Eu Sou Seu Bicho Papão. T. M. BilderbackЧитать онлайн книгу.
O XERIFE DO CONDADO de Sardis, William "Billy" Napier, entrou com a viatura no estacionamento da Escola Técnica Nathaniel Sardis. Vários policiais municipais de Perry, o médico legista do condado e duas ambulâncias com paramédicos já haviam chegado. Para encontrar a cena do crime bastou seguir as luzes vermelhas e azuis.
No Condado de Sardis (Onde VOCÊ Faz a Mágica!), a sede é Perry. Das três “cidades” oficiais do condado de Sardis, Perry era a única que possuía uma força policial municipal. Por decreto dos comissários do condado, porém, o xerife era encarregado de aplicar a lei dentro de todo o condado, incluindo a cidade de Perry. Billy costumava permitir que a Polícia Municipal de Perry lidasse com a maioria das ocorrências dentro dos limites da cidade, mas um assassinato era grande demais para Godfrey Malcolm, o delegado alcoólatra.
Godfrey Malcolm era bêbado, incompetente e babaca. Costumava emitir mandados conflitantes e depois não se lembrava das ordens que havia dado. Outro costume era exigir aos presos da cidade que o chamassem de "Deus", o que seria demasiadamente pretensioso se ele não tivesse desenvolvido um ego grande o suficiente para fazer valer o apelido. Ter de dar satisfações a Napier irritava Malcolm. Napier era um policial honesto e tratava todos com justiça, inclusive os prisioneiros. Malcolm, pelo contrário, costumava passar a mão em qualquer dinheiro que os criminosos deixassem para trás, e muitas vezes pegava tudo que os detentos da cidade pudessem ter em suas carteiras, bolsos ou bolsas, depois os desafiava a contar para alguém. Havia rumores a respeito de espancamentos noturnos, mas nenhum preso jamais havia apresentado queixa ou admitido que Malcolm tivesse alguma relação com os fatos.
Alguns chegaram a contar... para Billy. Mas, como o dinheiro desaparece facilmente, Billy nunca conseguiu encontrar outra evidência além da palavra da pessoa que apresentou a queixa. Qualquer pedra que estivesse sobre o local em que Malcolm enterrara seu tesouro roubado ainda não se revelara ao mundo, mas Billy era um homem paciente. Como Malcolm era contratado pelo Município de Perry, Billy não podia demiti-lo, e isso o irritava, pois havia poucas coisas que ele odiava mais do que um policial desonesto, brutal e bêbado.
Billy não viu o carro de Malcolm estacionado no campus. Deve estar dormindo em algum lugar.
Billy saiu do carro e ajustou seu coldre. Fechou e trancou a porta da viatura. Todo cuidado é pouco. Esses ladrões malditos estão por toda parte.
Billy caminhou até a porta de entrada, onde dois policiais municipais faziam a guarda.
— Bom dia, rapazes — disse o xerife ao acenar para eles.
— Bom dia, Xerife — disseram os dois policiais, quase em uníssono.
Um dos policiais abriu a porta para Billy.
— Obrigado — disse o xerife ao adentrar o prédio.
Ao caminhar pelo longo corredor, Billy notou como seus passos faziam um barulho oco. Som esse que foi suprimido pelo das vozes conforme se aproximava da cena. Mais dois policiais estavam de guarda do lado de fora do laboratório de biologia.
— Bom dia, Xerife — disse um policial. O outro cumprimentou com a cabeça.
— Bom dia — respondeu Billy.
Ele interrompeu a caminhada logo antes da porta.
— Muito feio?
O policial que havia falado assentiu.
— Sim. Mais um picadinho do Maníaco de Sardis.
— Ei, parem com isso! Não quero que a imprensa comece a publicar apelidos, muito menos vindos da própria polícia! Estamos entendidos?
O policial calado assentiu, e o outro disse timidamente:
— Sim, xerife.
— Obrigado — disse Billy, e passou pela porta do laboratório de biologia.
