O príncipe cruel. Jane PorterЧитать онлайн книгу.
nem onde vivia. Nem sequer sabia por que tinha estado naquele iate com… amigos. Também não sabia se alguém tinha querido fazer-lhe algo ou se tinha sido um acidente. No entanto, sabia uma coisa: desejava-a. Acordava a pensar em Josephine e adormecia a pensar nela. Já não era uma criança e deveria ser-lhe fácil dominar o apetite, mas desejava-a tanto que teve de perguntar-se se já teria sentido o mesmo antes, se aquela avidez e impaciência eram típicas dele. Talvez a intensidade se devesse a tudo o que não sabia.
Leu os livros que encontrou na casa para pensar noutra coisa. Quando se cansava de ler, dava um mergulho ou deitava-se na areia, mas acabava sempre a pensar em Josephine. Queria vê-la e estar perto dela. Por isso, vestia uma das camisas do pai dela e ajudava-a no seu trabalho. Ajudava-a a tomar notas ou a regar a horta, o que quer que fosse desde que estivesse ao seu lado. Desejava as suas formas, o seu cheiro e o seu sorriso.
Era esperta, bonita, inocente e séria. Era singular, uma joia que resplandeceria entre as mulheres mais belas do mundo. Disse-lho um dia após um mergulho no mar e ela sorriu com timidez e um brilho trocista nos olhos.
– Obrigada pelo piropo, mas se levarmos em conta que não te lembras de nada, não sei se é válido.
– Não preciso comparar-te para saber que és inteligente e amável. Também és alegre e otimista e alegras-me a mim. E tenho a sensação de que não sou uma pessoa que fique contente facilmente.
– Isso é verdade, não estavas nada contente na praia com os teus amigos. Estavas sozinho e olhavas para o mar. Observei-te e desenhei-te…
– Desenhaste-me?
– Sim – Josephine corou. – É o que gosto de fazer quando tenho tempo livre.
– Ainda não te vi desenhar desde que estou aqui.
– Desenho quando tu não estás ou estás a dormir.
– E o que desenhas?
– Um pouco de tudo – ela corou ainda mais, – mas, sobretudo, a ti.
Ele ficava encantando porque os olhos dela pareciam mais verdes quando corava. Era tão natural e bela que lhe recordava uma sereia.
– Por que me desenhaste?
– Porque tu me fascinas.
– Porquê?
– Deves saber porquê – ela apertou os carnudos lábios. – Não me obrigues a dizê-lo.
Estava maravilhado com aqueles lábios, os dedos desejavam acariciar-lhe a face e percorrer-lhe os lábios… e reparou que estava a ficar… duro.
– Parece que o golpe na cabeça me deixou um pouco tonto. Por favor, explica-me o que tenho para fascinar-te.
– Vou dizer-te só uma vez.
– Estou a ouvir.
– És insuportavelmente atraente…
– Insuportavelmente?
– És muito inteligente.
– Voltemos ao atraente. Pode ser-se insuportavelmente atraente?
– Sim, tu já o demonstraste. Deixa-me continuar. Tens sentido do humor… quando queres.
– Isso parece-me um inconveniente… ser imprevisível.
– Tens amigos ricos. O iate era imenso, mas isso é negativo.
– Porquê?
– É desastroso do ponto de vista ambiental.
– Estou de acordo.
– Estás de acordo? – perguntou ela, arqueando as sobrancelhas.
– Sim. Sempre me preocupei com o ambiente.
– A sério?
Ele assentiu com a cabeça e ela franziu levemente as sobrancelhas.
– Interessante… – murmurou ela.
– Porquê?
– Começas a saber algo de ti mesmo. Acho que estás a recuperar a memória e isso é bom.
Ele sentiu uma pontada de inquietação e não soube porquê. Recuperar a memória deveria ser fantástico, mas tinha medo.
– Vamos falar de ti.
– Porquê? Sou uma estudiosa chata…
– Não és chata e as mulheres estudiosas são apaixonantes.
– A sério? – perguntou ela entre risos.
– Fui à escola com mulheres inteligentes e não há nada mais sensual do que uma mulher inteligente…
Ele parou ao dar-se conta do que tinha dito.
Não se tinha referido à escola preparatória ou secundária, referia-se à universidade e sabia que chamar-lhe «escola» era muito típico dos Estados Unidos. Teria frequentado a universidade nos Estados Unidos? Notou que Josephine também se tinha apercebido.
– Estás a recuperar a memória – comentou ela baixinho e com emoção.
– Estás a curar-me. O sol, os banhos…
– Não há muito para fazer – ela sorriu. – Não há televisão ou videojogos.
– Acho que nem que os tivesses os usaria. Tu adoras estar ao ar livre e moves-te no mar como um peixe.
– Vivi sempre junto ao mar. Primeiro no Havai e depois aqui. Não consigo viver sem dar um mergulho. Se passar muitos dias sem molhar-me sinto-me abatida. O mar devolve-me à vida.
– És um peixe.
– O meu pai diz o mesmo – ela riu-se. – Diz que tenho escamas e que se secam se não me banhar.
– Bom, é possível que não sejas um peixe, mas uma sereia.
– É possível.
Josephine sorriu com timidez. Tudo estava a mudar por dentro, não podia fingir que ele não a afetava, não podia fingir que não havia tensão entre eles porque olhava para ela com uma intensidade que a fazia ficar sem respiração e com o coração na boca, um olhar que a aterrorizava e, ao mesmo tempo, emocionava. Estar ao seu lado era excitante e desconcertante, ninguém a tinha olhado como se fosse importante, ninguém tinha feito com que se sentisse tão bela. A cada conversa, ele fazia sentir-se mais viva e não percebia porquê, já que não conversavam sobre nada pessoal. Ainda assim, fascinava-a.
Tinha-a fascinado quando era um desconhecido misterioso na praia e esse fascínio tinha aumentado a cada dia porque como era possível que alguém tão impressionante a desejasse?
Além disso, estava a gostar de sentir-se desejada, levando-a a repensar todas as suas crenças. Acreditara sempre que nunca teria relações sexuais com alguém que não fosse o homem com que partilharia o resto da sua vida. Ao olhá-los nos olhos, parecia-lhe que poderia perder algo que só aparecia a uma pessoa uma vez na vida.
Além disso, essa atração era mútua. O seu olhar indicava que a desejava e o facto de ela saber isso era embriagante, era um afrodisíaco. Que sentiria se além disso ele a acariciasse e a beijasse? Não se questionou sobre nada mais porque só se tinha dado um par de beijos na sua vida e não lhe tinham parecido nada de especial, só a tinham levado a concluir que não precisava de repetir a experiência. Até àquele momento. Tinha a sensação de que beijar aquele desconhecido misterioso seria algo completamente diferente que poderia, até, mudar-lhe a vida. Era o que queria?
Olhou para o desconhecido, que já não era um desconhecido e se estava a tornar alguém muito importante para ela. Tinha vivido demasiado tempo sozinha ou com o seu pai, que falava muito pouco e estava sempre absorto no seu trabalho. Percebia que o seu pai estivesse dedicado à investigação, mas ela, de vez em quando, queria algo mais. Queria que a vissem, que a reconhecessem, que… a amassem. Normalmente, sentia-se mais assim à noite e culpava o cansaço, mas, ultimamente,