Meu Irmão E Eu. Paulo NunesЧитать онлайн книгу.
é o aniversário dela. Estamos pensando em ficar um pouco sozinhos, sabe? Ela até já conseguiu para que Arthur fique na casa de uma amiga dela na segunda e na terça. Mas se você quiser ir conosco, tudo bem. Só acho que você não vai gostar.
Estava claro que meu irmão sugeriu, educadamente, que eu não fosse com eles. Que saco! Pensei. Na noite de quinta-feira, depois do jantar, despedi-me deles, visto que iriam sair antes do nascer do sol. Dei um beijo em cada um e fui dormir. Na manhã de sexta-feira aproveitei para organizar alguns livros e jogar fora os cadernos do colegial. Graças a Deus que acabou! Pensei. Eram quase 13h, quando resolvi fazer um sanduíche para almoçar: pão integral, pasta de espinafre com ricota e tomate seco. O sono me chamou, e me entreguei a ele. Eram quase 17h, quando o telefone da sala me acordou. Por que não fechei a porta do quarto, meu Deus?
— Oi. Oi, Aidan. Como vai? — disse, ainda sonolento, ao atender.
Ele comentou que tinha convites para a inauguração de uma confeitaria, no centro de Manhattan, e que passaria às 19h para nos pegar.
— Aidan, meu irmão não está aqui. Ele viajou com Núbia para Connecticut.
Perguntou-me se não queria acompanhá-lo. E, brevemente, respondi:
— Desculpe, Aidan. Fica para outro dia. Tchau — e desliguei.
Corri ao meu quarto e me atirei na cama. Voltei a dormir. Era uma melodia suave, de ritmo constante, mas insistente. O que é isso? Pensei. A campainha da porta tocava insistentemente. Não acredito. Que saco! Acordei.
— Já vai! Calma! — gritava, irritado, encaminhando-me à porta.
Era Aidan. E quando me viu, logo levantou a mão para me mostrar os doces que trouxe.
— Trouxe para você — disse ele, beijando-me o rosto e entrando no apartamento, dirigindo-se para a cozinha, antes que eu o convidasse a entrar.
Tomou um prato, dispôs sobre a mesa, abriu o embrulho e tirou três sonhos americanos recheados com doce de leite. Hum! Adoro doce de leite! Estou com fome. Que horas são? Pensei.
— Obrigado por vir, Aidan. Desculpe, mas não vou lhe acompanhar na inauguração da confeitaria.
Ele sorriu.
— Ei, garoto! A inauguração já acabou. Já são quase 22h.
Como eu dormi, meu Deus! Pensei.
Estávamos ali, comendo sonhos e conversando. Ele me perguntava o que fiz o dia todo, e depois me contou que seu pai, o Senhor Daan, tinha se sentido mal naquela semana. Explicou-me que, com a idade que o pai tinha, não podia mais beber e fumar como fazia antes. Aliviado, falou que foi apenas um susto, mas que o ocorrido tinha chamado sua atenção para a saúde do pai. Foi quando percebi que os sonhos acabaram.
— Não tem mais? — perguntei, sorrindo.
— Se quiser, vou comprar mais para você — ofereceu-se, gentilmente.
— Não precisa. Estou brincando. Vou tomar banho e depois assistiremos a um filme. Certo? — perguntei, dando as costas e caminhando ao meu quarto.
— Espero-o — respondeu, com a voz alta para que o ouvisse.
— Tem bebida na geladeira! — gritei, já tirando a roupa e entrando no chuveiro.
Rapidamente, sequei meu corpo e vesti um calção de pijama branco, penteei os cabelos e pus o meu Luna Rossa. Hum! Adoro Prada, meu Deus! Pensei. Chegando à sala de estar, já o encontrei sentado no sofá com a cabeça recostada e os olhos fechados. Os braços estavam apoiados nas almofadas e ele tinha uma cerveja à mão. Estava descalço, com as pernas abertas e tinha desabotoado os dois primeiros botões da camisa. Ele vestia uma calça sarja cáqui e uma camisa social de manga longa branca. Parei e o olhei. Não conseguia não olhar. E, enquanto meus olhos passeavam vagarosamente por aquele corpo exuberante, seu rosto encontrou o meu, e, abrindo os olhos, penetrou-me ele a pupila com seu olhar. Minha respiração parou. Meu coração acelerou e a adrenalina se apossou de mim. Oh, meu Deus! Estou com tesão! Pensei.
