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Cian. Charley BrindleyЧитать онлайн книгу.

Cian - Charley Brindley


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sentou-se ao lado de Cian. Hero estava deitado ao lado de Rachel, com o queixo na coxa enquanto observava o rosto de Cian, que estava pacificamente em repouso.

      Olhei através da lareira para minha irmã, ela não estava em sua tarefa habitual da noite com as anotações e espécimes de plantas, ao contrário, ela apenas fitava as brasas brilhantes.

      – Parece-me – eu disse – que a tragédia na vila ocorreu há muito tempo, talvez vinte anos ou mais.

      A floresta havia recuperado tudo ao cobrir lentamente as cabanas em ruínas com trepadeiras e raízes, apagando memórias da vila. Uma pequena tribo escavara uma casa na selva imponente, e a natureza apagara tudo, junto com o seu povo.

      Depois que Cian falou sobre o túmulo de sua mãe mais cedo naquele dia, ela ficou em silêncio por alguns minutos, se levantou, limpou as bochechas e começou a procurar algo. A parte interna da aldeia estava coberta de mato, Cian afastava as ervas daninhas, observando o chão enquanto caminhava. Finalmente, ela encontrou algo e se ajoelhou, era o osso de uma perna humana. Cian sussurrou algo para Rachel quando ela começou a cavar a terra.

      – Tudo deve estar no chão – Rachel traduziu as palavras de Cian e a ajudou na escavação.

      Kaitlin encontrou mais alguns ossos nas proximidades.  —Uma pá seria útil agora – ela murmurou, usando um graveto para quebrar o solo.

      – Aqui está um pouco mais fácil – eu disse e usei minha faca de caça para afrouxar o terreno, depois a tirei com as mãos.

      Não era uma tarefa difícil, o solo era macio e disposto a ser aberto para receber os restos mortais, mas era um trabalho triste e horrível, quando começamos a encontrar os restos, descobrimos que eles estavam por toda a vila. Provavelmente, os animais caçadores haviam arrastado os ossos e, depois de tanto tempo, era impossível saber o que matou as pessoas.

      –Ah, não! – Eu ouvi Rachel chorar.

      Fomos para onde ela estava ao lado de uma das cabanas que desabara, ela estava olhando para o chão. Lá no mato vimos um crânio minúsculo, a julgar pelo tamanho, a criança deveria ter sido muito mais nova que Rachel quando morreu.

      –Você não deveria estar vendo isso— disse Kaitlin, abraçando a filha.

      Ela estava certa, mas o que poderíamos fazer? Não sabíamos com o que estávamos lidando quando chegamos à vila e também não acho que Cian sabia, pelo menos não em um nível consciente.

      Cian e eu enterramos o pequeno crânio e colocamos uma pedra ao lado dele, como ela havia feito pelos outros.

      Agora Kaitlin acrescentava outro graveto para crepitar sob o fogo, enquanto Cian ainda dormia com a cabeça em meu colo.

      –Não sei o que aconteceu com eles, querida, pode ter sido algum tipo de doença ou um ataque – disse minha irmã em resposta à pergunta de Rachel sobre os moradores.

      – Mas como Cian sobreviveu? – perguntou Rachel.

      – Se foi há tanto tempo quanto imagino – eu disse —ela poderia ser apenas uma criança quando isso aconteceu.

      – Sabe o que eu acho? – Kaitlin disse.

      Eu olhei para ela.

      – Não acredito que Cian tenha voltado lá em todos esses anos, caso contrário, os ossos estariam enterrados há muito tempo.

      – Faz todo sentido. – eu disse —Ela parecia perdida e confusa até encontrar a rede da mãe, acho que foi assim que ela soube quem era: a rede e os arredores.

      – Eu me pergunto o que ela fará agora – disse Kaitlin.