A cena que vislumbrou era grotesca, mas de certa forma organizada. A vítima fora empalada, provavelmente pelo assassino, em uma série de ganchos de pendurar jalecos que estavam parafusados em uma parede. Suas mãos estavam estendidas e também espetadas nos ganchos, e seus pés haviam sido pregados à parede de tijolos com um pitão de escalada. Os pés da vítima estavam descalços e haviam sido pregados um por cima do outro, de modo que a cena se assemelhasse a uma crucificação. A cabeça da mulher estava presa com fita adesiva na parede, com uma tira que passava sobre a testa. Espinhos foram colados ou presos de alguma outra forma à fita adesiva, incrementando ainda mais a imagem da crucificação. Claramente foi do outro lado da sala que a sua garganta fora cortada, ao lado de um armário de duas portas, embora não houvesse tanto sangue em frente a ele. Parecia que, uma vez que a vítima havia sido empalada nos ganchos, seu abdome e peito foram abertos com um instrumento cortante. Seus órgãos foram dispostos em um padrão circular no chão, envolvidos por um coração moldado com o intestino. Escritas acima de sua cabeça, na parede branca, estavam as palavras: "Eu so seu bixo papao". As palavras com erros ortográficos foram escritas com o que parecia ser o sangue da vítima. A vítima perdera tanto sangue que seu corpo adquirira um tom cinza fantasmagórico. O coração, no entanto, estava faltando.
O fotógrafo que trabalhava para o Instituto de Criminalística do Condado de Sardis, Ted Baker, também era fotógrafo da equipe do Sentinela de Sardis. Há muito tempo, Billy o advertira sobre o conflito entre os empregos.
— Teddy, se você decidir aceitar os dois trabalhos, terá que aprender a calar a boca de vez em quando. Você tirar fotos para a polícia e para o jornal do condado não significa que você tenha exclusividades. Na maioria das vezes, não haverá problemas. De vez em quando, porém, você terá acesso a informações que não serão liberadas ao público... até que eu dê a permissão. Combinado?
— Combinado — respondeu Ted, obviamente omitindo sua disposição a quebrar esse acordo, se isso pudesse alavancar sua carreira jornalística.
Ted agora tirava fotos da cena do crime. O médico legista, Kenneth Pirtle, instruía Baker sobre quais ângulos ele queria. A equipe de perícia aguardava a aprovação de Pirtle, mas Billy não confiava muito neles. Este era o terceiro assassinato atribuído ao Maníaco, e o xerife ainda não tinha recebido nenhuma informação relevante. Nos três assassinatos, cada uma das vítimas havia sido exibida da mesma maneira, com os órgãos no centro de um coração feito a partir do intestino. A maior parte do sangue de cada vítima havia sido drenada e o coração de todas estava faltando.
E, nos três assassinatos, as mesmas palavras incorretas, escritas na parede com o sangue da vítima.
Billy se perguntava se o erro de ortografia era intencional.
Billy chamou Pirtle:
— Ei, Kenny!
Pirtle cumprimentou o xerife com um aceno enquanto passava ao fotógrafo os últimos ângulos que queria para as fotos da cena do crime. Quando terminou de explicar, Pirtle se aproximou de Billy.
— Muito macabro, Billy — disse Pirtle.
— Você não tem nada para mim ainda, por acaso?
— Claro que sim, Billy, temos um sacão cheio de porcaria nenhuma para você. Não tem DNA, nem cabelo, nem pele sob as unhas da vítima. Nada. Talvez o laboratório encontre alguma coisa, mas se for como os dois últimos... — Pirtle deu de ombros.
Billy balançou a cabeça, com os lábios apertados.
— Kenny, você tem que encontrar algo que eu possa usar. Uma hora isso vai vazar pra imprensa, e as pessoas vão querer a minha cabeça se eu não descobrir quem é o responsável.
— E você acha que eu não sei disso? Não houve nada que a perícia pudesse nos dar, e quando digo nada, é nada mesmo. Eu já trouxe o pessoal do laboratório estadual aqui, e mesmo assim ainda não tive sorte — ele balançou a cabeça em desgosto — é quase como