Desejo mediterrâneo. Miranda LeeЧитать онлайн книгу.
é-te familiar?
A mãe empalideceu e ela já não sentiu medo, só desilusão.
– Era o meu pai, não era? – perguntou, num tom fraco.
Nora gemeu e assentiu com tristeza.
Veronica cerrou os punhos e tentou evitar que a emoção a invadisse. Não estava tão zangada desde que descobrira a verdade a respeito de Jerome.
– Porque não me contaste a verdade? – inquiriu. – Porque me contaste essa história sobre o meu pai ser um estudante pobre da Letónia? Porque não te limitaste a admitir que tinhas tido uma aventura com um homem rico?
– Eu não tive uma aventura com o Laurence! – negou a mãe. – Não foi assim. Não compreendes…
Tinha os olhos cheios de lágrimas.
Pela primeira vez na sua vida, Veronica não sentiu pena dela.
– Então, como foi, mãe? – perguntou, num tom frio. – Faz com que compreenda.
– Não podia contar-te porque dei a minha palavra ao Laurence de que não o faria.
– Deves saber que o teu Laurence morreu – informou ela. – E que me deixou uma coisa no testamento. O testamenteiro acabou de me ligar. Agora, sou a dona de uma villa na ilha de Capri. Que sorte a minha!
Nora limitou-se a olhar para ela.
– Mas… e a esposa?
– Também faleceu. Aparentemente, há uns anos.
– Oh…
– Oh…?
A mãe estava ali, atordoada e em silêncio.
– Parece-me, mãe – disse Veronica, tentando conter as emoções –, que chegou o momento de me contares a verdade.
Capítulo 2
Leonardo enviou uma cópia do testamento por correio eletrónico e tentou concentrar-se nos desenhos da próxima coleção de inverno, mas não foi capaz. Não conseguia parar de pensar na chamada que acabara de fazer para Sidney, na Austrália.
Quem era a tal Veronica Hanson? Porque é que Laurence nunca lhe falara dela?
Porque lhe deixara villa e doara o dinheiro à investigação sobre o cancro?
Era um mistério.
Com um pouco de sorte, a mãe da menina Hanson poderia dar-lhes um pouco de informação.
Olhou para o relógio e percebeu que tinham passado menos de dez minutos. Infelizmente, não podia esperar que Veronica Hanson retribuísse a chamada tão depressa.
Suspirou. Sabia que não ia conseguir concentrar-se em nada até falar com ela. A paciência nunca fora uma das suas virtudes, mas não tinha outra alternativa senão esperar.
Embora não tivesse de esperar ali sentado.
Embora tivesse dito à menina Hanson que era um homem de negócios, e não podia negar que desfrutara de criar a sua própria empresa de roupa de desporto, continuava a ser um desportista, um homem de ação. E, na verdade, odiava estar fechado num escritório.
Decidiu sair para beber um café e sentiu-se melhor ao ar livre. O sol brilhava e havia uma brisa leve. Milão no fim de agosto era um lugar lindo, embora as ruas estivessem cheias de turistas.
Leonardo respirou fundo e foi ao seu café favorito, que estava um pouco escondido e que nunca tinha muitos clientes. Lá, o seu café expresso já o esperava quando chegou ao balcão. Bebeu-o com um gole, como de costume. A empregada sorriu e olhou para ele de forma insinuante. Era uma rapariga atraente.
– Grazie – agradeceu ele, voltando a pousar a chávena vazia no balcão e sorrindo brevemente, sem a mínima insinuação, pois não queria que a rapariga o interpretasse mal.
Na sua juventude, não teria deixado passar uma oportunidade assim, mas, por sorte, naquele momento, era capaz de controlar as hormonas. Além disso, tinha muito cuidado para não se deixar apanhar por uma caçadora de fortunas, como quase acontecera há alguns anos.
Saiu do café e dirigiu-se novamente para o escritório.
Pensou que nunca teria chegado a casar-se com aquela rapariga, mesmo que estivesse realmente grávida. Mesmo que o tivessem educado para que cumprisse as suas responsabilidades e os pais lhe tivessem dito repetidamente quando era jovem que, se engravidasse uma rapariga, teria de se casar com ela. E que, se não o fizesse, não valia a pena voltar para casa.
Leonardo adorava os pais e não teria suportado não voltar a vê-los, portanto, sim, teria tido de se casar. E teria amado o filho, mas a sua vida não teria sido como a planeara. Não queria casar-se nem ter filhos até se sentir pronto para isso. E, naquela época, não era assim.
Depois daquilo, nunca mais se esquecera de usar proteção.
E, como precaução acrescentada, só saía com mulheres independentes, que tivessem o seu próprio dinheiro. E cabeça.
Não tinha intenção de se casar até conhecer o amor da sua vida. Nunca sentira o que imaginava que devia sentir-se quando se estava loucamente apaixonado. Gostava de sexo, sim, mas, para ele, não havia nada comparável com a sensação de esquiar uma montanha coberta pela neve, sabendo que era mais rápido do que os seus adversários.
Leonardo suspirou. Tinha saudades daqueles tempos, antes de se lesionar e de ter de se reformar com vinte e cinco anos. Sim, como a menina Hanson dissera, fora um esquiador famoso. Mas a fama era efémera e já há sete anos que mudara de vida. Sete anos de sucessos, mas também de frustração. A Fabrizzi Sport Snow & Ski tinha sucesso e tornara-se um homem rico pelo seu próprio direito. Já não era apenas o neto mimado de um multimilionário.
Mas não se sentia satisfeito. Às vezes, sentia-se completamente vazio, independentemente do que fizesse.
E fazia muitas coisas. Continuava a esquiar no inverno, embora não competisse. Navegava e fazia esqui aquático no verão, praticava escalada e rappel. E, recentemente, tirara a licença para pilotar pequenos aeroplanos e helicópteros. As férias frequentes estavam repletas de atividade, mas, quando acabavam, voltava ao trabalho sem ter sido capaz de encontrar a serenidade.
Só relaxava quando estava em Capri, no terraço de Laurence, a olhar para o mar e a beber uma das garrafas excelentes de vinho do seu amigo.
Voltou a pensar na herdeira misteriosa de Laurence. Esperava que lhe ligasse em breve e lhe confirmasse que ia vender a casa. Porque não só a queria, como precisava dela.
Olhou mais uma vez para o Rolex e apressou-se a subir para o seu escritório. Não queria atender a chamada da menina Hanson na rua.
Capítulo 3
Veronica deitou-se na cama, dando voltas ao que acabara de descobrir e quase incapaz de processar os seus sentimentos. Não sabia se estava zangada ou terrivelmente triste. O que a mãe lhe contara tinha sentido e compreendia que tivesse prometido a Laurence que guardaria o segredo.
Contudo, o que mais a surpreendia era o testamento. O pai devia saber que traria problemas e que deixaria muitas perguntas por responder.
«O pai…»
Os olhos encheram-se de lágrimas. Tivera um pai. Um pai a sério, não um doador de esperma anónimo. Além disso, fora um cientista conhecido, um homem brilhante. Desejou que a mãe lhe tivesse contado há muito tempo.
No entanto, Nora dera a sua palavra e Veronica entendia. As boas pessoas cumpriam as suas promessas. Contudo, o pai estava morto e agora nunca poderia vê-lo nem estar com ele. Nunca poderia conhecê-lo.
– Estás bem, querida? – perguntou a mãe, da porta.
Veronica limpou as lágrimas e virou-se na cama para sorrir,