Desejo mediterrâneo. Miranda LeeЧитать онлайн книгу.
com Laurence Hargraves, que podia ter morrido sem revelar o segredo e sem lhe deixar nada em herança. Assim, ela teria podido continuar a viver calmamente na ignorância.
– Não te preocupes – disse à mãe. – Só não esperava isto.
– Eu sei. E lamento muito. Não entendo porque o Laurence te incluiu no seu testamento. De certo modo, foi uma simpatia, mas tinha de saber que descobririam a verdade.
– As pessoas fazem coisas estranhas quando estão prestes a morrer – comentou Veronica, que conhecia vários casos por causa do seu trabalho.
– Queres que te faça um café? – perguntou a mãe.
– Sim, obrigada – acedeu ela, embora sentisse vontade de estar sozinha. Precisava de pensar.
A mãe desapareceu e ela tentou imaginar os motivos por que o pai decidira dar-se a conhecer demasiado tarde. Teria dado tudo para ter tido um pai quando era pequena, quando estava na escola e os colegas se riam dela. Não era de surpreender que sempre tivesse procurado os seus melhores amigos nos rapazes.
O que a fez pensar noutro rapaz, já crescidinho, a quem tinha de ligar.
Leonardo Fabrizzi.
Não lhe apetecia nada contar-lhe que Laurence Hargraves era o seu pai biológico.
Contudo, a verdade era que tinha muitas perguntas para lhe fazer. Se era o seu testamenteiro, devia tê-lo conhecido bem. Talvez pudesse enviar-lhe alguma fotografia, para ver como era fisicamente.
Veronica não se parecia nada com a mãe. Nora Hanson era baixa, tinha o cabelo castanho, os olhos cinzentos e era uma pessoa que, em geral, não chamava a atenção. Veronica sempre presumira que se parecia com o pai biológico e, naquele momento, tinha a oportunidade de descobrir.
Então, teve uma ideia que fez com que se endireitasse bruscamente e corresse pela escada, para a cozinha, onde deixara o telemóvel.
– Ena! A quem vais ligar? – perguntou a mãe.
– Ao italiano de que te falei. O Leonardo Fabrizzi. Prometi-lhe que lhe ligava depois de falar contigo.
– Ah… mas não vais contar-lhe tudo, pois não? Quero dizer, que não tem de saber que és filha do Laurence, pois não? Não podes vender-lhe apenas a villa?
– Não, mãe – contradisse ela, com firmeza. – Vou dizer-lhe que sou a filha do Laurence. Para começar, porque os impostos são diferentes se for familiar. E, depois, porque não vou vender-lhe a villa assim tão rapidamente. Antes, quero fazer uma coisa.
– O quê?
E Veronica contou tudo à mãe.
Capítulo 4
Leonardo assustou-se ao ouvir, finalmente, o telemóvel e apressou-se sem saber porque é que, de repente, estava tão nervoso. Não era uma pessoa nervosa. A imprensa chamara-lhe Leo, o Leão, pela sua valentia e, quando se reformara da competição, escolhera esse animal como imagem da sua empresa.
– Obrigado pela sua chamada, menina Hanson – replicou, enquanto se sentava na sua poltrona de couro e tentava parecer tranquilo e profissional. – A sua mãe conseguiu contar-lhe alguma coisa esclarecedora?
– Sim – respondeu ela, num tom ainda mais profissional do que o dele. – Aparentemente, o Laurence Hargraves era o meu pai biológico.
Leonardo inclinou-se para a frente.
– Como?
– O senhor Hargraves veio à Austrália há uns trinta anos para fazer uns estudos genéticos na universidade de Sidney. Enquanto esteve aqui, ofereceram-lhe uma casa para que se alojasse e a minha mãe foi a governanta.
– E tiveram uma aventura? – perguntou Leonardo, com incredulidade, já que sabia que Laurence sempre sentira devoção pela sua esposa.
– Não, não. Embora a minha mãe tenha dito que se tornou amiga do Laurence durante os dois anos que trabalhou para ele. E também da Ruth que, aparentemente, era uma senhora maravilhosa.
– Então, não entendo.
– A minha mãe teve-me por fecundação in vitro. Pensava que o meu pai era um estudante letão que tinha cedido o seu esperma por dinheiro, mas era mentira. O doador foi o Laurence.
– Bom… Isso explica tudo, suponho.
– Sabia que a esposa do Laurence não podia ter filhos?
– Não exatamente. Só sabia que não os tinham, mas desconhecia o motivo.
– Aparentemente, na família da Ruth, havia muitos doentes de cancro e ela tinha decidido fazer uma histerectomia quando era jovem. Casaram-se muito apaixonados e o Laurence não se importou de não ter filhos. Bastava-lhe ter a Ruth e o seu trabalho. De facto, o seu trabalho foi o motivo por que se transformou no meu pai biológico.
– O que quer dizer?
– Quando a minha mãe contou ao Laurence que queria ter um filho por fecundação in vitro numa clínica em particular, ele mostrou-se horrorizado.
– Horrorizado? Porquê?
– Porque não se sabia o suficiente a respeito dos possíveis doadores. O Laurence avisou a minha mãe de que não havia informação sobre o historial médico, enquanto ele conhecia muito bem o dele.
Leonardo assentiu. Já entendia o que acontecera.
– Sim. Ao princípio, a minha mãe recusou-se, mas o Laurence convenceu-a.
– O Laurence conseguia ser muito persuasivo. Convenceu-me a gostar da música clássica. Portanto, compreendo que tenha conseguido convencer a sua mãe, dizendo-lhe que, assim, estaria certa de que o bebé teria bons genes, mas e a Ruth? Suponho que ela não soubesse de nada.
– Não. O Laurence insistiu que o mantivessem em segredo. E a minha mãe prometeu-lhe.
– Ena, visto assim, dir-se-ia que o Laurence foi bastante desumano.
– Era o que pensava, mas a minha mãe disse-me que não. O Laurence comprou-lhe a casa em que vivemos, mas teve de me criar sozinha. Portanto, o Laurence não quis incomodar a esposa, que não podia ter filhos, mas porque não entrou em contacto com a minha mãe e comigo quando ela faleceu? Porque preferiu que descobrisse que era o meu pai quando já tinha morrido?
– Lamento muito, não posso responder a essas perguntas, menina Hanson. Estou tão surpreendido como a menina. Pelo menos, deixou-lhe a villa em herança.
– Sim, também estive a pensar sobre isso. Porque me deixou uma villa em Capri? Devia ter um motivo. Conforme sei, era um homem muito inteligente.
Leonardo pensou no último dia em que falara com Laurence, mas não soube porquê. Pensaria calmamente nisso mais tarde.
– Talvez quisesse deixar-lhe uma coisa de valor – sugeriu.
– Nesse caso, porque não me deixou dinheiro?
– Eu pensei o mesmo, menina Hanson.
– Por favor, pare de me chamar assim, o meu nome é Veronica.
– Está bem, Veronica – concedeu ele, sorrindo. – Chama-me Leonardo. Ou Leo, se preferires.
– Prefiro Leonardo – disse ela. – Parece mais… italiano.
Ele desatou a rir-se.
– Sou italiano.
– A questão é que tomei uma decisão a respeito da villa. Agradeço-te a oferta, Leonardo, e vou acabar por ta vender, mas ainda não. Antes, preciso de descobrir tudo o que puder sobre o meu pai…
Capítulo 5
Veronica tinha um nó no estômago quando o ferryboat deixou