Эротические рассказы

Cian. Charley BrindleyЧитать онлайн книгу.

Cian - Charley Brindley


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as caixas.

      A campainha do Borboleta tocou, sinalizando o início do segundo turno de guarda e me trazendo de volta das minhas memórias. Enchi meu cachimbo na bolsa de couro, Kaitlin teve uma pequena folga da cozinha antes do jantar e eu fiquei de vigia até as quatro da manhã, dando à nossa pequena família a oportunidade de ficarmos juntos por alguns momentos antes da refeição da noite.

      O sol foi tomado por uma muralha de trovoadas que se aproximava do sudeste ao longo do horizonte, proporcionando um brilho dourado através das cortinas de chuva que se inclinavam para o oceano. Cian inclinou a cabeça e depois se afastou lentamente de nós, na direção do castelo de popa, Ela parecia estar em algum tipo de transe hipnótico, movendo-se silenciosa e deliberadamente, tentando não emitir um som que dissolvesse ou afugentasse as notas exóticas e melódicas que chegavam ao seu ouvido inocente, subiu o meio lance de degraus de dois em dois passos até o tombadilho, como era necessário por causa de sua perna direita desajeitada e nós a seguimos, quase como um, imitando seus cuidadosos passos. No andar superior, encontramos Doki, o fogueiro da sala de máquinas, sentado na cabine baixa, tocando violão enquanto se recostava nas primeiras sombras do crepúsculo que se aproximava. Doki tinha quase setenta anos, imaginava, era magro e ossudo, seus cabelos longos e grossos haviam sido penteados em algum momento nos últimos dias, mas parecia que cada mecha cinza tinha vontade própria, querendo esvoaçar para múltiplas direções.

      Cian ficou parada ouvindo, como se estivesse paralisada, os ágeis dedos de Doki dançavam sobre as cordas de um instrumento velho e desgastado que poderia ser mais velho que o tocador.

      – O quê…? – Cian sussurrou, quase sem voz.

      Não sabia se ela queria o nome da música, a natureza dos sons ou o velho, mas antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, outra voz veio de uma espreguiçadeira nas proximidades.

      –É a Sonata ao luar, de Beethoven.

      Na verdade, a voz não vinha da própria cadeira, mas de sua ocupante.

      Cian se virou na direção da voz, mas eu sabia que ela não havia compreendido uma só palavra dita.

      –Qual o seu destino?

      Esta, exatamente como a primeira afirmação, chegou a nós em perfeito espanhol castelhano e foi dirigida, pensei, a mim. Vimos a senhora balançando os pés no convés e, auxiliada pela bengala, puxar-se suavemente para uma posição ereta. Ela ajeitou seu longo vestido, de brocado vermelho, e ficou ali por um instante, nos últimos momentos amarelos do dia, obviamente acostumada a chamar a atenção de todos com sua presença.

      – Insisto que me desculpem —ela continuou, caminhando em direção a uma abertura no parapeito que acabara de aparecer ao meu lado, onde Kaitlin e Rachel estavam apenas um momento antes. Observando atentamente, podia-se detectar que ela mancava um pouco em seu passo imponente. – Ouvi seu discurso e, ainda que considerasse toda minha vida não consigo determinar o idioma, apenas deduzi sua pergunta por sua atenção ao nosso músico aqui – Ela balançou a bengala na direção de Doki e depois encaminhou seu olhar para Cian – Me permite ver sua perna?

      Minhas habilidades linguísticas eram boas, mas meu conhecimento de espanhol se limitava às palavras semelhantes em português.

      – Com licença – eu disse em meu português cuidadoso— você pede meu braço?

      Ela estava me pedindo para acompanhá-la até a amurada do navio? Dei um passo em sua direção e ela me parou com sua bengala.

      – Não, não – disse ela, balançando bastão esguio na direção de Cian – Gostaria de ver a perna de sua servidora. Essas palavras vieram quase como uma ordem.

      Hero rosnou em sua direção, eu vi aquele olhar selvagem em seus olhos, os pelos pretos ao longo de sua espinha endureceram, Rachel rapidamente pegou o animal para mantê-lo afastado.

