermelho, fôram elles caminhando por diversos logares até ao deserto,—onde começou o Milagre do maná. Era este um manjar delicioso que cahiu do céu durante quarenta annos, emquanto os Israelitas peregrinaram no deserto até intrarem na terra da promissão. Com elle se alimentavam, colhendo cada um diariamente uma certa medida, por fórma que, se queria guardar alguma porção para o dia seguinte, logo o manjar se corrompia. A peregrinação pelo deserto durou tanto tempo, porque assim o determinou Deus, em castigo das murmurações e falta de fé dos Israelitas á sahida do Egypto, fazendo-os retrogradar para o deserto, quando estavam já perto da terra da promissão.
Appareceu Deus a Moysés sobre o monte Sinai, e entre raios lhe deu as taboas da lei, em que estavam escriptos os dez preceitos do decalogo, e dictou-lhe as outras leis e ceremonias que queria que fossem usadas pelo seu povo. Emquanto Moysés estava sobre o Sinai—que foi por quarenta dias e quarenta noites—pediram os Israelitas a Arão que lhes fizesse um deus que adorassem e que os governasse. Annuiu elle ao pedido e fabricou um bezerro de oiro, que puzeram n'um altar e adoraram, e ao qual offereceram sacrificios. Quando Moysés desceu do monte e teve noticia d'este acto de idolatria, depois de orar ao Senhor—em desaggravo de tão grande peccado,—em signal de indignação, quebrou as taboas da lei, mandou aos levitas que matassem os Israelitas que incontrassem no caminho, calcou aos pés e reduziu a pó o bezerro de oiro, e supplicou a Deus que perdoasse ao seu povo, o que elle fez a final.
Perdoado