— Oi! Sente aqui. O que quer ver? — perguntou, calmamente, ainda me olhando.
— Não sei. Gosto mais dos filmes do streaming que da TV a cabo — respondi, sentando sobre minhas pernas no sofá ao lado dele.
Tomei o controle remoto e procurava algo para assistirmos, quando vi Patrick Dempsey na capa de uma comédia romântica.
— Adoro esse filme! — comentei, empolgado.
Ele sorriu.
— O que foi? Você não gosta? — indaguei.
— Achei que poderíamos ver um filme policial, mas tudo bem.
— Assistimos a este e, depois, a outro. Certo?
— Como você quiser — comentou, conformado com a minha escolha.
Fiquei feliz por Aidan ter aparecido. Estava me sentindo sozinho. Lembro-me que não gostava da ideia de passar tanto tempo sem o meu irmão. A presença dele me dava uma sensação de segurança. Estar com ele, naquela noite, era quase como estar com o meu irmão.
— Quer outra cerveja? — perguntei.
— Você não vai beber? — indagou ele.
— Não bebo.
— Você tem quantos anos mesmo?
— Dezesseis. Faço dezessete em março.
— Qual é o dia?
— Vinte e dois. Aidan, quer deixar eu assistir ao filme? Que coisa! — falei, querendo rir.
— Tá! Não falo mais. Vou pegar uma cerveja — e levantou-se sorrindo, caminhando até a cozinha, olhando para trás com aquele sorriso doce nos lábios.
Quando ele saiu, estiquei minhas pernas no sofá e deitei-me, apoiando a cabeça numa almofada, pertinho do lugar onde ele estava sentado. Retornando, ele disse:
— Levante a cabeça, por favor.
Forcei meu corpo para frente, ainda olhando para a TV. Ele sentou-se e disse baixinho:
— Pode deitar.
Concentrado no filme, inclinei meu corpo para deitar-me e percebi minha nuca repousando nas coxas dele. O quê? Estou no colo dele? Oh, meu Deus! Pensei. Ele logo tomou mais um gole de cerveja e a deixou na mesinha do telefone, ao seu lado direito. Respirou fundo e pôs a mão em meus cabelos, massageando-os levemente com a ponta dos dedos. Eu estava estático. Não conseguia falar. O coração a mil. Nenhum de nós falava nada. Ao longe, ouvia-se um barulho, parecia um toque de celular, mas não sabia ao certo. Será meu celular? Pensei. Depois não ouvi mais. Ainda com suas mãos por entre meus cabelos, percebi que ele me olhava e respirava aceleradamente. Parecia nervoso. Eu estava ansioso, e não conseguia me mover. O telefone fixo do apartamento, ao lado dele, desconcentrou-me. Tentei mover-me para atender, mas ele segurou minha cabeça e falou baixinho:
— Não, não. Fique aqui. Fique assim. Eu atendo — esticando a mão e tomando o telefone.
Era Marcus. Aidan perguntou como estava a viagem, e comentou que tinha passado no apartamento para saber se eu estava bem. E, ainda, que estávamos assistindo a um filme. E finalizou, perguntando quando ele voltaria.
— Claro! Vou passar o telefone para ele. Um abraço, meu amigo — encerrando a conversa com Marcus, dando-me o telefone, enquanto tomava mais um gole de cerveja.
— Seu irmão quer falar com você — sussurrou.
Já comecei dizendo que estava com saudade e que queria que ele me trouxesse um presente. Marcus me perguntou se Aidan iria dormir no apartamento, e eu disse que não sabia, mas achava que não. Ele lembrou-me que, se ele fosse dormir lá, poderia usar o quarto dele, avisando-me que no closet havia lençóis limpos. Disse, ainda, que estava com saudades, e prometeu que voltaria na quarta ou quinta.
— Se precisar de alguma