      Eu entendi a palavra “servidora”, como Kaitlin. A mulher estava perguntando algo sobre Cian, a quem ela assumiu ser nossa serva, eu queria esclarecê-la sobre isso, mas seria difícil no meu fraco portunhol.

      – Parlez-vous français? Kaitlin perguntou. Sempre descobrimos que o francês é a língua falada com mais frequência no mar, sendo o esquecido inglês de pouca utilidade a bordo ou em qualquer outro lugar daquele tipo.

      – Un petit – ela respondeu.

      – Esta mulher – disse-lhe em francês – não é nossa serva, mas minha vida … quero dizer, minha esposa.

      Fui até o lado de Cian, satisfeito com a realização da minha recém-descoberta habilidade poliglota, mas incapaz de disfarçar minha indignação. Repeti minha frase em Yanomami, menos a confusão de substantivos, para o benefício de Cian. Queria acabar com esse ridículo mal-entendido para que a intrusa pudesse ir para o lado despovoado do pórtico para jantar ou que queimasse no inferno… Eu me senti profundamente ofendido, se não por mim, pela mulher ao meu lado, mas Cian mostrou apenas um sorriso divertido enquanto eu empurrava meu cachimbo preto vazio no lado da minha boca emburrada.

      – Ah! Mil perdões – disse a senhora, caminhando rapidamente ao redor de Cian e pegando sua mão – Por favor, desculpe a ignorância de uma velha por uma situação óbvia. Seu sorriso foi cuidadosamente projetado para ser sincero e se desculpar – Você pode me chamar de Lilian.

      Eu segui traduzindo o francês bruto para Yanomami. Cian olhou para mim e perguntou o que eu tinha dito, tirei o cachimbo dos dentes cerrados e repeti a tradução.

      Cian fitou Lilian.

      – Eu não me ofendi.

      – É que sua linda pele morena é tão diferente da palidez de seu marido.

      Não achei que ela tivesse escolhido a palavra correta para minha condição de pele, então traduzi como “brancura” mesmo.

      Cian sorriu para Lilian, depois olhou de volta para o violonista.

      – Qual é a palavra para isso e como pode ser feito?

      Na Amazônia, como em qualquer outro lugar à beira do profundo abismo conhecido como “civilizado”, sempre estava presente alguma forma de música, seja batendo ritmicamente paus em troncos ocos ou soprando na boca de uma cabaça vazia. Mas a descoberta de instrumentos de corda ia um pouco adiante no caminho da experimentação. Cian estava ouvindo música erudita pela primeira vez em sua vida. Devo admitir que nunca ouvi a Sonata ao Luar tocada ao violão, mas Doki apresentou uma excelente versão da peça originalmente escrita para o piano.

      – Chamamos de música – eu disse – E isso só pode ser alcançado com uma grande quantidade de talento e muitos anos de prática.

      – Talento? – ela perguntou.

      Expliquei com alguma dificuldade, tentando igualar a habilidade musical de Doki à sua experiência com a selva.

      – Você – eu disse a ela – pode tirar um galho da árvore, juntar algumas pedras, e fazer uma bela e útil arma, com os quais eu não poderia construir nada além de um brinquedo bruto. Doki é capaz de pegar um bloco oco de madeira com algumas cordas e usá-lo para produzir sons bonitos, eu ou você, usando as mesmas ferramentas, provavelmente não conseguiríamos nada além de uma raquete irritante.

      Cian largou a mão de dona Lilian e se aproximou de Doki, enquanto ele começava outra música, ele permaneceu no telhado do castelo de popa, sentado um pouco acima de nós. Essa música eu reconheci como Scarborough Fair.

      –Onde você conseguiu seu talento? —ela perguntou.

      Ele piscou para mim e depois para ela com seu sorriso torto, continuando sua música sem a necessidade de supervisionar seus dedos. Finalmente, quando ele estava pronto para responder, percebi que o pobre homem tinha apenas quatro dentes restantes em sua boca, dois na parte superior e dois na parte inferior, nenhum alinhado com os outros.

      Doki respondeu, em seu francês muito provincial:

      – Você,


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