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Meu Irmão E Eu. Paulo NunesЧитать онлайн книгу.

Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes


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Oi, maninho. Parabéns! Papai está na sala. Ele quer falar com você a sós. Posso trazê-lo aqui? — perguntou, beijando-me o rosto, enquanto me parabenizava.

      — Não! De jeito nenhum! O que ele quer comigo? Não vou ficar sozinho com ele, Marcus! — respondi, agitado.

      — Calma. Calma. Vou dizer a ele que você vai até a sala e que conversam lá. Certo? — perguntou, tentando me tranquilizar.

      — Você e Núbia podem ficar comigo? — perguntei, pedindo.

      — Claro, maninho. Não se preocupe. Não vai acontecer nada. Vá se vestir. Nós o esperamos lá. Vamos, Arthur?

      — Não! Arthur vai comigo! — disse eu.

      Depois de vestir minhas sandálias de dedo e meu roupão, segurei na mão de Arthur e me dirigi à sala. A cada passo que dava, apertava a mão do meu sobrinho com mais força. Estava nervoso, e curioso, também. Meu coração estava acelerado e eu podia ouvir seus batimentos descompassados. Já na sala, vi Marcus e Núbia sentados no sofá, diante de um homem maduro, vestido elegantemente. O homem usava terno e gravata azul marinho. Seus sapatos eram brilhosos. E seu cabelo estava penteado classicamente. Ao fundo da sala, vi um homem de branco, que estava em pé, de costas para mim, olhando a rua através da vidraça da janela. Era papai. O silêncio só foi rompido, quando o homem de terno azul levantou-se e disse:

      — Senhor Barrys, bom dia! Feliz aniversário! Chamo-me Alexander Walker. Sou advogado da House’s Barrys. Seu pai e eu queremos falar com o Senhor — disse educadamente, estendendo e apertando minha mão.

      — Obrigado, Senhor Walker. Mas, por favor, chame-me de Gaius — e soltei a mão dele, tornando a segurar a de Arthur.

      Nesse momento, papai se virou para mim. Meus olhos ainda contemplavam as feições sérias da sua face, quando o movimento da mão dele me desconcentrou. Ele apoiava o corpo com as duas mãos na bengala de carvalho, e mexia, vagarosamente, os dedos de uma mão sobre a outra. Seu olhar era ríspido, e não estava diferente da última vez que nos vimos. Meu Deus, ele está com aquela bengala! Pensei. Quando vi aquele objeto na mão de papai, minha mão suada esmigalhou a mão de Arthur. Minha pupila dilatou. Estava com muito medo.

      — Sente-se, Gaius. Alexander quer falar com você — disse papai, rispidamente.

      — Estou bem assim, Senhor Walker. Pode falar — respondi, com a voz trêmula, tentando mantê-la firme.

      O advogado caminhou até o sofá e apanhou nas mãos uma pasta de documentos e, em pé, disse:

      — Gaius, hoje você completa dezoito anos e, como deve saber, todo cidadão norte-americano, a partir desta idade, é considerado responsável por todos os seus atos diante da nossa legislação, como também pode assumir qualquer benefício ou herança que seja devida a ele sem a necessidade de um tutor financeiro. Estou aqui, hoje, porque é desejo de seu pai entregar a você a sua parte da herança, mais uma porcentagem mensal nos lucros da House’s Barrys. Antes de falarmos da herança, preciso explicar que a House’s Barrys é um conglomerado de empresas imobiliárias de capital societário familiar, de nível internacional, ou seja, ela foi construída unicamente com o dinheiro da sua família e, hoje, está presente em todos os continentes. E os únicos acionistas dela são o seu pai, seu irmão e você. Com o falecimento da sua mãe, a parte financeira que cabia a ela, ou seja, cinquenta por cento da empresa, mais todos os bens que foram adquiridos durante o casamento, foram divididos em duas partes, metade para você, e metade para seu irmão. O Senhor Marcus Barrys já recebeu a parte da herança da sua mãe. Como você era menor de idade à época do falecimento dela, seu pai tornou-se seu tutor financeiro, ou seja, ele administrava seu dinheiro até que atingisse a maioridade. Como hoje você está completando dezoito anos, estou aqui para entregar a você a metade da herança da sua mãe, e para explicar os lucros mensais que você tem direito da House’s Barrys. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou ele.