      Eu não tinha pensado tão longe. O que Cian faria? E eu, vou fazer o que? Ela estava sozinha quando a conheci no cais, talvez ela voltasse à sua vida solitária na floresta.

      – Teremos que voltar para chegar a tempo do Encontro em breve – eu disse— e ainda não encontramos Alichapon-tupec.

      –Estou começando a pensar que não existe esse lugar, mas de toda forma, Cian me deu amostras e informações sobre plantas suficientes para compensar uma dúzia de Alichapon-tupecs, vou levar um mês inteiro para organizar e catalogar tudo.

      – E o encontro?

      – Se ainda formos a ele – disse Kaitlin.

      Minha irmã, sempre estava alguns passos à minha frente.

      –Eu pensei que estávamos indo para o encontro cigano nos Pirineus e depois para a Riviera no outono, não?

      –As coisas mudam.

      Agora eu estava em um dilema, mas aparentemente, Kaitlin já havia chegado a uma decisão. Ela não gostava muito de explicar seus planos em detalhes, e eu nunca fazia muitas perguntas, sempre preferindo descobrir as coisas por conta própria.

      Decidimos nossos planos vários meses antes, no encontro, Kaitlin compilaria anotações sobre remédios ciganos e populares, depois passaríamos um ano na Riviera enquanto ela editaria e revisaria sua etnofarmacopedia, preparando-a para publicação. Mais de uma dúzia de cadernos estavam cheios de anotações e espécimes de plantas medicinais que ela colecionara ao longo dos anos, junto com os esboços que eu desenhei para ela.

      Na Riviera, perto da vila de Villefranche, ficaríamos no grande hotel Miratroka. Mon ami Monsieur Victoy, dono daquele estabelecimento gentil e um cavalheiro, me dava emprego sempre que aparecíamos à sua porta. E era lá que no outono, esperávamos colocar Rachel em uma escola inglesa por um ano, enquanto sua mãe trabalhava no manuscrito. A menina era, sabíamos, muito avançada para qualquer aluno do terceiro ano, mas achamos que socializar um pouco nas salas de aula e no pátio da escola a faria bem, para equilibrar seu bem-estar intelectual.

      – Eu me pergunto – eu disse – qual é a palavra Yanomami para casamento?

      – Natohiya – foi a resposta rápida de Rachel.

      Kaitlin olhou para cima.

      – Como você sabe disso?

      A menina deu de ombros.

      – Nós falamos sobre isso.

      – Por quê? – eu perguntei.

      – No começo – disse Rachel – Cian pensava que você e minha mãe eram casados e eu era sua filha.

      – Você aprendeu muito Yanomami? – Kaitlin perguntou.

      – Nem tanto, mas consegui algumas palavras e, usando nossas mãos, podemos conversar um pouco. Também estou ensinando português para ela, ela ficou muito feliz quando lhe disse que o nome do meu pai é Ian e ele constrói grandes coisas no oceano.

      – Ian McAveety. – disse Kaitlin – Eu não penso nele há meses, você e eu poderíamos vê-lo na Escócia. Você gostaria disso, Rachel?

      – Não sei, não o vimos pouco antes de irmos para a Índia? Quando Cian disse que se você e Saxon eram casados, contei a ela sobre Ian.

      – Sim – disse Kaitlin – mas isso foi há dois anos, você não sente falta do seu pai?

      – Talvez – disse a garota – mas se ele me quisesse, viria nos encontrar. Ela rolou Hero para esfregar sua barriga. –Além disso – disse ela – tenho tio Saxon para cuidar de mim.

      Kaitlin voltou-se para mim.

      – Casamento? – ela perguntou.

      – Eu estava pensando – eu disse a ela – como os Yanomami se casam.

      – O chefe – Rachel disse enquanto brincava com seu cachorro – amarra suas mãos com uma videira, diz algumas palavras, então todos vão fazer uma shabona para eles, só isso e estão casados.

      – O que é shabona? – eu perguntei.

      – Uma


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