      — Não. Pode continuar — respondi, sem entender direito o que estava acontecendo.

      — Sua mãe faleceu em junho do ano passado. Desde que o trâmite para distribuição da herança dela ficou pronto, os lucros da House’s Barrys, que eram devidos a você, estavam sendo enviados a uma conta bancária. O titular dessa conta era seu pai, mas o nosso escritório já fez a mudança de titularidade e, agora, a conta está em seu nome. Todos os valores foram transferidos e já estão disponíveis para você. Todos os meses, até o décimo quinto dia útil do mês, após o fechamento do balanço financeiro do mês anterior, as quantias devidas a você, ao Senhor Marcus Barrys e ao Senhor Barrys são automaticamente enviadas às respectivas contas. Do mês de junho do ano passado até este mês, foram enviados pouco mais de trezentos milhões de dólares para sua conta, o que nos faz constatar que a média de lucro mensal da House’s Barrys por acionista é de pouco mais de três milhões de dólares, visto que foram contabilizados para você um total de dez meses de lucros acumulados. Esse valor está sujeito ao rendimento mensal da empresa, e é dividido igualitariamente entre o seu irmão, seu pai e você. Estamos falando de valores líquidos, e não brutos. Você tem alguma dúvida até aqui? — perguntou novamente.

      — Não. Pode prosseguir.

      — A House’s Barrys, à época do falecimento da sua mãe, estava avaliada em dezenas de bilhões de dólares. Com a distribuição que precisou ser feita, alguns bilhões foram divididos entre você e seu irmão. E o restante é direito do seu pai. No caso de falecimento dele, toda a herança do seu pai, segundo a vontade dele, será destinada exclusivamente ao Senhor Marcus Barrys. Com o falecimento do seu pai, você não herdará nenhuma quantia da House’s Barrys, mas continuará como acionista e receberá os lucros mensais que são a herança da parte da sua mãe. Você está compreendendo o que digo? — perguntou mais uma vez, franzindo a testa, esperando minha resposta.

      — E por que não herdarei nada quando papai falecer?

      — Esse é um desejo do seu pai, e a lei norte-americana assegura o que ele quer fazer com a herança dele.

      Senti uma pontada no coração.

      — Pode continuar — disse, tentando parecer indiferente.

      — Muito bem. Concluindo, estou dizendo a você que na sua conta dos lucros, somados os meses de junho do ano passado até este mês, estão disponíveis pouco mais de trezentos milhões de dólares. A parte da sua herança também já está disponível, ou seja, os bilhões que foram divididos entres vocês três com a morte da sua mãe. Caso tenha alguma dúvida sobre a divisão, o Senhor Marcus Barrys poderá explicar melhor, pois isso envolve assuntos de natureza particular da sua mãe e do seu pai. Somando tudo, hoje está disponível na sua conta algumas dezenas de bilhões de dólares para você, que é o resultado dos lucros acumulados de dez meses mais a sua parte na herança deixada por sua mãe. E lembro que os seus rendimentos mensais continuarão sendo enviados a você, mesmo com o falecimento do seu pai e seu irmão. Você detém vinte e cinco por cento das ações da House’s Barrys. E isso continuará até quando você falecer ou decidir vender suas ações. Você tem alguma dúvida? — perguntou.

      Eu não sabia para onde olhar. Papai me encarava e o advogado esperava uma palavra minha. O que digo?

      — Marcus, posso falar com você um instante? — e soltei a mão de Arthur, dirigindo-me ao meu quarto.

      Lá, perguntei ao meu irmão se ele sabia o porquê de tudo aquilo. Disse-me que papai tinha feito a mesma coisa com ele. Eu perguntei se podia confiar no que o advogado estava dizendo, se não corria o risco de estar sendo enganado. Meu irmão me explicou resumidamente:

      — Maninho, escute o que vou dizer. A empresa valia bilhões. Papai conseguiu o valor que a empresa valia com os bancos. Esse valor ele dividiu em três, a parte dele, a minha e a sua. A parte dele, ele devolveu ao banco e até hoje paga mensalmente o saldo até liquidar a dívida. A minha parte, ele já me deu. E, agora, ele está dando a sua parte...

      — Mas a parte da herança da mamãe, depois que ela morreu, não deveria ficar com papai? — perguntei, interrompendo-o.


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